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The Traps Of EFL Classes

Nostalgia. As one gets older, it is easier to have this feeling since life experiences are such that books could be written about each moment. The first kiss, first love, a surprise birthday party, moments with parents and loved ones, travels, every person tends to be nostalgic and bring back the pleasing sentiment to compare them with current situations. Although this might seem hard to be avoided, for teachers nostalgia is a dangerous trap linked to cognitive bias, hindering the effectiveness of our classes. Leia mais

A Prática Leva a Muitos Benefícios

Para aqueles que já tiveram a oportunidade de ler alguns de meus artigos e de fazerem os cursos de capacitação que ofereço sabe que uma aula bem planejada sempre tem uma espinha dorsal, um roteiro para que as atividades não fiquem desconectadas, perdidas no ar. Dentro dessa espinha dorsal, deve existir sempre um momento para que os alunos pratiquem porque sabemos que nosso país não oferece a exposição necessária para estimular o par oralidade/audição, pilares da aquisição de linguagem.

Mas… você já foi procurar saber o motivo de a fase de prática ser tão importante para os alunos? Já foi atrás do que acontece quando somos expostos a um idioma que não é o materno (L2)? Quando Tomasello (2005) diz que usamos nossas funções superiores para aprender algo que vimos através de uma interação social – quer seja explicada, quer seja de maneira espontânea – uma série de raciocínios acontece até que a fala de fato seja produzida. Embora já tenha mencionado o esquema de Segalowitz (2010) em outros artigos e no meu capítulo do livro Formação de Professores (2016), a gente nunca tinha discutido com profundidade como a fala em L2 acontece. Na Figura 1, o esquema mostra como planejamos nossa fala em estágios (parsed speech).

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Figura 1 (Segalowitz, 2010)

Em nosso cérebro, antes de produzirmos nossa fala em L2, nós planejamos o que iremos dizer com antecedência, isto é, nós fazemos uma varredura em nosso cérebro para colocarmos as palavras nas gavetas apropriadas para exprimirmos nossa intenção (grammatical encoding). Pra que isso aconteça, fazemos uso de conhecimento prévio sobre o novo idioma, sobre nosso idioma e sobrepomos ao que sabemos sobre a percepção e comportamento de nativos em relação ao idioma (Ly e Lx respectivamente). Após essa fase, Segalowitz prossegue com esse mapeamento cognitivo de processamento de L2 para produção oral e mostra que após o momento de se pensar na fundação da língua, nós partimos para os “átomos”, ou seja, planejamos a parte morfo-fonológica da fala – palavras. Nessa segunda fase, trazemos à superfície nosso conhecimento com relação a articulação e combinação fonológica e comparamos com os gestos dos falantes nativos. A intersecção oferece os modelos fonológicos que usaremos quando falarmos.

Tudo isso ocorre em pouquíssimos segundos conforme vamos utilizando nosso cérebro e embora tenhamos, sim, uma área em que fazemos processamentos linguísticos (lóbulo temporal esquerdo), seria errado dizer que somente essa parte é responsável pela produção da nossa fala. Oras, se estamos falando de planejamento, estratégia e escolha lexical, não somente o lóbulo temporal vai ser ativado, mas também a parte frontal do cérebro, responsável por essas funções (Bailer, 2016). Isto é, quando encorajamos a fala de nossos alunos com atividades de prática em sala de aula, estimulamos uma atividade cerebral intensa com uma simples tarefa.

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Figura 2 (Segalowitz, 2010)

Perceba que na Figura 2 temos outros fatores que influenciam na fala de língua estrangeira como, por exemplo, contexto comunicativo. Quando preparamos nossos lesson plans e seguimos aquela espinha dorsal que mencionei no início deste artigo, estimulamos um ambiente em que os alunos percebem esse viés comunicativo, fator que muitas vezes faz com que os prórpios alunos se sintam envergonhados, com receio de falar quando não há esse tipo de ambiente.

O momento de prática oral dos alunos não é simplesmente pedir que eles criem frases com o conteúdo recém ensinado, pois embora as funções superiores estejam sendo acionadas (conforme foi explicado anteriormente), não existe contexto nem motivação para que as frases sejam faladas – fatores sociais importantíssimos que são gatilho para oralidade. Além disso, fala pressupõe que haja interlocutor, ou seja, ter uma fase de prática no plano de aula não somente propicia a fala, mas também explora a habilidade auditiva dos alunos que, ao ficarem expostos a fala também fazem uso do esquema cognitivo de produção só que em vez de auto percepção (f7), há uma ativação da percepção externa da fala e as mesmas ativações de conhecimento morfo-fonológicos e de estruturação de frases para que  haja entendimento do que está sendo falado. Além disso, a fase de prática do plano de aula é o momento em que se busca precisão da língua. Portanto, as correções e repetições acontecem durante esse momento e conforme podemos notar na Figura 2, frequência de exposição e repetição são fatores que favorecem o esquema cognitivo da produção oral da língua estrangeira.

