We’re Not Robots

Me lembro que anos atrás uma propaganda de algum centro de idiomas brincava com outra rede sobre o fato de os alunos ficarem repetindo coisas feito papagaios, mecanizados. De fato, essa metodologia neurolinguísta tem suas vantagens, mas o processo de aquisição de linguagem precisa de mais. Nós aprendemos e desenvolvemos nossa fala através de repetição, imitação do que adultos falam sem necessariamente sabermos se é possível estender aquele padrão para outros exemplos da língua. Crianças fazem isso até seus 5 anos de idade em média e jovens adultos que aprendem uma língua estrangeira também apresentam o mesmo comportamento. Mas nós não somos robôs.

O que acontece com crianças e alunos de inglês como língua estrangeira é que frases formuladas são ensinadas e entendidas, no entanto nossos alunos tendem a querer utilizar o mesmo padrão linguístico para criar outras respostas. Ou seja, os alunos entendem perfeitamente a intenção comunicativa daquela frase fixa, mas eles têm tendência de querer entender as características comunicativas de cada elemento da frase e por isso vão, através de tentativa e erro,  migrando esses elementos para suas produções diversas até que eles recebam um feedback positivo e aprendam a forma mais apropriada, caso haja uma. Vamos ver se conseguimos ilustrar o que nossos alunos fazem e vejam se vocês reconhecem esse tipo de comportamento e se já passaram por algo do tipo.

(1) Thank you.

(2) Don´t mention it.

O que temos em (1) e (2) são pares comunicativos comuns de agradecimento e reconhecimento. Porém, o que nossos alunos, sejam eles crianças e adultos (menos em adultos), vão tentar fazer é entender cada elemento frásico e utilizá-los, de alguma maneira, em outros contextos que talvez não sejam adequados. Por exemplo, pode ocorrer a associação de que mention seja sinônimo de say e então pode causar confusão quando nosso alunos quiserem agradecer como podemos ver em (3) e (4).

(3) Thanks.

(4) #Don’t say it.

Ok. Repetir feito papagaios não é legal só que também não podemos nos esquecer de que o tempo de aula é bem reduzido. Como trabalhar, então, expressões linguísticas fixas tipo thank you, how are you doing, long time no see you, etc? Vamos ver se a gente consegue desenvolver uma prática legal então. Podemos utilizar fotos ou figuras de pessoas famosas variando entre políticos, artistas da TV e cinema, cantores para serem utilizadas no começo da aula no momento do aquecimento (warm up) para que nossos alunos digam quem são, o que fazem e percebam a importância de posição que cada um possui. Com isso, passamos delicadamente a noção de formalidade. Para trablharmos  o par thank you/you’re welcome e suas variáveis, induzimos o aluno a produzir o que ele já sabe para agradecimentos: pressupondo conhecimento para you’re welcome. Então oferecemos uma nova maneira com don’t mention it e passamos para a fase de prática.

Para fazer nosso alunos praticarem, podemos separá-los em duplas e, através de uma pré-produção colando fotos de rostos de pessoas famosas embaixo das carteiras dos alunos, diga para eles colocarem as “máscaras” e peçam coisas uns aos outros. Assim eles vão se divertir e praticar sem parecerem robôs. Caso algum aluno faça confusão, como no caso que mencionei no começo deste texto, estaremos atentos para que os alunos não produzam de maneira mecanizada. Afinal, o único robô que consegue falar a mesma coisa por anos e fazer sucesso é o exterminador do futuro em seus filmes.

Aprendendo A Falar Com Os Jurássicos

Eu sou um nerd. Tenho coleção completa de história em quadrinhos do Wolverine, edições especiais de X-men e muitas outras. Adoro filmes de ficção científica – Star Wars pra mim é motivo de emoção. Lendo blogs sobre esse mund nerd, aprendi que quando se comenta algo que contenha spoilers é importante avisar que o artigo contém esse tipo de informação. Portanto, este artigo contém spoilers. Caso queira continuar a ler, fica por sua conta e risco.

Gostaria de tomar a liberdade e escrever um pouco mais sobre o processo de aquisição do que necessariamente sobre ensino de língua inglesa, embora haja uma conexão muito estreita entre esses assuntos. Todos que costumam ler os artigos publicados sabem que sou um estudioso fervoroso do conceito do usage-based learning de Michael Tomasello. Eu jamais havia escrito nenhum artigo inteiramente sobre esse conceito, mas hoje vou conversar mais sobre isso. O usage-based learning é uma corrente linguística contemporânea que mistura duas propostas linguísticas mundialmente consolidadas: o gerativismo, com a ideia da gramática universal e o interacionismo, com as relações interpessoais. Tomasello entra com seu estudo no início do século 21 com a ideia de se juntar ambas correntes uma vez que elas se complementam.

