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O Que Acontece Com o Interior de SP?

Já está mais que evidente e muito bem esclarecido o quão importante são os cursos e workshops para capacitação de professores. Não somente os professores, mas também os coordenadores afinal eles precisam estar cientes de como seus professores de inglês irão desempenhar suas funções. No estado de São Paulo, temos a capital como um hub de capacitação, mas no interior as coisas andam muito devagar e super resistentes ainda. Leia mais

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Para Quem São Os Eventos Educacionais?

Tempo. Uns dizem que é dinheiro, outros acreditam que com o passar dos anos ele corre mais depressa, para professores de língua inglesa, tempo é praticamente inexistente. Muitas vezes eles se dividem em 2, até 3 escolas, inúmeras turmas, vários alunos, planejamento de aula, avaliações e feedback, reuniões com pais e internas, enfim, dificilmente sobra tempo para que façam cursos e compareçam a congressos. E os congressos hoje em dia têm acontecido em dias e horários duvidosos. Leia mais

O Idioma Disfarçado de Língua Inglesa

Após um período acumulando trabalho, materiais e mais trabalho, cá estou novamente para conversar com meu amigos teachers sobre fenômenos linguísticos que influenciam diretamente na aquisição de linguagem (me senti o padre Quevedo agora falando sobre fenômenos). Nossas escolas, públicas e particulares, têm ensinado inglês como língua estrangeira, escolas de idiomas também têm se degladiado para mostrar quem ensina melhor inglês como segunda língua, mas será mesmo que nossos alunos estão de fato aprendendo inglês ou o que estão produzindo são uma língua diferente disfarçada de inglês?

Talvez esse disfarce seja fruto de algo que já conversamos aqui antes: a influência do idioma nativo no processo aquisitivo da língua estangeira. Não precisam ficar nervosos, eu não vou falar sobre transfers novamente, mas a interferência que, no nosso caso, o português, exerce sobre  a língua estrangeira pode gerar um caso de criação de creole. E o que viria a ser creole, você pode me perguntar. São línguas híbridas criadas a partir de pidgins. E o que seriam os pidgins? São esquemas frásicos, teoricamente sem função sintática, gerados pelo baixíssimo conhecimento de uma língua estrangeira. Mesmo longe e sem ver, consigo perceber o enorme ponto de interrogação estampado na sua testa. Vamos por partes então. Começaremos por entender o que são os pidgins, pois são basicamente a origem de toda nossa conversa. Imagine que você acabou de cair no meio de uma tribo maori, na costa neozelandesa. Deu pra visualizar a situação? Após um tempo, você aprende a dizer coisas simples como “obrigado”, “eu comer”, “por favor”, etc, simplesmente para conseguir manter o mínimo de comunicação possível. Obviamente que nosso pensamento lógico vai nos fazer utilizar a língua que sabemos para tentar inferir (às vezes acertar) como essa funciona essa nova língua maori e, munidos de tentativa e erro mesmo, inserimos partículas linguísticas de nossa língua nativa nesses esquemas frásicos simplificados para tentarmos sobreviver à essa nova aventura nas praias da Nova Zelândia.

Claro que conforme você for interagindo com os maoris, seu alcance linguístico aumenta, aprendendo sons significativos, palavras, aumento dos esquemas frásicos para sentenças completas, significados, em combinação com nossa (para alegria dos gerativistas) inata capacidade de raciocínio. Assim, os pidgins evoluem e se tornam creoles, isto é, uma língua estrangeira recém aprendida que contém buracos sintáticos, influência da língua nativa, mas que se assemelha um pouco mais com uma sentença mais evoluída, como podemos ver em (1) (Schumann, 2009: loc. 473).

(1) And too much children, small children, house money pay.

(2) If like make, more better make time, money no can hapai.