Com tudo isso, a gente pode notar que estabelecer um momento de prática bem estruturado em todas as aulas de L2 traz benefícios que extrapolam os fatores pedagógicos ou porque você aprendeu que essa oportunidade deve estar presente nos planos de aula. Tem todo um suporte linguístico por trás dessa abordagem que podem ajudar na hora que você for se sentar para planejar suas aulas e suas atividades. Mesmo que você utilize a maioria das atividades do seu teacher’s guide (espero que não faça isso e desenvolva mais), a fase de prática precisa acontecer para que seus alunos tenha chance de trabalhar a oralidade de maneira natural, relevante (sempre) e divertida.

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Quietude Demais Pode Ser Desmotivação

É muito engraçado, quando prestamos atenção nos alunos dentro uma sala de aula, sempre tem aqueles que ficam mais quietos. Quietos, atentos à aula e, às vezes, viajando na maionese, pensando em sabe-se lá o que. Então a grande questão é: por que meus alunos não querem falar? Por que eles não falam? Bem, caso nenhum deles tenha algum impedimento físico, talvez a gente consiga dar uma clareada.

Antes de planejarmos as aulas (por favor, planejem suas aulas) é importante pensarmos em qual metodologia iremos usar e o motivo dessa escolha. Partindo do pressuposto que professores não ficam mais pedindo para alunos lerem uma apresentação que eles fizeram e afirmam que isso é trabalhar a oralidade, uma sugestão mais apropriada é a adoção de uma abordagem em que os alunos se deparam com o inesperado para que eles utilizem sua cognição  para produção de fala conforme eles vão se expondo à língua. Essa ativação da cognição é muito importante para nós professores porque se soubermos como se desenrola o processo de produção de fala através da ativação da função superior de nossos alunos, sem dúvida alguma criaremos aulas muito mais eficazes.

O esquema de Segalowitz (2010), ilustra de uma forma bem didática o desenrolar do processo cognitivo em conjunto com o papel não menos importante que as interações sociais têm. De acordo com Norman Segalowitz, a cognição dos falantes de uma língua estrangeira (L2) se beneficiam da exposição ao novo idioma, e fazem uma sobreposição de conhecimentos culturais, escolha lexical, estrutura sintática e fonologia conforme o locutor se comunica e todo processo de decodificação vai acontecendo no cérebro do interlocutor simultaneamente (Mattiello, 2016). Assim que todo esse processo tem seu desenvolvimento, o interlocutor também começa a “planejar” sua resposta para continuação da conversa, resultando, então, na fala. É nesse momento que você poderia me questionar dizendo “isso eu já tinha uma noção, cadê a novidade?”. A motivação.

Uma das grandes dificuldades que encontramos na hora de fazer nossa aula acontecer é encontrar um jeito, uma fórmula mágica que faça nossos alunos falarem. Isso é tema pra uma outra conversa, mas precisamos rever nossa maneira de planejar as aulas, pois de acordo com os resultados, nossos objetivos para implementação das atividades andam meio distorcidos, entendimento das novas gerações de alunos anda desequilibrado e as habilidades tecnológicas – algo que tem sido inato dos novos alunos – é bem limitado. Esses fatores e outros entram no quesito motivação, quesito importantíssimo para convencer nossos alunos a produzirem no idioma alvo. Segalowitz também acredita que esse é, de fato, um ponto primordial para que a fala aconteça. As atividades propostas precisam ser desenvolvidades e amarradas para que haja um motivo muito forte que os alunos sintam-se não somente confortáveis para falar, mas também percebam que há uma razão por trás da sua produção oral.

Como disse anteriormente, a falta de objetivo esclarecido por parte do desenvolvimento das atividades de sala e o conservadorismo dos professores, insistindo em atividades que em momento algum encoraja a fala, fornece números para a derrocada do ensino de língua inglesa no país. Pois pensemos: se pressupusermos que os alunos não têm capacidade para produzirem algo oralmente (o que já seria um absurdo), se continuarmos com atividades sem muito propósito, que não estimulam a cognição, logo a fala. se os alunos não perceberem que aquela proposta tem alguma conexão com seu mundo (Segalowitz, 2010, Mattiello, 2016), terá grandes obstáculos. Por isso que disse, lá no início deste artigo, que um pouco de entendimento sobre linguística juntamente com o planejamento das aulas são fundamentais para um salto considerável na qualidade do ensino de inglês no Brasil.