O conceito de que possuímos uma gramática universal cai por terra ao tentarmos colocar uma simples frase dentro desse estudo. Como será que os gerativistas justificariam seu ponto de vista ao analisarem a existência e utilização da expressão “pipoco do trovão”? Se colocarmos dentro de uma oração completa teremos:

(1) Aquele bar, de sexta à noite, é o pipoco do trovão.

A frase em (1) é totalmente gramatical, mas para que ela faça sentido é necessário que alguém seja de Alagoas, conheça alguém de Alagoas, tenha viajado pra Alagoas ou  que tenha conversado por muito tempo com uma amiga de Alagoas – meu caso. De acordo com o estudo de aquisição de linguagem gerativista, essa formação de frase é perfeitmante aceitável e possível de acontecer a partir de uma possível gramática interna inerente aos seres humanos. Mas… onde entra a parte semântica de (1)?

As interações sociais se encarregam de fazer com que a troca de informações contidas na fala ganhe sentido. Por exemplo, a primeira vez que alguém falou pra mim “o pipoco do trovão”, a pessoa teve que explicar  o que a expressão significava pois, até então, ela não fazia sentido algum, embora eu reconhecesse que ela estava falando português. No entanto, o que os estudos de relação interpessoal no processo de aquisição de linguagem diminuem é o papel das funções cognitivas (superiores) no que diz respeito a decodificação tanto fonética quanto semântica/pragmática da fala a qual o interlocutor se expõe.

Mas para entender o que o Tomasello propõe com seu estudo de usage-based learning, basta assistir o novo filme do Parque Dos Dinossauros – Jurassic World. Exatamente, além de ser um filme incrível – eu senti a mesma emoção que senti no primeiro filme dos anos 90 – o novo filme do Spielberg tem um viés linguístico muito interessante. Não, os dinossauros não falam no filme. Barney ainda continua sendo o único jurássico que fala nossa língua, embora as pequeninas criaturas do filme se comuniquem, sim.

Pois vamos lá. No filme, os velociraptors são treinados, como se treinam os cachorros. Eles utilizam a cognição para associar a voz do treinador, os comandos, ou seja os dinossauros não somente ouvem o que é falado, mas também entendem o que aquela produção de sons emitida pelo protagonista (humano) do filme quer dizer com os assovios, os cliques de seu clicker e linguagem corporal. Os velociraptors no filme simplesmente aprendem numa sucessão de tentativa e erro, assim como nós aprendemos a falar. Quando crianças ouvimos, reproduzimos e somos frequentemente reforçados, corrigidos até que um determinado momento de maturação cerebral passamos a falar adequadamente com os registros adequados também.

Se os velociraptors não tivessem interagido com seu treinador, de nada adiantaria sua cognição pois tudo que ele falasse ou gesticulasse não faria sentido para os dinossauros, como não fez sentido pra mim ouvir “o pipoco do trovão” pela primeira vez. Foi exatamente o que o filme mostrou. Existe um dinossauro na trama que foi criado geneticamente em laboratório, mas não teve nenhum tipo de contato social nem com os humanos visitantes do parque, nem com outros dinossauros. Esse dinossauro de laboratório não reconhece os comandos do treinador pois não existe associação, conexão entre a experiência social (inexistente) e a inteligência que o dinossauro possui.

Claro que se trata de uma visão fictícia, mas que ilustra bem o processo de aquisição de linguagem segundo o estudo de Tomasello de usage-based learning. Precisamos estar expostos para que a gente use nossa cognição e então, aos poucos, tentarmos reproduzir a fala. Em nossas aulas de inglês também podemos estimular essa prática dentro da sala. Claro, se não quisermos que nossos alunos se tornem um dinossauro revoltado e saia fazendo estragos pelo parque.

Volta Ao Mundo Com A Língua Inglesa

Conhecer o mundo. Saber que no Japão existem dois pauzinhos para comer, saber que a Índia tem um ponto de vista religioso diferente do nosso, saber que a Alemanha já foi dividida por um muro, saber que no Brasil (sim, nossa casa) existem estados sem praia. Todas essas informações interferem no processo de aquisição de língua estrangeira e termos alunos sem acesso a esse conhecimento ou não motivá-los a buscar adquirir esse conhecimento contribui, negativamente, com o desempenho muito fraco dos alunos brasileiros em língua inglesa. Chegou a hora de mudar isso.