O que Schumann (2009) nos mostra é a maneira que um coreano encontrou para se comunicar em inglês, sendo que seu conhecimento linguístico da língua estrangeira é bem limitado, porém conseguiu(?) conectar sua fala e transmitir significado. Já em (2), nota-se utilização de duas palavras de uma terceira língua, make, que significa “morrer” e hapai, que significa “carregar” ambas em havaiano. É o exemplo da fala de um nativo japonês tentando se comunicar em inglês com um havaiano e é possível perceber que a língua inglesa, embora mais evoluída que a havaiana, ainda contém muitas brechas sintáticas e também nota-se a presença de palavras da terceira língua, o que mostra o início de uma aquisição.

Acho que consegui deixar claro o que são pidgins e creoles, mas o que tudo isso tem a ver com as aulas de inglês e com a maneira que nossos alunos têm se comunicado em inglês? Em alguns anos trabalhando como professor de inglês e outros recentes como linguísta percebi que nossos alunos estão se comunicando em um creole disfarçado de inglês. Podemos perceber em (3) a forma standardizada da língua inglesa, aquela maneira que tentamos ensinar aos nossos alunos, mas, na maioria das vezes, a fala de nossos prezados students tem influência bem direta e aparente da língua nativa – o português – como vemos em (4).

(3) Yesterday, a weird scene happened on the street.

(4) Yesterday, happened a weird scene on the street.

Claro que em (4) trata-se de algo distantemente parecido com creole haja vista a complexidade e conexão entre as palavras para formar a frase, mas a inversão entre sujeito e verbo, que não faz parte do inglês standard (a menos que você seja o Mestre Yoda), mostra a influência da nossa língua nativa. Também é muito comum encontrarmos a fala de nossos alunosmais parecida com creole do tipo “if have vague, I sleep in hotel” com sentido de “if there’s a vacancy, I’ll sleep in the hotel”. Isso occorre, segundo John Schumann e outros linguístas, porque a aquisição fica superficial, não existe aprofundamento de exposição afinal a pessoa consegue, de alguma maneira, transmitir a mensagem e acaba não indo além. Muitas aulas de inglês, quer seja de escolas regulares (públicas e particulares) ou escolas de idiomas, acabam contribuindo para que isso aconteça mesmo que seja sem querer. Nós teachers precisamos tomar cuidado pra que nossos alunos saiam da sua zona de conforto e sejam lingusiticamente desafiados a pensar e aprender para não ficarem atrelados à proposta de comunicação para realizarem uma tarefa ou fecharem um negócio simplesmente.

Às vezes, fatores externos nos deixam de mãos atadas na hora de fazermos nossos alunos darem um salto maior no processo de aquisição de linguagem. Porque faz mal pra nossa carreira de professor ter alunos falando como se fosse o Tarzan, “mim, comida, agora”, sem contar que isso nada mais é do que uma língua híbrida, sem profundidade, um disfarce para a aquisição que foi mais manquitola do que o Saci Pererê.

 

Por Que Não Investem Na Gente?

De tempos em tempos é bom dar uma parada, sair de dentro do calabouço para se ter uma visão macro de tudo que anda acontecendo ao nosso redor. O cenário brasileiro anda estremecido, quase caindo, em todos os aspectos e, claro, o educacional vai no embalo. Mas… será que é por isso que as escolas não têm investido tanto no ensino de língua inglesa?

Vamos então aos fatos, porque senão vai parecer falácia, choradeira ou, de um jeito mais esdrúchulo, vai parecer mimimi. Nosso país conta com um pouco mais de 300 mil professores de língua inglesa dentro dos Ensinos Fundamentais e Médio de acordo com o senso do Ministério da Educação (MEC). Isto é, são 300 mil profissionais que todos os dias têm que preparar suas aulas para ensinar os mais de dezenas de milhões de alunos que o país tem. São poucos profissionais para muitos alunos, ou seja, precisamos repensar a estratégia desse número para que se formem cada vez mais professores de língua inglesa. Para isso, é necessário investimento público e privado de práticas de capacitação desses professores tanto linguística quanto pedagógica.