Alunos quietos demais, pode significar desinteresse, que culmina com desmotivação para fala. Quanto mais conseguirmos aumentar o número de alunos que se interessem pelas nossas atividades, maior a frequência de fala em sala de aula e até mesmo fora dela (quem sabe?).

A Linguística (De Fato) Aplicada

O final dos anos 90 e começo da primeira década dos anos dois mil foram períodos muito interessantes. A internet chegou ao Brasil, as redes sociais davam seus primeiros passos, o “bug do milênio” não passou de um medo virtual e o apocalipse virou uma falácia. Além disso, presenciamos um boom de escolas de inglês que foi impressionante. As franquias praticamente brotavam em cada esquina quando o país se viu inserido no mundo graças, também, a internet. Mas qual terá sido  a fórmula mágica que as escolas de idiomas descobriram para tornar o ensino de língua estrangeira tão interessante?

A resposta pode ser mais simples do que imaginamos, só que todo o processo por trás disso é complexo e requer tempo. As escolas de idiomas fazem, cada um à sua maneira, seus alunos falarem. Esse é um dos fatores linguísticos responsáveis pelo crescimento contínuo de centros de idiomas e suas receitas “infalíveis” para se atingir a tão cobiçada fluência. Deixando de lado a eficácia das metodologias, vamos colocar todo foco sobre a grande sacada que foi desnormatizar o ensino de línguas.

Eu sei que já mencionei o trabalho de Tomasello aqui por diversas vezes, mas é que de fato seu estudo sobre desenvolvimento da língua é uma quebra de paradigma nesse tema, pois antes tínhamos somente a ideia de que a fala acontece através de um template linguístico em plano cartesiano. No eixo X, a sintaxe da língua e no eixo Y os léxicos. A partir desse modelo, Chomsky e Pinker (e mais um monte de linguístas gerativistas) publicaram brilhantemente vários estudos mostrando que esse plano cartesiano funcionava para todo mundo pois isso seria parte de uma função lógica do nosso cérebro, isto é, segundo os gerativistas nós encaixamos palavras em seus determinados lugares conforme as ouvimos. Isso seria perfeito em exemplos como (1) e (2).

(1) I run 10 miles everyday.

(2) Yo no tengo un perro.

(3) Parei de pensar e comecei a sentir.

O grande porém desse estudo que coloca o desenvolvimento da fala como algo inato é a desqualificação de um eixo do plano, o eixo Z. Esse eixo representa a intencionalidade na fala e interacionistas apostam quase todas suas fichas no cunho social para a aquisição. Esse viés social declara que nossa língua se desenvolve conforme somos expostos e vamos copiando falantes adultos tanto na parte fonética quanto na ordem e seleção léxica. Por se tratar de um estudo sob fundamentaçoes sociais, a intenção entra em jogo e consegue explicar o significado de (3), sendo que sob o olhar gerativista, pode-se pressupor que a pessoa não sentia enquanto pensava ou até mesmo que ela de fato não vai mais pensar. Pensar que a língua é um fator exposicional, como uma herança cultural mesmo (como disse Wittgenstein), coloca por terra a pobreza de estímulo que chomskinianos apresentam haja vista que a intenção de (3) é explicitamente passada para as gerações.

Eis que então alguém parou e pensou “ei! sim, nós temos cérebro e a fala contém muito de sua parte lógica que nos obriga a usar nossa cognição, mas também precisamos de interações sociais para adquirirmos a intencionalidade”. Essa é praticamente a fundação do estudo que iniciou o Usage-based Learning. A fundamentação teórica (ultra mega hiper resumida) é que nossa fala se desenvolve conforme somos expostos, pensamos e falamos. Segundo Tomasello, nossa fala tem início de maneira singular, ou seja, através de um item e conforme vamos sendo expostos, vamos raciocinando e entendendo o que colocar, onde colocar e o que queremos expressar.

(4) Gone.

(5) It’s gone.

(6) Horsey gone.

(7) The horse is gone.

Todas as instâncias vistas de (4) até (7) mostram evolução da fala conforme exposição e reforço de um falante adulto. Portanto, o que precisamos fazer com nossos alunos dentro de nossas salas de aula é incentivar a fala. E que fique bem claro que repetição, pedir pra que alunos leiam em voz alta ou simplemente pedir pra que eles criem uma frase não é encorajamento de fala. Primeiro que repetição pode ser mecanizada, não necessariamente há utilização de cognição (funções superiores), segundo que ler em voz alta também pode ser mecanizado, ou seja, o aluno pode simplesmente ler o que estiver escrito e não entender o conteúdo. Por fim, pedir para que nossos alunos inventem uma frase, usando a famosa “give me a sentence with” embora sacie a parte cognitiva do processo aquisitivo da língua, não releva o fator comunicativo (social) que, conforme foi dito anteriormente, carrega o eixo Z da intencionalidade.