Vocês podem me perguntar “qual a relação entre aprender inglês e saber que a Finlândia pode passar 6 meses sem céu azul”? Toda. Começa pela conscientização de que o mundo é maior que a comunidade em que o aluno vive, de que existem lugares em que as pessoas são diferentes e que falam línguas diferentes. Portanto, saber que em outros lugares, pessoas não falam “que da hora” como referência a algo muito legal tem total relevância com o ensino de inglês e o próximo livro da Professora Cláudia Zuppini para formação de professores vai abordar esse tema. Pros alunos que têm a língua inglesa mais consolidada – ou àqueles que têm um pouco mais da noção da língua – fica mais facilitado o trabalho de se transferir o “da hora” pra “that’s awesome” conforme falamos no artigo sobre uso da língua materna no ensino de inglês. Mas para os alunos que ainda estão iniciando o caminho da aquisição – nossos alunos mais novinhos – nosso trabalho complica, pois eles não possuem tal conhecimento do mundo em função da pouca idade e, às vezes, o fator socio-econômico não permite que esse conhecimento desabroche. Portanto, precisamos fazer dois trabalhos em um: levar aos alunos o conhecimento de mundo e transformá-lo em conhecimento linguístico, fazer com que eles, desde pequenos, saibam que o mundo é gigantesco e que saber a língua inglesa pode tornar nosso planeta tão próximo quanto aquele vizinho barulhento.

Como fazer com que os lugares do mundo fiquem próximos de nossos alunos sendo que é complicadíssimo fazer com que todos eles vejam e conheçam a Torre Eiffel, por exemplo? Fácil! Bastam uma cartolina e uma tecnologia de realidade virtual de ponta. O Google tem investido bastante na sua área educacional e acabou de promover o Expeditions, cardboard de realidade virtual em que os alunos conseguem “visitar” qualquer lugar do mundo. Vamos pensar em uma atividade com nossos alunos do Ensino Fundamental I. O grande objetivo de nossas aulas de inglês é fazer com que os alunos falem (claro que a leitura e a escrita também são muito importantes), então se usarmos essa tecnologia e mandarmos a criançada fazer uma expedição ao zoológico de Nova Iorque, trabalharemos a aquisição de novos vocabulários, mas de maneira bem contextualizada e inseridos na estrutura sintática da língua inglesa. Podemos dividir a aula em duas – uma vez que as aulas de inglês não têm incentivo e sua carga horária é pífia. A primeira aula, podemos usar o tempo para os dois primeiros Ps: presentation, para apresentar o conteúdo que, no caso são os animais e seus sons. Depois os alunos podem praticar com a ajuda de flashcards mostrados pelo professor em que eles dizem os nomes dos animais com os sons que cada um faz, claro, em inglês. Até aí tudo muito simples e até trivial. Pois é na fase de Performance, durante a outra aula da semana, que o Google Expeditions entre em destaque. Após a aula de apresentação de alguns animais e sons que eles produzem, peça aos alunos para “visitarem” o zoológico de Nova Iorque para conhecer os mais diversos animais do mundo e apresentar pra turma os animais mais legais e os sons que eles fazem e como follow-up, o professor pode oferecer nessa atividade é comparar os nomes dos sons dos animais do Brasil com as onomatopeias na língua inglesa.

O mundo é grande e precisamos tentar mostrar o máximo que pudermos aos nossos alunos. O conhecimento além comunidade em que eles vivem, além de mostrar que existem outras línguas, estimula os alunos a se comunicarem e, no caso do inglês, além de ser uma das línguas com as quais os alunos podem ter contato, é um idioma internacional. Viajar pelos quatro cantos do mundo é impossível com todos nossos alunos, mas a tecnologia veio para ajudar. Façam seus alunos conhecerem outras culturas, isso vai despertar uma conscientização global neles que vai ajudar no processo de aquisição de língua estrangeira.

Aulas Bem Estruturadas Te Dão Asas

Eu já comentei em outros artigos sobre a importância de se aderir a estrutura dos 3Ps na realização do lesson plan, mas nunca fui mais ao fundo nesse assunto porque senão isto não seria um simples artigo de 450, 500 palavras, mas sim um livro. No entanto, é possível detalhar essa estruturação com o sistema locutor / inerlocutor de Lecercle e como isso promove a autonomia de nossos alunos – afinal a moda outono / inverno de 2015 é a autonomia.

A estrutura de comunicação de Lecercle (1999) prevê que um locutor utilize sua cognição para organizar sua fala e produzi-la. Toda essa informação linguística – combinação fonética, estrutura sintática, escolha lexical, intenção, etc – chegam até o interlocutor que tem a função de decodificar o que está sendo falado, entender a informação e formar sua réplica assim que chega sua vez de falar. Todo esse sistema transforma o listening em uma habilidade ativa e podemos fazer o mesmo com os alunos em sala da aula (por isso sou insistente em dizer que os professores façam seu plano de aula e não se debrucem em materiais didáticos). Fazer com que os alunos escutem e produzam oferece oportunidade para que eles utilizem suas funções superiores (cognição) para entender o que está sendo falado com eles e produzam, e essa produção é o passo principal para, cada vez mais, fazer com que os alunos tenham liberdade para trabalhar.

