Por Que Não Investem Na Gente?

De tempos em tempos é bom dar uma parada, sair de dentro do calabouço para se ter uma visão macro de tudo que anda acontecendo ao nosso redor. O cenário brasileiro anda estremecido, quase caindo, em todos os aspectos e, claro, o educacional vai no embalo. Mas… será que é por isso que as escolas não têm investido tanto no ensino de língua inglesa?

Vamos então aos fatos, porque senão vai parecer falácia, choradeira ou, de um jeito mais esdrúchulo, vai parecer mimimi. Nosso país conta com um pouco mais de 300 mil professores de língua inglesa dentro dos Ensinos Fundamentais e Médio de acordo com o senso do Ministério da Educação (MEC). Isto é, são 300 mil profissionais que todos os dias têm que preparar suas aulas para ensinar os mais de dezenas de milhões de alunos que o país tem. São poucos profissionais para muitos alunos, ou seja, precisamos repensar a estratégia desse número para que se formem cada vez mais professores de língua inglesa. Para isso, é necessário investimento público e privado de práticas de capacitação desses professores tanto linguística quanto pedagógica.

Desses 300 mil heróis que trabalham com ensino de língua inglesa, cerca de 10% tem formação em ensino de inglês. Vale colocar uma atenção dupla nessa informação: porque poucos professores de inglês são formados por falta de incentivo – incentivo não somente salarial, mas de condições de aprimoramento, intercâmbio com o que acontece no mundo, acesso aos estudos acadêmicos de aquisição de língua estrangeira, etc – as escolas acabam procurando por profissionais que têm algum conhecimento para suplantar esse gap de profissionais, aumentando o número de professores de inglês sem formação. Vamos fazer uma analogia pra deixar a coisa mais didática. Imaginem a Mercedes-Benz, gigante do setor automobilístico mundial, tendo problemas em achar bons engenheiros para desenvolver seus carros luxuosos e altamente qualificados. Para continuarem na atividade, para não fecharem as portas, a Mercedes então começa a contratar para o trabalho de engenharia físicos que tenham algum conhecimento de mecânica. Com toda certeza os carros sofreriam uma queda abrupta de qualidade.

O que deveria ser feito, então, era bombardear os professores com ofertas de capacitação profissional especializada em ensino de língua estrangeira de qualidade para que os 10% que têm formação na área se reciclem e estejam em constante contato com estudos e materiais relacionados ao ensino de língua inglesa e para que os 90% que não tem formação, tenha um norte. Só que infelizmente isso não tem sido feito. Por algum motivo obscuro, as escolas, públicas ou particulares, não oferecem capacitação aos professores de língua inglesa, eles deixam esse desenvolvimento na responsabilidade dos professores, ou seja, se os professores quiserem ser melhores, eles procuram cursos, workshops e treinamento por conta própria, caso contrário, o rendimento das aulas de inglês continuará o mesmo. O que causa maior estranheza é justamente a escola ou a secretaria de ensino não ficarem preocupadas em disponibilizar recursos para que os professores de inglês os usufram. Surpreendentemente, muitos pormenorizam trabalhos de capacitação alegando que as aulas de língua inglesa estão gerando ótimos resultados. Pois então tem alguma coisa errada no número da nota geral do instituto Global English, haja vista que o Brasil obteve média de 3,27 em fluência de língua inglesa, se colocando na posição 70 dentre os 78 países analisados, de acordo com o site valor.com.br.

Todos no Brasil sabem muito bem a importância que a língua inglesa tem, pelo menos, no futuro profissional de uma pessoa. Além disso, ser bilíngue oferece vantagens cognitivas de raciocínio e controle. Não obstante, termos um ensino de língua inglesa de qualidade nas escolas, abre portas para o mundo e expande consideravelmente o conhecimento cultural de nossos alunos. Só que tudo isso não acontece se nossos professores não estiverem preparados para isso. Alguns sistemas de ensino oferecem workshops relativamente interessantes, mas infelizmente são com pouca frequência durante o ano e, na maioria das vezes, sempre relacionados ao material didático, nada que capacite os professores para trabalharem em qualquer escola ou qualquer material didático. Ok, pelo menos é um começo. Agora, deixar os professores responsáveis por procurarem capacitação é ser totalmente conivente com os resultados muito abaixo do satisfatório. Já temos que preparar aulas, trabalhar em duas, às vezes até três escolas e lidar com vários alunos. Jogar essa batata quente no nosso colo não é muito justo.

Se quisessem, mesmo, oferecer um ensino de língua inglesa de qualidade, os responsáveis pelas escolas, repito, sejam elas públicas ou particulares, deveriam oferecer essa capacitação aos professores, porque as escolas que ganham com esse desenvolvimento. Professores bons geram alunos ótimos, alunos ótimos geram futuros promissores, mas as escolas continuam afirmando que suas aulas de inglês são muito boas e, portanto, não precisam decapacitação para professores. Dito tudo isso pergunto: por que não investem na gente?

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