Portanto, precisamos nos planejar com o maior cuidado possível para que a gente consiga promover a fala em sala de aula. Por vezes, os materiais didáticos não oferecem esses tipos de atividades. Sem problemas! Nós mesmos podemos criar exercícios para que enfim o ensino de língua estrangeira no Brasil saia da atual posição pífia e enfim nossas crianças se sintam parte do mundo. Se as escolas de idiomas conseguiram oferecer trabalhos semelhantes, a escolas regulares com certeza conseguem aprimorar.

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A Força Literária Das Mulheres

Muito tempo atrás, no início do século (21, claro), minha turma do colegial era composta por alunos “santos”, “calmos”, praticamente lordes britânicos. Só que não! A gente só inventava coisa errada, brincávamos e tirávamos sarro de todo mundo e uma das brincadeiras tinha a ver com um amigo nosso que era cabeludão e barbudão. Era a época da novela da Rede Globo “O Cravo e a Rosa” e a brincadeira que fazíamos com nosso amigo era que ele se parecia com o Petruchio, um dos protagonistas da dramaturgia. Mal sabia que aquela trollagem tinha raízes mais profundas e que, de fato, o Petruchio só é Petruchio por causa da outra protagonista, a Catarina (Katherine).

A novela em questão é uma releitura da obra de arte que Shakespeare escreveu mais de 500 anos atrás. O que faz de Shakespeare ser um gênio, e gênios são atemporais, é a capacidade e a sensibilidade que ele teve ao escrever uma comédia com a personagem Feminina tão forte e inteligente quanto o personagem masculino numa época em que igualdade de gênero não era sequer embrionário. Tudo começa pelo título: “Taming Of The Shrew” (O Adestramento do Esperto, numa tradução livre). A primeira impressão é de que se trata de uma obra machista, pois sugere que Petruchio coloque rédeas em sua noiva, com conceito completamente errado; onde já se viu um homem “adestrar” uma mulher somente por ela ter opinião formada, ser inteligente e, muitas vezes, confrontar homens. No desenrolar da leitura, percebe-se que a genialidade de Shakespeare é tão incomparável uma vez que Petruchio acaba mudando suas atitudes e Katherine também, em alguns momentos, faz concessões. Olha a força que a Katherine tem! Shakespeare foi tão cirúrgico (como sempre) ao desenvolver sua comédia que é praticamente impossível dizer quem é o Esperto e quem é o Adestrador, o que deixa mais poderosa a figura da protagonista feminina haja vista que seria impensável uma mulher enfrentar o machismo vigente daquele momento e encabeçar decisões a ponto de se remodelar o comportamento de um homem.

Para alunos, de maneira geral, ler já é chato. Ler uma obra de 60 anos atrás é muito chato. Ler algo escrito 600 anos atrás é garantia de um sono pesado, babas e roncos. Como todas as atividades que constam no lesson plan, utilizar Shakespeare, mais do que nunca, precisa ter relevância com o contexto atual de nossos students. Nossas aulas de língua inglesa poderiam até utilizar a novela da Rede Globo em conjunto com o texto, mas a novela também já ficou bem velhinha para os alunos além de estar em língua portuguesa. Trabalho em dobro. Mas como diria o maior super herói do mundo, o Chapolin Colorado: não priemos cânico. Podemos começar a ler com nossos alunos – penso em turmas do EF2 que já têm mais maturidade para discutir temas importantes – um trecho pré selecionado da obra shakespeariana e promover uma discussão da leitura no idioma alvo. Na discussão, entre outras possibilidades, pode-se fazer uma comparação dos direitos das mulheres na época e quanto elas conquistaram até o presente momento. Para trazer o tema para algo mais atrativo, o filme “10 Coisas Que Odeio Em Você” dialoga com a comédia de Shakespeare e pode ser utilizado como um task de compreensão em sala de aula e, posteriormente, promover o mesmo ou outro debate como uma segunda tarefa. Para fechar, podemos pedir que os alunos selecionem comportamentos inadequados do Petruchio e comportamentos de vanguarda da Katherine e então eles iriam recriar os momentos de “Taming Of The Shrew”, como se fosse nos dias atuais, através de um role play.

