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Precisamos Reavaliar o Ensino de Língua Inglesa

Muitas escolas estão entrando na onda da nova moda educacional: oferecer ensino bilíngue. Primeiro, precisamos deixar bem claro aqui que muitas não são bilíngues de fato, mas oferecem um ensino de língua inglesa com carga horária bem diferenciada, o que já é muito interessante. O que muitas escolas ainda não se deram conta é que o motivo pelo qual elas ensinam uma língua estrangeira é para que os alunos, e não os pais, tenham benefícios e no caso de um idioma, é impactar a comunidade. Leia mais

Os Benefícios do “Simon Says”

Não faz parte do meu gênero musical favorito, mas existe uma letra de pagode dos anos 90 que diz “brincadeira de criança/como é bom” e mal sabia que décadas depois, esse trecho iria fazer tanto sentido. Principalmente no que diz respeito às aulas de língua inglesa. Se bem feita, na medida certa, essa brincadeira trabalha a habilidade auditiva dos alunos de uma maneira bem eficaz.

Um dos desafios de se trabalhar a parte auditiva de nossos alunos é fazer com que eles compreendam as nuances fonológicas que englobam pronúncia, rítmo e aglutinação/combinação de sons (sem levar em consideração a regionalidade).  Após a decodificação da parte fonológica, nossos alunos têm que compreender aquilo que lhes foi dito para então decidir se a mensagem foi literal ou se existe algum tipo de figura de linguagem, pressupostos ou implícitos, elementos que  complementam a decodificação. Somente após isso tudo acontecer, que nossos alunos vão formular sua resposta – no máximo paralelamente a esse processo. Esse esquema, presente no trabalho de Segalowitz (2010) e Mattiello (2016), se alinha com desmitificação da passividade da habilidade auditiva que por décadas era rotulada como uma habilidade em que os alunos se posicionavam de forma passiva sobre aquilo ao qual eram expostos.

A brincadeira Simon Says explora, da maneira mais lúdica possível, o processo de decodificação auditiva. O esquema de Lecercle (1999) também está adequado à essa brincadeira, vamos entender como:

  • O professor dá o comando de voz para os alunos. Por exemplo, “Simon says ‘jump'”.
  • Os alunos têm que entender o comando e realizar exatamente aquilo que é pedido pelo professor através do comando. Ou seja, os alunos devem pular.

De acordo com Lecercle, a produção do locutor – aqui na função do professor – chega até os ouvidos do interlocutor que precisa compartilhar do mesmo background (as regras da brincadeira) para que a conversa tenha continuidade, e então o interlocutor irá compreender a mensagem (“jump”). Se fizermos uma transferência, podemos adotar o background compartilhado como sendo as características fonológicas da língua, o que dá a essa troca uma camada extra de dados a serem compartilhados no sistema locutor/interlocutor. Vamos entender melhor:

(1) Simon says bark.

(2) Ruf ruf ruf.

A carga semântica de (1) precisa ser de conhecimento do aluno, conforme dito anteriormente. Porém, os alunos também precisam ter ciência da combinação  fonológica da produção das palavras, caso contrário, tudo que eles irão ouvir é um amontoado de sons. Esse compartilhamento é tão importante que, caso os interlocutores tenham adquirido conhecimento fonológico da língua inglesa mais frequente nos Estados Unidos, se o locutor por acaso  tiver sotaque britânico de uma determinada comunidade, teremos [bɑːk] (diferentemente do americano [bɑrk]) e há uma grande probabilidade que os alunos não entendam o que eles devem fazer.

Mas como nem tudo é sempre mil maravilhas, se os professores brincarem de Simon Says com uma frequência alta e sem fazer algumas modificações, os alunos podem ficar condicionados. Por exemplo, se os verbos forem sempre os mesmos, óbvio que a criançada, muito esperta, vai ligar o automático quando você falar jump, sit, etc. Pra dar uma variada na brincadeira, você pode ter uma lista nova de verbos a cada vez que for brincar ou quem sabe pedir para que alguns alunos sejam os que ditem “Simon says”. Esse revezamento pode fazer com que os alunos que estiverem na posição de interlocutores tenham contato com outros backgrounds  fonológicos e o professor, de quebra, tem a chance de avaliar a fala do aluno.