A grande sacada para fazermos com que nossos alunos tenham mais e mais autonomia, e autonomia aqui me refiro à utilização da língua inglesa para desempenharem tarefas, é estruturar bem a aula. O Brasil está engatinhando na implementação da cultura student-centered, mas podemos começar a promover essa ideia e a estruturação das aulas em Presentation, Practice e Performance deixa natural a atribuição da liberdade para os alunos realizarem suas tarefas que serão desenvolvidas para atender suas necessidades. Para não deixar este texto muito longo e correr o risco de fazer você dormir ou perder o interesse e ligar a TV – eu, pelo menos, morro de sono quando textos que não são acadêmicos são longos – vou colocar o holofote sobre o último P, a Performance. Essa fase é o momento em que nós professores nos preocupamos em fazer os alunos trabalhar livremente. Debates, role plays, games, etc, são algumas das tarefas que promovem autonomia dos alunos pois, após uma fase de prática, podemos oferecer desafio aos alunos com tarefas em qua a comunicação em inglês seja primordial para que a atividade tenha êxito. Nosso papel nesse momento é prestar atenção no rendimento dos alunos (importante ressaltar que a divisão em grupos, trios ou pares facilita) sem interferência. Afinal de contas, buscamos autonomia e deixar que os alunos falem, ouçam, entendam e resolvam o problema proposto é o objetivo. Se interferirmos, quebramos o propósito.

Claro que abordamos somente um pedaço do lesson plan e muitas outras coisas podem ser feitas nos dois primeiros Ps da aula. No entanto, o que importa é criarmos atividades que sejam relevantes e promovam a autonomia dos alunos na utilização da língua inglesa. Isso só vai ocorrer se tivermos um roteiro pronto, se nós professores sairmos do status quo e tentarmos nos dedicar a fazer os planos de aula, certamente as atividades serão mais frequentemente positivas, pois ninguém conhece melhor o alunos do que o próprio professor.

 

Não, O Português Não Atrapalha

Quando eu era mais moleque, estava na escola ainda, uma professora de inglês que tinha disse uma coisa que realente me marcou pra vida. Surpreendentemente (ou não), não foi nada relacionado à matéria. Ela disse “vocês não podem pensar em português se quiserem aprender inglês”. Muito provavelmente ela disse mais coisas que eu não me lembro, mas o core da “super dica” – ou teria sido bronca – foi esse. Isso ocorreu em meados dos anos 90, o inglês ainda não era matéria oficial do currículo escolar, os professores não tinham fácil acesso às informações e, talvez por isso, ela tenha ignorado o fato de a língua materna poder ser, sim, um aliado na aquisição da língua estrangeira (L2).

Sempre disse aos meus alunos que o teacher que pede para não usar a língua materna para aprender inglês merece ficar de castigo no canto da sala. Para nós, o português pode ser o plano de fundo para sobreposição da L2, ou seja, os alunos devem e vão comparar as línguas e irão notar as similaridades entre nosso bom e velho português e o bom e novo inglês. A estrutura sintática da língua portuguesa, de maneira geral, respeita a regra SVO – susbstantivo, verbo, objeto. O inglês também respeita esse sistema (de maneira geral, claro) e essa similaridade ajuda muito o processo de aquisição da linguagem. Pois, vamos analisar (1) e (2) para entendermos como nosso background em português pode ajudar na decodificação do inglês.

(1) Armando Nogueira wrote an amazing article.

(2) Armando Nogueira escreveu um artigo incrível.

Com exceção dos adjetivos e dos artigos, pode-se notar o sistema SVO tanto em (1) quanto em (2). Esse tipo de informação, não necessariamente passada de maneira descritiva, auxilia o entendimento da nova língua, inglesa, confirmando quão positiva pode ser essa transferência.

A ideia de transferência positiva (positive transfer) influencia, como vimos, a aquisição da língua no que diz respeito ao pragmatismo (Kasper, 1992, Takahashi, 1996). Por isso, em diversas vezes, o português acaba sendo a pedra no sapato de alguns alunos pois nem sempre nossa língua nativa foi aprendida de maneira boa o suficiente para que haja tranferência positiva.