Falar da importância feminina dentro da literatura inglesa requer, por baixo, uns 490 anos para talvez conseguir cobrir tudo com detalhes. Abordar a importância das mulheres na história da humanidade então é um continuum que exigiria mais de mil anos para contar. O fato é que elas merecem seu espaço em nossas aulas de inglês não somente nesse dia em que elas são comemoradas, mas sempre que houver possibilidade porque se Shakespeare falou que elas são fortes, quem somos para ir contra o gênio.

Cê Tem Bruneva? Ou Cê Tem Bruchove?

“Mas quando alguém te disser que está errado ou errada, que não vai S na cebola e não vai S em feliz, que o X pode ter som Z e o CH pode ter som de X”. Essa letra da música do grupo O Teatro Mágico, sem querer querendo, tem uma importância linguística interessantíssima. Pois vamos aos fatos: embora a língua portuguesa seja um idioma predominantemente ortográfico, isto é, quando falamos, o fazemos conforme escrevemos as palavras, quando conversamos as palavras acabam tomando uma outra forma fonética e, às vezes, ortográfica. Sabe aquela dúvida quando vamos escrever a palavra “exceção”? Pois essa dificuldade é similar quando nossos alunos travam na hora das atividades de listening.

O início da minha nada fácil carreira (o riso é livre), tive o privilégio de trabalhar numa escola de idiomas bem famosa e o primeiro verbo que os alunos aprendiam, logo na primeira aula, era eat em sua forma infinitiva. Quando os alunos tinham contato com o modelo do áudio, eles ouviam [tüwit] (to eat), uma pronúncia diferente da canônica que seria /tü/ /it/. O resultado: quando os alunos precisavam conjugar o verbo numa frase comum, o que tínhamos era “my daughter [wits] cornflakes for breakfast“. Isso mostra que quando oralizada, a língua inglesa também sofre mutações fonéticas que favorecem a fluência, como pode ser notado na adição do fonema /w/ no verbo eat na forma infinitiva que acompanha to. E de fato quando falamos, a fluência natural da frase oferece a adição de um fonema quando há encontro de sons vocálicos na língua inglesa, e digo sons porque o inglês é uma língua sonora, diferente do português. Essa característica da língua inglesa é um dos obstáculos para nossos alunos quando tem atividades de listening, pois os students vêem a palavra escrita, ouvem os professores produzirem /it/ incansavelmente e no áudio aparece /wit/. É claro que o cérebro deles vai dar um nó.

Por isso, é muito importante, primeiramente, sairmos do nosso status quo e enfim entendermos que pronúncia se trata de algo além do conjunto de fonemas que encontramos nos dicionários para descobrirmos a pronúncia das palavras quando soltas. Por que precisamos sair dessa armadilha? Porque palavras mudam de figura quando no meio de frases durante uma conversa, por exemplo. Aqui no Brasil, os mineiros são conhecidos por fazerem essa elisão de sons como podemos notar em (1) e (2).

(1) [‘popōō’po] na cafeteira?

(2) Quantos [‘kidʒi’kaːrni] você quer?

(3) [‘wadʒju’du] that?

No entanto, não somente os mineiros são capazes de tal proeza linguística, mas os falantes de maneira geral fazem uso desse “fenômeno” que favorece a fluência da oralidade. A diferença é que como se trata de nossa língua materna, não temos costume (infelizmente) de analisar essas junções de sons nas aulas de português e quando nos deparamos com essa situação na língua inglesa (ou qualquer outra estrangeira), temos o hábito de achar que a língua em questão é um bicho de sete cabeças. Mas não é. Pois bem, o simples fato de nossos alunos perceberem que em (3) existe um conjunto de sons que antecipa a palavra that e que a entonação se trata de uma pergunta é um grande passo. Isso é o início de uma análise top-down, ou seja, é uma percepção que nossos alunos trazem por eles mesmos. Great job, guys, mas não é o suficiente.

Segundo o professor Mark Bartram é preciso saber mais do que interpretar o que algo foi dito ou escrito. No caso da leitura, o trabalho fica um pouco mais fácil, mas no caso da oralidade… aí a coisa fica séria! Portanto precisamos separar um tempinho em nossas aulas para brincar com os sons da língua inglesa para que nossos students notem que o primeiro /d/ encontrado em (3) se trata de uma elisão da palavra did – embora eu classificaria como um quase extermínio da palavra – que se funde com a palavra you. A menos que esse tipo de trabalho bottom-up, ou seja, que uma análise que a fala ou o texto promove aos alunos, tenha sido realizado anteriormente, de fato encontraremos students travados nessa parte da atividade de listening.