É impressionante como uma brincadeira, um jogo, pode ter um viés de aprendizado de língua tão inerente, a ponto de poder ser suportado por estudos linguísticos que, com certeza, não foram realizados com a finalidade de serem úteis no desenvolvimento de uma brincadeira para crianças. Por isso, jogar Simon Says com os alunos é muito importante, mas como tudo o que fazemos em sala de aula, é necessário preparo para não ficar uma brincadeira pela brincadeira. Afinal, o lúdico carrega objetivos também.

 

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The Sound of The Music

Eu sou fã incondicional dos Beatles, adoro a pegada do som do Jack Johnson e Donavon Frankenreiter quando quero relaxar e todo dia fico com o peso do heavy metal na orelha quando vou pra academia. A música está sempre comigo na correria do meu cotidiano, mas quando eu precisava desenvolver atividades de listening para meus alunos, pensava duas vezes antes de usar música.

Trabalhar a parte auditiva num idioma que é puramente fonético (o inglês) é imprescindível, pois a parte ortográfica pode não coincidir com a maneira que se pronuncia tal palavra. Se analisarmos os verbos presentes em (1) – (3) poderemos perceber que eles contém a vogal da última sílaba em igualdade – /eI/. Nossos alunos, por causa da língua materna, e existe um gap automático entre o início do processo da língua materna (Lø) e da língua estrangeira, estão condicionados a ver uma palavra com a terminação ‘ade’ e já produzem [adʒi] como em (5). Se não houver nenhum tipo de exposição dos alunos com as palavras (1) – (3), eles não irão notar a diferença entre os sons afinal, “onde já se viu A ter som de E”. Esse tipo de aprendizado só vai acontecer se eles ouvirem essas palavras e se acostumarem com a ordem fonética delas, ou seja, através das atividades de listening.

(1) Forbade

(2) Blade

(3) Persuade

(4) Façade

(5) Saudade

Conforme formos aplicando as atividades de listening em nossas turmas, os alunos também irão se acostumar que em inglês a terminação ‘ade’ significa /eId/ e irão super generalizar seu uso, mas quando eles se depararem com (4), podem cair na armadilha. A palavra façade, apesar de ter terminação ‘ade’, não segue a regra encontrada em (1) – (3) e apresenta a pronúncia /ɑd/ – com abertura total da boca na vogal principal. Mais uma vez, nossos alunos só irão entender essa mudança caso eles tenham ótimos teachers que ofereçam atividades  que os instiguem a perceber todas essas diferenças fonéticas.

O maior desafio que encontramos ao trabalhar a habilidade auditiva de nossos alunos é ampliar o alcance, isto é, fazer com que os alunos não fiquem com sua atenção voltada somente a uma palavra ou duas, mas sim que eles tenham o entendimento literal delas e também seu contexto para que então eles possam desenvolver seu pensamento crítico. Quando ouvimos, quer seja em nossa língua materna ou estrangeira, temos alguns passos até chegar o entendimento. Primeiro, buscamos pelo entendimento literal das palavras quer seja através do nosso conhecimento externo, do mundo, quer seja pelo interno, próprio. Depois, vamos entendendo a ordem sintática da fala do locutor para enfim entendermos o significado, a intenção daquilo que foi falado (Segalowitz, 2010: loc. 471, Mattiello, 2016: 117). É exatamente aí que as atividades com músicas têm um gap.

Oferecer as famosas atividades com música para os alunos é muito bom para fazer com que eles se acostumem com os sons da língua estrangeira, mas não oferece a profundidade necessária. Geralmente essas atividades têm a seguinte estrutura: o professor oferece aos alunos uma folhinha com a letra da música faltando algumas palavras, o professor toca a música e os alunos têm que preencher a atividade entregue com aquilo que eles ouviram durante a música. O primeiro problema que podemos encontrar é estrutural ou seja, o plano de aula dessa atividade apresenta alguns buracos. Por exemplo, onde está a apresentação de palavras novas que são essenciais para a performance dos alunos? Talvez a letra da música tenha algumas palavras que são desconhecidas dos alunos, por isso é importante ensiná-las antes de tocar o áudio. A música tem relevância para os alunos? Claro que todos gostam de música, mas gostar não necessariamente significa ser relevante. Não é porque sou fã dos Beatles que eu vou querer saber quais palavras eles falam em Hey Jude (o Google oferece isso) ou talvez o momento não seja oportuno.