Nesse caso, a língua nativa pode acarretar em uma transferência negativa (negative transfer). Um dos problemas que podem ser notados é a ocorrência de erros (errors), ou seja, quando o aluno definitivamente não tem conhecimento e, por dedução causado pela  língua materna, acaba produzindo e errando. O que pode acontecer é o erro em nível lexical devido às palavras cognatas. Considerando anniversary, alunos podem ter a brilhante ideia: “já que anniversary é igual em português, então posso usar ‘niver’ para me referir à aniversário em inglês”. Definitivamente isso não vai dar certo. Antes de descer paulada na influência do portguês no processo de aquisição, é importante perceber a transferência positiva da palavra em questão. O aluno associar a palavra estrangeira como sendo igual a palavra da língua portuguesa é uma evidência. Porém, usar “niver” em língua inglesa não tem valor, sem significado e nós, professores, podemos usar essa situação como abertura para introdução de algo novo. No caso, a referência informal à “aniversário”, pode ser ensinada a expressão “b-day”, por exemplo.

Seja influenciando positiva ou negativamente, a língua portuguesa deve sim ser parte integrante do processo de aquisição. Não nas aulas, falando português ou fazendo aulas de tradução, mas os professores precisam desenvolver aulas que trabalhem essa transferência, essa sobreposição que é realizada no pensamento dos alunos. De tudo isso só fico triste por minha professora não ter lido os linguístas que estudam pragmática, porque ela jamais teria dito aquilo e teria usado nossa língua como aliada às suas aulas.

Oferecemos Aulas Com Professores Nativos

A mídia é um veículo poderosíssimo de formação de opinião. Ela consegue influenciar escolhas políticas, compras de determinadas marcas, também consegue despertar interesse em assistir filmes, peças de teatro e, mais recentemente, tem feito propagandas em massa sobre a utilização de professores nativos no ensino de língua inglesa. Mas será mesmo que a aquisição de um segundo idioma, o inglês, necessita de professores nativos para que ela ocorra de maneira mais eficaz? Vamos ver se no final deste artigo vocês chegam a uma conlcusão.

Todos somos falantes nativos da língua portuguesa – exceto algumas pessoas que habitam as raríssimas tribos indígenas em que a língua mãe não é o português. Devido a dimensão continental do Brasil, nossa variedade cultural é muito extensa e isso resulta em uma riqueza de variação linguística, muito embora a gente consiga se comunicar em qualquer parte do país. Além da variação regional, encontramos uma variedade linguística muito grande dentro de cada cidade: as famosas Comunidades de Fala. É incrível o que falantes nativos de cada idioma cria com a língua justamente para identificar aqueles que fazem parte da sua comunidade (Bucholtz, 1999), do seu grupo, da sua patotinha, da panelinha. Com certeza dentro das escolas – quem é professor já notou com certeza – existem esses grupinhos e a escolha lexical pode ser um indicador de identidade daquele grupo, por exemplo, o famoso “tipo assim”. Essa expressão idiomática pode ser representante de um grupo de alunos que, para serem destacados dos demais grupos. O estudo que Bucholtz conduziu na escola analizando o comportamento linguístico de identificação de comunidade de fala dos “nerds” e dos  “atletas” é algo peculiar do idioma que somente nativos podem saber.

Assim, utilizar professores nativos no ensino de língua inglesa pode ter benefício quanto a isso. Os alunos que tiverem exposição a esse tipo de língua irão, com certeza, ter acesso às expressões idiomáticas provenientes da comunidade de fala do professor, não somente gírias, mas talvez palavras que sejam mais frequentes naquela comunidade. Mais ainda, o sotaque também vem de brinde. Só nos Estados Unidos existem centenas de variações fonéticas que também podem fazer parte de uma comunidade de fala bem exclusiva. Assim, um professor estrangeiro irá acrescentar ao processo de aquisição de língua estrangeira nada mais do que algumas expressões idiomáticas e sotaques provenientes de sua comunidade de fala, ou seja, um professor brasileiro, eu, você e seus colegas, temos perfeitas condições de ensinar inglês mesmo não sendo falantes nativos de fato. Além disso, temos uma vantagem sobre os professores nativos para balancear a carga sociolinguística que eles trazem: nós estamos inseridos no contexto dos nossos alunos e isso é um ponto importantíssimo na realização de atividades e do lesson plan, que tem maior eficácia se contextualizado.

A troca de cultura, o viés sociolinguístico do ensino de língua inglesa com professores nativos são inquestionáveis. Porém, dizer que a aquisição, de maneira geral, é melhor, mais rápida ou otimizada somente com professores nativos não é um bom argumento. A comunidade de fala existe e oferece um benefício, mas os professores de inglês brasileiros podem muito bem adquirir ou até mesmo serem inseridos nessa comunidade, no entanto entender o contexto social dos alunos brasileiros é mais complicado para os estrangeiros.

Corrigir Ou Não Corrigir? Eis A Questão.

Vocês se lembram ou já viram aquela plantinha que ao ser tocada, no mesmo instante ela se fecha toda? Pois é exatamente isso que acontece quando professores acabam oferecendo feedback aos alunos de qualquer maneira, desleixado. A correção é o momento em que os alunos realmente aprendem e esse aprendizado vai influenciar na avaliação pela qual eles irão passar.