Desses 300 mil heróis que trabalham com ensino de língua inglesa, cerca de 10% tem formação em ensino de inglês. Vale colocar uma atenção dupla nessa informação: porque poucos professores de inglês são formados por falta de incentivo – incentivo não somente salarial, mas de condições de aprimoramento, intercâmbio com o que acontece no mundo, acesso aos estudos acadêmicos de aquisição de língua estrangeira, etc – as escolas acabam procurando por profissionais que têm algum conhecimento para suplantar esse gap de profissionais, aumentando o número de professores de inglês sem formação. Vamos fazer uma analogia pra deixar a coisa mais didática. Imaginem a Mercedes-Benz, gigante do setor automobilístico mundial, tendo problemas em achar bons engenheiros para desenvolver seus carros luxuosos e altamente qualificados. Para continuarem na atividade, para não fecharem as portas, a Mercedes então começa a contratar para o trabalho de engenharia físicos que tenham algum conhecimento de mecânica. Com toda certeza os carros sofreriam uma queda abrupta de qualidade.

O que deveria ser feito, então, era bombardear os professores com ofertas de capacitação profissional especializada em ensino de língua estrangeira de qualidade para que os 10% que têm formação na área se reciclem e estejam em constante contato com estudos e materiais relacionados ao ensino de língua inglesa e para que os 90% que não tem formação, tenha um norte. Só que infelizmente isso não tem sido feito. Por algum motivo obscuro, as escolas, públicas ou particulares, não oferecem capacitação aos professores de língua inglesa, eles deixam esse desenvolvimento na responsabilidade dos professores, ou seja, se os professores quiserem ser melhores, eles procuram cursos, workshops e treinamento por conta própria, caso contrário, o rendimento das aulas de inglês continuará o mesmo. O que causa maior estranheza é justamente a escola ou a secretaria de ensino não ficarem preocupadas em disponibilizar recursos para que os professores de inglês os usufram. Surpreendentemente, muitos pormenorizam trabalhos de capacitação alegando que as aulas de língua inglesa estão gerando ótimos resultados. Pois então tem alguma coisa errada no número da nota geral do instituto Global English, haja vista que o Brasil obteve média de 3,27 em fluência de língua inglesa, se colocando na posição 70 dentre os 78 países analisados, de acordo com o site valor.com.br.

Todos no Brasil sabem muito bem a importância que a língua inglesa tem, pelo menos, no futuro profissional de uma pessoa. Além disso, ser bilíngue oferece vantagens cognitivas de raciocínio e controle. Não obstante, termos um ensino de língua inglesa de qualidade nas escolas, abre portas para o mundo e expande consideravelmente o conhecimento cultural de nossos alunos. Só que tudo isso não acontece se nossos professores não estiverem preparados para isso. Alguns sistemas de ensino oferecem workshops relativamente interessantes, mas infelizmente são com pouca frequência durante o ano e, na maioria das vezes, sempre relacionados ao material didático, nada que capacite os professores para trabalharem em qualquer escola ou qualquer material didático. Ok, pelo menos é um começo. Agora, deixar os professores responsáveis por procurarem capacitação é ser totalmente conivente com os resultados muito abaixo do satisfatório. Já temos que preparar aulas, trabalhar em duas, às vezes até três escolas e lidar com vários alunos. Jogar essa batata quente no nosso colo não é muito justo.

Se quisessem, mesmo, oferecer um ensino de língua inglesa de qualidade, os responsáveis pelas escolas, repito, sejam elas públicas ou particulares, deveriam oferecer essa capacitação aos professores, porque as escolas que ganham com esse desenvolvimento. Professores bons geram alunos ótimos, alunos ótimos geram futuros promissores, mas as escolas continuam afirmando que suas aulas de inglês são muito boas e, portanto, não precisam decapacitação para professores. Dito tudo isso pergunto: por que não investem na gente?