A parte mais importante que deveria ser trabalhada, o entendimento semântico e pragmático da música, fica perdida nesse tipo de atividade. Se ficarmos somente limitados a algumas frases ou palavras, todo entendimento do que foi falado some. É preciso que as atividades de listening ofereçam aos alunos a chance para que eles entendam de fato a mensagem do locutor, quer dizer, eu preciso saber que em Hey Jude, os Fab Four falam para um rapaz que ele deve ir atrás do que ele almeja, no caso, reconquistar um amor. Esse tipo de entendimento só é possível depois de ouvir inúmeras vezes. Claro, a parte lexical é, sim importante, mas se (6) fizesse parte desse tipo de atividade, o que o aluno pensaria?

(6) The minute you let her under your skin.

Por mais que os alunos tivessem que preencher com o que eles ouvissem e conseguissem ouvir palavra por palavra, eles não iriam entender o significado dessa frase. Oras, eles sabem let, sabem her, under com certeza, your também, skin eles sabem, mas esse meaningful chunk vai passar batido pelos alunos e, por isso, atividades com músicas – as tradicionais – sempre apresentam brechas no aprendizado de uma língua estrangeira. Caso a música tenha relevância e sua utilização seja imprescindível, lembre-se de oferecer uma estruturação pra aula e antes de tocar o áudio, faça perguntas de interpretação também, mas sem a folhinha. A folhinha faz com que os alunos acabem lendo e não necessariamente ouvindo e ao interpretar sem ela, eles demonstram que de fato conseguiram ouvir e entender a música.

Obviamente que os alunos adoram ouvir música, nós também gostamos, mas quando o assunto é trabalhar a parte auditiva nas aulas, uma sugestão seria usar conversas, diálogos, algo mais real pois músicas tem a parte instrumental que pode prejudicar o entendimento da letra. Além disso, procure sempre estruturar as atividades de audição para que os alunos também tenham oportunidade para entender o que está sendo dito ou cantado. Completar as folhinhas é uma prática bem comum, mas não muito eficaz e não queremos que nossos alunos tenham uma formação claudicante.

A Linguística (De Fato) Aplicada

O final dos anos 90 e começo da primeira década dos anos dois mil foram períodos muito interessantes. A internet chegou ao Brasil, as redes sociais davam seus primeiros passos, o “bug do milênio” não passou de um medo virtual e o apocalipse virou uma falácia. Além disso, presenciamos um boom de escolas de inglês que foi impressionante. As franquias praticamente brotavam em cada esquina quando o país se viu inserido no mundo graças, também, a internet. Mas qual terá sido  a fórmula mágica que as escolas de idiomas descobriram para tornar o ensino de língua estrangeira tão interessante?

A resposta pode ser mais simples do que imaginamos, só que todo o processo por trás disso é complexo e requer tempo. As escolas de idiomas fazem, cada um à sua maneira, seus alunos falarem. Esse é um dos fatores linguísticos responsáveis pelo crescimento contínuo de centros de idiomas e suas receitas “infalíveis” para se atingir a tão cobiçada fluência. Deixando de lado a eficácia das metodologias, vamos colocar todo foco sobre a grande sacada que foi desnormatizar o ensino de línguas.

Eu sei que já mencionei o trabalho de Tomasello aqui por diversas vezes, mas é que de fato seu estudo sobre desenvolvimento da língua é uma quebra de paradigma nesse tema, pois antes tínhamos somente a ideia de que a fala acontece através de um template linguístico em plano cartesiano. No eixo X, a sintaxe da língua e no eixo Y os léxicos. A partir desse modelo, Chomsky e Pinker (e mais um monte de linguístas gerativistas) publicaram brilhantemente vários estudos mostrando que esse plano cartesiano funcionava para todo mundo pois isso seria parte de uma função lógica do nosso cérebro, isto é, segundo os gerativistas nós encaixamos palavras em seus determinados lugares conforme as ouvimos. Isso seria perfeito em exemplos como (1) e (2).

(1) I run 10 miles everyday.

(2) Yo no tengo un perro.

(3) Parei de pensar e comecei a sentir.

O grande porém desse estudo que coloca o desenvolvimento da fala como algo inato é a desqualificação de um eixo do plano, o eixo Z. Esse eixo representa a intencionalidade na fala e interacionistas apostam quase todas suas fichas no cunho social para a aquisição. Esse viés social declara que nossa língua se desenvolve conforme somos expostos e vamos copiando falantes adultos tanto na parte fonética quanto na ordem e seleção léxica. Por se tratar de um estudo sob fundamentaçoes sociais, a intenção entra em jogo e consegue explicar o significado de (3), sendo que sob o olhar gerativista, pode-se pressupor que a pessoa não sentia enquanto pensava ou até mesmo que ela de fato não vai mais pensar. Pensar que a língua é um fator exposicional, como uma herança cultural mesmo (como disse Wittgenstein), coloca por terra a pobreza de estímulo que chomskinianos apresentam haja vista que a intenção de (3) é explicitamente passada para as gerações.