Muitas vezes, professores acreditam que têm a fórmula mágica para correção e passam a ideia de que os alunos precisam ser corrigidos firmemente e que assim a ordem e a disciplina será mantida. Não é bem verdade, a correção tem cunho mais técnico do que comportamental e, no caso de aulas de línguas, a ordem tem um perfil diferenciado: ela é proveniente da bagunça, ou seja, os alunos vão acabar fazendo barulho pois eles têm que falar. Dessa maneira, o feedback oferecido pelo professor precisa ser passado de uma maneira bem suave, de preferência como uma sequência da atividade para que os alunos não sintam que estão sendo repreendidos muito menos castigados. Um follow-up com boa transição vai transmitir aos alunos a informação necessária para a correção dos pontos de deslize sem que os alunos olhem com aquela cara de “professor chato, me corrige a toda hora” e por diversas vezes os alunos nem precisam necessariamente perceber que estão sendo corrigidos.

De acordo com Ellis, Loewen e Erlam (2006), é durante o feedback que os alunos aprendem pois estão com sua atenção quase que total voltada para o professor além de a atividade ter acontecido momentos antes, ou seja, é fácil de os alunos relacionarem a correção àquilo que eles fizeram. Dentre os tipos de feedback “disponíveis no mercado”, o professor tem a correção explícita e implícita. Por mais redundante que seja, a forma explícita deixa evidente aos alunos que estão sendo corrigidos e a implícita não. Em feedback explícito, o aluno tem ciência da correção pois ela é diretamente endereçada ao estudante.

Aluno: Yesterday I go to the mall.

Professor: You need past tense here.

Aluno: Yesterday I went to the mall.

Em aulas com alunos mais novos ou jovens com nível de proficiência iniciante, esse tipo de feedback tende a ter mais eficácia fica evidente o que deveria ter sido realizado pelo aluno.

Já alunos com nível linguístico um pouco mais avançada (que fique claro que não estou falando dos avançados, C1 ou C2, somente), as correções podem ser feitas de maneira mais sútil sem perder a eficácia. Recasts são uma maneira bem delicada de se corrigir os alunos sem que eles tenha a noção de que estão realmente recebendo uma correção pois se encaixam na categoria de feedback implícito.

Aluno: She will going to the concert tonight.

Professor: Oh! She will go to the concert. What concert will she go to?

Aluno: She will go to Foo Fighter’s concert.

Obviamente que com o uso de recasts espera-se que o aluno perceba a forma mais adequada da língua e a reproduza na próximas vezes, mas nem sempre isso ocorre.

Quer seja explícito ou implícito, o professor precisa sempre ficar atento para que o feedeback seja oferecido de maneira sutil para não criar um bloqueio nos alunos. Além disso, correção mal feita não vai causar o efeito esperado, ou seja, aquele momento em que os alunos falam “ah… agora entendi” não vai acontecer. Não existe fórmula mágica pra correção, tudo depende do perfil analisado pelos professores e desenvolvimento de follow-ups para que as plantinhas não se fechem.

De Onde Vem O Coelhinho?

Muito chocolate faz, sim, mal e pode causar mal estar, mas somente nessa semana todos nós iremos dar uma exageradinha no chocolate. Então nada mais justo que deixar a criançada curtir a Páscoa e, de preferência, em inglês. Uma das vantagens de se trabalhar com alunos dos primeiros anos do ensino fundamental é a facilidade na aquisição da língua estrangeira em função da consolidação do período crítico.

Embora o nome passe a impressão de algo ruim, período crítico é, na verdade, o tempo que a criança tem de maturação, ou seja, é o período em que as conexões neurais se solidificam e coincidem com a consolidação linguística. Birdsong (1999) é um dos representantes mais famosos desse estudo do período crítico e desenvolvimento da língua. Portanto, nada mais legal do que juntar o Coelhinho da Páscoa, o inglês, uma mistura de culturas com atividades dinâmicas que favorecem o aprendizado da língua haja vista as condições de maturação que os alunos estão passando. Dessa vez, tomei a liberdade de usar as ideias da Educaderia, empresa do meu colega Fernando Fragoso, que desenvolve materiais didáticos divertidos com ilustrações muito legais para criar a sugestão de aula pra Páscoa. Sempre, claro, pensando no viés comunicativo da aula de línguas.