Portanto, meu amigo professor, quando estiver preparando seu lesson plan, quer seja pra alunos avançados ou os pequeninos, reserve um espacinho para discutir as nuances sonoras que a língua inglesa oferece. Quanto antes fizermos esse trabalho, menor será a chance de termos alunos chegando ao colegial com dificuldades extremas nas atividades de listening, sem contar que a fala também irá melhorar.

Around The World With English Language

Getting around to world to know it. Knowing that chopsticks are the silverware in Japan, that India has a religious perspective different from ours, knowing that Germany was once divided by a wall, that Brazil (our land) has states with no beaches. All this info play an important role in the acquisition process of a second language and having students without access to that knowledge or maybe not motivating them to acquiring such knowledge contributes to a poor performance from Brazilian students with regard to English as a second language. It’s time to make a change.

You might ask me ‘what’s the relation between learning English and knowing that Finland can go through a 6-month period without a blue sky’? Well, all possible. Starting from the awareness that the world is bigger than the community where our students live, that in certain places they may find different people speaking different languages. Thus, understanding that there places where people refer to something they liked using an expression other than ‘que da hora’ is fully relevant for ESL classes and the upcoming book of Professor Cláudia Zuppini for teachers development has an entire chapter about it. For our students with a better performance in English – or maybe those who have a clearer understanding of the language – language transfer is easier when learning that ‘que da hora’ is equivalent to ‘that’s awesome’ in English as it was mentioned before in our article about the use of native language in ESL classes. bur for the students who are still taking the first steps of the second language acquisition path – our younger students – our job finds obstacles for they don’t have the cultural knowledge yet due to their early age and sometimes the socio-financial situation of our students don’t allow the blooming of such knowledge. Thus, we teachers have double work: ring the students the cultural knowledge and turn it into linguistic knowledge, have them understand that the world is gigantic and that learning English as a second language will make the world just as close as our noisy neighbor.

How to bring together all the places of this planet and have them be close to our students given the difficulties our students have to travel and get to know the Eiffel Tower, for instance? Super easy. All it takes is a cardboard and a cutting-edge technology of virtual reality. Google has been invested in its educational department and it has just released the Expeditions, a virtual reality cardboard that let students “visit” any place in the world. Let’s try to come up with an activity for students of the first grades of elementary. The main goal here is to make students talk (of course that reading and writing are also important), so if we use this device and send our kids out in field trip to NY’s zoo, we are going to work on the acquisition of new vocabs, but in a very contextualized manner and also inserted in the syntactic structure. we can divide the class in two parts – since English classes in Brazil take place once or maybe twice a week and last 50 minutes in the average. In the first class of the week we can use our time to use the first two Ps: Presentation so we present what is new which is in our example here names of animals and sounds they produce. Then, the students can Practice with the assistance of flashcards and guidance from the teacher when they’ll tell the names of the animals they see and also the sound they make, all that in the target language. So far, everything looks simple and trivial. In the Performance phase, during the second class of the week, Google Expeditions comes in. After the presentation phase, have students “visit” NY’s zoo so that they know the animals from all parts of the world and later on present to the class the coolest animals and their sounds. as a follow-up activity, the teacher can compare the sounds animals make in Brazil with the ones in English.

The world is really big and we must try to show it the most we can to our students. Knowledge beyond community stimulates them to communicate, besides giving the students information that there are languages other than that they speak, and with regard to English, it is an international language. Travelling around the world is an impossible task to perform with all our students, but technology has come to our help. Have the students get acquainted with other cultures, it will trigger a global awareness that will definitely enhance the acquisition process of a second language.

Well-Structured Classes Give You Wings

I have already mentioned in previous articles the importance of having a 3P structure for our lesson plan, but I have never dove into this issue because otherwise we would turn a simple 500-word article into a book. However, it is possible to detail this structuring through Lecercle’s speaker/listener system and how it promotes autonomy of our students – because autonomy.

Lecercle’s communication structure (1999) establishes that a speaker utilizes cognition to organize utterances and then produce them. All this linguistic information – phonetic combination, syntactic structure, lexical choices, intention, etc – reach the listener who has the role of decoding what is being spoken, understand the information and formulate his own reply once is his turn to talk. This system turns listening into an active skill and we can do the same with our students in the classroom (that’s why I insist in saying that teacher have to develop their lesson plan and not only lean on textbooks). Making our students listen and speak gives them an opportunity to use their higher functions (cognition) to make out what is being said to them and also it allows them to produce and such production is the main step to have them work freely.

The deal here to make our students have more and more autonomy, which here is the use of English to perform tasks, is to develop our lesson plan very well and carefully. Brazil is still at the baby-step phase with regard to the implementation of student-centered culture, but we English teachers can start promoting it and dividing our classes in sections Presentation, Practice, Performance makes the assignment of this freedom to do their activities more natural and these activities are going to be developed to meet the needs of our students. In order to shorten this article and not make you doze off or lose interest and turn on the TV – I myself do doze off when texts are too long – I’m going to put the highlight on the last P, Performance. This is the phase that we teachers worry about having our students work freely. Debates, role plays, games are some of the tasks that promote students’ autonomy for, in a drilling phase, we can challenge our students with tasks which communication in the target language is essential for the activity to be successful. Our role then is to pay close attention at our students’ performances (remember that the grouping and pairing them up facilitates) without any sort of interference. After all, we seek student autonomy and having them talk, listen, understand and solve problems is our goal. If we put our hands in it, we break the whole purpose of the activity.

We sure talked about only a chunk of our lesson plan and many other things can be done in the other P-sections of our classes. However, what matters is that we create activities that are relevant and promote autonomy by speaking the target language (English in this case). This will only happen if we prepare our classes, if we teachers leave the status quo and try to commit to developing our lesson plans. The activities will certainly be positive more often for nobody knows students better than the teachers.

We’re Not Robots

Me lembro que anos atrás uma propaganda de algum centro de idiomas brincava com outra rede sobre o fato de os alunos ficarem repetindo coisas feito papagaios, mecanizados. De fato, essa metodologia neurolinguísta tem suas vantagens, mas o processo de aquisição de linguagem precisa de mais. Nós aprendemos e desenvolvemos nossa fala através de repetição, imitação do que adultos falam sem necessariamente sabermos se é possível estender aquele padrão para outros exemplos da língua. Crianças fazem isso até seus 5 anos de idade em média e jovens adultos que aprendem uma língua estrangeira também apresentam o mesmo comportamento. Mas nós não somos robôs.

O que acontece com crianças e alunos de inglês como língua estrangeira é que frases formuladas são ensinadas e entendidas, no entanto nossos alunos tendem a querer utilizar o mesmo padrão linguístico para criar outras respostas. Ou seja, os alunos entendem perfeitamente a intenção comunicativa daquela frase fixa, mas eles têm tendência de querer entender as características comunicativas de cada elemento da frase e por isso vão, através de tentativa e erro,  migrando esses elementos para suas produções diversas até que eles recebam um feedback positivo e aprendam a forma mais apropriada, caso haja uma. Vamos ver se conseguimos ilustrar o que nossos alunos fazem e vejam se vocês reconhecem esse tipo de comportamento e se já passaram por algo do tipo.

(1) Thank you.

(2) Don´t mention it.

O que temos em (1) e (2) são pares comunicativos comuns de agradecimento e reconhecimento. Porém, o que nossos alunos, sejam eles crianças e adultos (menos em adultos), vão tentar fazer é entender cada elemento frásico e utilizá-los, de alguma maneira, em outros contextos que talvez não sejam adequados. Por exemplo, pode ocorrer a associação de que mention seja sinônimo de say e então pode causar confusão quando nosso alunos quiserem agradecer como podemos ver em (3) e (4).

(3) Thanks.

(4) #Don’t say it.

Ok. Repetir feito papagaios não é legal só que também não podemos nos esquecer de que o tempo de aula é bem reduzido. Como trabalhar, então, expressões linguísticas fixas tipo thank you, how are you doing, long time no see you, etc? Vamos ver se a gente consegue desenvolver uma prática legal então. Podemos utilizar fotos ou figuras de pessoas famosas variando entre políticos, artistas da TV e cinema, cantores para serem utilizadas no começo da aula no momento do aquecimento (warm up) para que nossos alunos digam quem são, o que fazem e percebam a importância de posição que cada um possui. Com isso, passamos delicadamente a noção de formalidade. Para trablharmos  o par thank you/you’re welcome e suas variáveis, induzimos o aluno a produzir o que ele já sabe para agradecimentos: pressupondo conhecimento para you’re welcome. Então oferecemos uma nova maneira com don’t mention it e passamos para a fase de prática.

Para fazer nosso alunos praticarem, podemos separá-los em duplas e, através de uma pré-produção colando fotos de rostos de pessoas famosas embaixo das carteiras dos alunos, diga para eles colocarem as “máscaras” e peçam coisas uns aos outros. Assim eles vão se divertir e praticar sem parecerem robôs. Caso algum aluno faça confusão, como no caso que mencionei no começo deste texto, estaremos atentos para que os alunos não produzam de maneira mecanizada. Afinal, o único robô que consegue falar a mesma coisa por anos e fazer sucesso é o exterminador do futuro em seus filmes.