Pensando em uma turma de ensino fundamental I (EF I), primeiro ano, ainda há tempo para pegar carona na maturação e, por isso, seria muito legal começar a introduzir sentenças inteiras, trabalhar com estruturas sintáticas juntamente com a apresentação de novos vocabulários, muito comuns nas aulas de inglês pra esse ano. O plano de fundo pra essa atividade é a Páscoa e nada mais bacana do que explorar a imagem do bom e velho coelhinho. Para se trabalhar a oralidade com alunos dessa faixa etária, seria uma ótima ideia utilizar sentenças mais simples mesmo porque a língua materna deles também ainda não está totalmente consolidada. Como aquecimento, o professor pode fazer perguntas simples utilizando contraste para se chegar à resposta “coelhinho”. Por exemplo: “is this the pet for Easter” e vai mostrando figuras ou ilustrações de animais que não sejam um coelho. Após várias perguntas e fotos, uma foto do coelhinho é mostrada e a pergunta muda para  “who is it”, esperando-se uma resposta em conjunto (talvez em português) que se trata do coelhinho da Páscoa. Ótima oportunidade para se apresentar o nome dele em inglês, Easter Bunny.

A Educaderia, empresa que desenvolve e-books e jogos educacionais, oferece um game muito interessante que incentiva a oralidade e a utilização de várias palavras novas. Em uma turma grande, o professor pode dividir os alunos em quatro turmas: grupo vermelho, verde, amarelo e verde. Através de rodadas, cada turno, um grupo fala e várias partes do coelhinho vão sendo introduzidas e trabalhadas, por exemplo, tail, paw, ears, tooth (teeth), eyes, fur, carrot, etc. De acordo com a ilustração da Educaderia, em formato de jogo de tabuleiro, existem pontos de interrogação  que o professor pode utilizar para fazer perguntas extras aos grupos tais como “what’s the eye color of the bunny“, “what’s the favorite food of the Bunny“, etc, para estimular também aqueles alunos que por acaso já se encontrarem num nível linguístico mais desenvolvido que o de seus colegas. Essa primeira parte deve deixar os alunos animados e preparados para trabalharem sozinhos.

Para finalizar a aula, o professor pode pedir que os alunos trabalhem individualmente, ou até mesmo em duplas, desenhando suas versões do Coelhinho da Páscoa com cenários que o professor pode pré estabelecer. O professor pode oferecer aos alunos cenários do tipo fazenda, casa, espaço, floresta para que os alunos insiram seus desenhos e abusem da criatividade e utilizem tudo aquilo que aprenderam durante a aula. Certamente, o período de maturação dos alunos vai ser um importante aliado no aprendizado da língua estrangeira e o professor tem a chance de sair do status quo ao oferecer oportunidade de os alunos se comunicarem para falar sobre o grande personagem da Páscoa.

O Tradicional, o Moderno e o Marketing

Não sou nenhum expert em marketing, nem formação comercial tenho, mas é óbvio que uma empresa busca sempre o lucro e, por esse motivo, investe muito de seu orçamento em propagandas. Porém, é só ligar a TV que facilmente se encontra comerciais falando em “jeito moderno de aprender inglês”. O que podemos esperar dessa afirmação é que a abordagem utilizada pela escola de idiomas esteja alinhada à crescente utilização do estudo linguístico de aquisição de linguagem pelo uso da língua.

Vamos ver se conseguimos dar uma destrinchada no anúncio da TV. No começo do século XX, nos primórdios das aulas de língua estrangeira, o latim era o idioma a ser ensinado. A abordagem utilizada, e a mais antiga, era o da tradução, ou seja, os alunos traduziam textos em latim para sua língua materna e vice versa. Com certeza não vemos mais isso em muitas escolas, quer sejam de idiomas ou regulares. Embora completamente ultrapassada, afinal é impossível medir a profundidade com que a língua foi aprendida através de uma simples tradução de texto, em nível lexical e enriquecimento de vocabulário a tradução é bem valiosa. De acordo com os estudos piagetianos, a língua se desenvolve como uma ferramenta para que a criança obtenha o que deseja. Com a língua estrangeira não é diferente. A língua, no caso o inglês, precisa ser aprendida afim de ser usada como uma ferramenta de comunicação, por isso a abordagem de tradução dos primórdios do século passado é muito obsoleta.

A aquisição de linguagem teve seu turning point quando Chomsky publicou seu material em que consta que todos nós temos uma gramática em nosso cérebro que nos permite decodificar e reproduzir infinitos idiomas. De outro lado, Wittgenstein suporta a importância social da aquisição. Eis que no início dos anos 2000 aparece um estudo que uniu as correntes e sugere que a língua é adquirida através de sua utilização (reprodução) e reforço de pessoas com formação linguística consolidada (adultos) e a maturação cognitiva das crianças são responsáveis pela decodificação (entendimento) da língua (Tomasello, 2003). Bingo! Essa é a grande diferença das escolas de idiomas pras regulares no ensino de inglês, muito embora, por muitas vezes, isso não é feito com qualidade também nas escolas de idiomas. Pegando carona nesse estudo, instituições como TESOL e Cambridge caminham juntas na estrutura do plano de aula dos 3 P’s (presentation, practice, performance), que favorece e corrobora a eficácia do estudo.