Volta Ao Mundo Com A Língua Inglesa

Conhecer o mundo. Saber que no Japão existem dois pauzinhos para comer, saber que a Índia tem um ponto de vista religioso diferente do nosso, saber que a Alemanha já foi dividida por um muro, saber que no Brasil (sim, nossa casa) existem estados sem praia. Todas essas informações interferem no processo de aquisição de língua estrangeira e termos alunos sem acesso a esse conhecimento ou não motivá-los a buscar adquirir esse conhecimento contribui, negativamente, com o desempenho muito fraco dos alunos brasileiros em língua inglesa. Chegou a hora de mudar isso.

Vocês podem me perguntar “qual a relação entre aprender inglês e saber que a Finlândia pode passar 6 meses sem céu azul”? Toda. Começa pela conscientização de que o mundo é maior que a comunidade em que o aluno vive, de que existem lugares em que as pessoas são diferentes e que falam línguas diferentes. Portanto, saber que em outros lugares, pessoas não falam “que da hora” como referência a algo muito legal tem total relevância com o ensino de inglês e o próximo livro da Professora Cláudia Zuppini para formação de professores vai abordar esse tema. Pros alunos que têm a língua inglesa mais consolidada – ou àqueles que têm um pouco mais da noção da língua – fica mais facilitado o trabalho de se transferir o “da hora” pra “that’s awesome” conforme falamos no artigo sobre uso da língua materna no ensino de inglês. Mas para os alunos que ainda estão iniciando o caminho da aquisição – nossos alunos mais novinhos – nosso trabalho complica, pois eles não possuem tal conhecimento do mundo em função da pouca idade e, às vezes, o fator socio-econômico não permite que esse conhecimento desabroche. Portanto, precisamos fazer dois trabalhos em um: levar aos alunos o conhecimento de mundo e transformá-lo em conhecimento linguístico, fazer com que eles, desde pequenos, saibam que o mundo é gigantesco e que saber a língua inglesa pode tornar nosso planeta tão próximo quanto aquele vizinho barulhento.

Como fazer com que os lugares do mundo fiquem próximos de nossos alunos sendo que é complicadíssimo fazer com que todos eles vejam e conheçam a Torre Eiffel, por exemplo? Fácil! Bastam uma cartolina e uma tecnologia de realidade virtual de ponta. O Google tem investido bastante na sua área educacional e acabou de promover o Expeditions, cardboard de realidade virtual em que os alunos conseguem “visitar” qualquer lugar do mundo. Vamos pensar em uma atividade com nossos alunos do Ensino Fundamental I. O grande objetivo de nossas aulas de inglês é fazer com que os alunos falem (claro que a leitura e a escrita também são muito importantes), então se usarmos essa tecnologia e mandarmos a criançada fazer uma expedição ao zoológico de Nova Iorque, trabalharemos a aquisição de novos vocabulários, mas de maneira bem contextualizada e inseridos na estrutura sintática da língua inglesa. Podemos dividir a aula em duas – uma vez que as aulas de inglês não têm incentivo e sua carga horária é pífia. A primeira aula, podemos usar o tempo para os dois primeiros Ps: presentation, para apresentar o conteúdo que, no caso são os animais e seus sons. Depois os alunos podem praticar com a ajuda de flashcards mostrados pelo professor em que eles dizem os nomes dos animais com os sons que cada um faz, claro, em inglês. Até aí tudo muito simples e até trivial. Pois é na fase de Performance, durante a outra aula da semana, que o Google Expeditions entre em destaque. Após a aula de apresentação de alguns animais e sons que eles produzem, peça aos alunos para “visitarem” o zoológico de Nova Iorque para conhecer os mais diversos animais do mundo e apresentar pra turma os animais mais legais e os sons que eles fazem e como follow-up, o professor pode oferecer nessa atividade é comparar os nomes dos sons dos animais do Brasil com as onomatopeias na língua inglesa.

O mundo é grande e precisamos tentar mostrar o máximo que pudermos aos nossos alunos. O conhecimento além comunidade em que eles vivem, além de mostrar que existem outras línguas, estimula os alunos a se comunicarem e, no caso do inglês, além de ser uma das línguas com as quais os alunos podem ter contato, é um idioma internacional. Viajar pelos quatro cantos do mundo é impossível com todos nossos alunos, mas a tecnologia veio para ajudar. Façam seus alunos conhecerem outras culturas, isso vai despertar uma conscientização global neles que vai ajudar no processo de aquisição de língua estrangeira.