Usar a tinta, giz, iPad, smartphones, lápis, caderno, livros, laptops não vão mudar o processo de decodificação da língua inglesa. Eles podem, e tem, outros benefícios, mas acreditar nas propagandas de TV que vendem a ideia de que o fato de se estudar pela internet vai lhe oferecer o que há de mais moderno no aprendizado seja, talvez, confiar no discurso marketeiro.

Minhas Férias

“Minhas férias”, esse é o mais famoso título de redação ou tema de primeiro dia de aula das escolas e também o que mais sofre com piadinhas. O fato é que esse tão controverso tema carrega consigo infinitas possibilidades e, talvez, os professores estejam utilizando esse assunto de um jeito mais tradicional. No entanto, existem algumas maneiras de se trabalhar as férias de um modo que esteja totalmente dentro do contexto dos alunos e do mundo, com apps e um pouco de trabalho na hora de realizar o lesson plan.

É claro que o material didático (MD) oferece recursos visuais interessantes para que o tema férias seja explorado. Ilustrações, fotos, figuras ao dispor do professor, mas… num mundo em que os alunos dão um baile no quesito uso da internet, aplicativos e equipamentos em geral, seria interessante o professor ir além do MD. Um ótimo warm-up seria utilizar, por exemplo, algumas figuras que o MD oferece. Supondo que as figuras sejam de locais famosos, escreva alguns cartões com os nomes dos locais. Por exemplo, se a figura mostra o Pão de Açúcar, escreva no cartão “Rio de Janeiro” e distribua aos alunos. A ideia por trás de toda aula de língua, seja ela nativa ou estrangeira, é fazer os alunos produzirem pois, como já falamos em outro artigo, através do uso da língua que os professores terão dados para ajustar a linguagem da turma. O grande objetivo desse aquecimento é fazer com que os alunos se conheçam, pensando que o ano letivo tenha acabado de se iniciar e alunos novos estão na sala, através da comunicação, ou seja, perguntando “are you_?”, “do you have_?” e se desenrole em “what’s your name?”, etc.

Toda essa atividade pode ser feita em, no máximo, 5 minutos e o professor ainda ganha tempo na divisão dos pares para a fase de drilling, que é o momento em que se apresenta o novo conteúdo. Pensando nas férias, o simple past tem, praticamente, um viés enraizado, afinal os alunos precisam desse tempo verbal para comunicarem quais foram suas atividades durante o período de descanso. O material didático apresenta, sim, recursos que podem ser utilizados pelo professor para apresentar o tempo passado da língua inglesa. Lembram-se dos 3 Ps? Pois então, o practice acontece através da exploração da ilustração do MD que possa conter um roteiro de viagem e as perguntas podem ser realizadas pelo professor, ou seja, serão usadas as perguntas que o MD propõe mais outras que o professor irá realizar para as duplas, sempre utilizando o idioma alvo, “forçando” os alunos a produzirem. Vale ressaltar que, embora cada dupla receba uma pergunta específica, nada os impede de trocar informações desde que seja feita no idioma alvo e quanto mais os alunos falarem, maior o corpus que o professor poderá criar para trabalhar.

Das habilidades linguísticas, 3 serão exploradas: leitura do roteiro, fala para comunicação aluno/aluno e aluno/professor e audição que é recorrente da comunicação. A tão esperada atividade final, que coloca os alunos em contato com o que aprednderam na aula de forma mais livre (performance) pode ser realizada com algo que os alunos da atualidade mais adoram, apps. Temos duas opções: sincronizar essa atividade com um estudo do meio (geralmente não acontecem no começo do ano letivo) ou utilizar os locais destacados que ficam nos arredores da escola. Sem mais delongas, “Field Trip”! Esse aplicativo desenvolvido pelo Google oferece sugestõs de locais a serem visitados dentro do raio da sua localização e conta com fotos e explicações em inglês sobre a importância do lugar. Caso pelo menos um dos alunos dos pares separados no início tenha um smartphone ou a escola ofereça tablets, é só baixar o app Field Trip e pedir que os alunos escolham seu roteiro de viagem. Assim que eles terminarem de ler e escolher os locais da viagem, eles apresentam pra turma tudo o que aprenderam de interessante com o app.

O processo de aquisição de línguagem se desenvolve pela combinação da interação social e da utilização da cognição para o entendimento da língua que está sendo falada. Adicione à isso um plano de aula bem esquematizado e uma pitada de recurso tecnológico (que já faz parte do nosso cotidiano) e os alunos irão realmente viajar – no bom sentido – quando tiverem que discutir sobre o famoso tema “minhas férias”.