Eis que então alguém parou e pensou “ei! sim, nós temos cérebro e a fala contém muito de sua parte lógica que nos obriga a usar nossa cognição, mas também precisamos de interações sociais para adquirirmos a intencionalidade”. Essa é praticamente a fundação do estudo que iniciou o Usage-based Learning. A fundamentação teórica (ultra mega hiper resumida) é que nossa fala se desenvolve conforme somos expostos, pensamos e falamos. Segundo Tomasello, nossa fala tem início de maneira singular, ou seja, através de um item e conforme vamos sendo expostos, vamos raciocinando e entendendo o que colocar, onde colocar e o que queremos expressar.

(4) Gone.

(5) It’s gone.

(6) Horsey gone.

(7) The horse is gone.

Todas as instâncias vistas de (4) até (7) mostram evolução da fala conforme exposição e reforço de um falante adulto. Portanto, o que precisamos fazer com nossos alunos dentro de nossas salas de aula é incentivar a fala. E que fique bem claro que repetição, pedir pra que alunos leiam em voz alta ou simplemente pedir pra que eles criem uma frase não é encorajamento de fala. Primeiro que repetição pode ser mecanizada, não necessariamente há utilização de cognição (funções superiores), segundo que ler em voz alta também pode ser mecanizado, ou seja, o aluno pode simplesmente ler o que estiver escrito e não entender o conteúdo. Por fim, pedir para que nossos alunos inventem uma frase, usando a famosa “give me a sentence with” embora sacie a parte cognitiva do processo aquisitivo da língua, não releva o fator comunicativo (social) que, conforme foi dito anteriormente, carrega o eixo Z da intencionalidade.

Portanto, precisamos nos planejar com o maior cuidado possível para que a gente consiga promover a fala em sala de aula. Por vezes, os materiais didáticos não oferecem esses tipos de atividades. Sem problemas! Nós mesmos podemos criar exercícios para que enfim o ensino de língua estrangeira no Brasil saia da atual posição pífia e enfim nossas crianças se sintam parte do mundo. Se as escolas de idiomas conseguiram oferecer trabalhos semelhantes, a escolas regulares com certeza conseguem aprimorar.

#InglesNoEnsinoPublico

Em um de seus memoráveis discursos, John Kennedy uma vez disse: “Não pergunte o que seu país pode fazer para você. Pergunte o que você pode fazer pelo seu país.” Bom, vivemos num país em que temos que suprir a falta que os governos Federal, Estadual e Municipal fazem no que tange, no nosso caso, educação de qualidade. Como podemos querer que nosso país tenha um papel importante no cenário mundial sendo que nossas crianças do Ensino Fundamental da rede pública de educação, em muitas cidades, não têm em sua grade curricular ensino de línguas estrangeiras obrigatório, pois de acordo com o MEC, nossas crianças só precisam aprender um outro idioma a partir do Ensino Fundamental II (espero que vocês tenham lido isso com o tom sarcástico que o texto infelizmente não me permite colocar).

Talvez as pessoas responsáveis pela educação dos brasileirinhos estejam se esquecendo da importância que o multilinguismo traz. Prometo não escrever uma novela completa aqui nos artigo de hoje, então vou elencar somente alguns fatos para dar início ao nosso movimento que pede ensino de línguas estrangeiras em todas as séries do ensino público. Vamos imaginar a seguinte situação: você está dirigindo seu carro pela estrada quando avista uma placa de curva acentuada que vai chegar em 300m. Nosso cérebro envia informações para que a gente reduza a velocidade, mude a marcha do carro e continuemos nossa viagem. Quando somos multilíngues, nosso cérebro tem processamento similar de preparação, o chamado Controle. Passamos grande parte do nosso tempo falando nossa língua materna (L1) e momentos antes de se entrar num contexto em que uma língua estrangeira (L2) será utilizada, inibimos L1 para que a produção de L2 ganhe espaço (Baum & Titone: 862, 2014). Portanto, essa capacidade de organização linguística também desencadeia em benefícios organizacionais cognitivos nos alunos que aprendem outros idiomas como, por exemplo, atenção seletiva (Bialystock & Majumder, 1998; Martin-Rhee & Bialystock, 2008). Isto é, nossas crianças terão facilidade em direcionar seu foco em múltiplas tarefas sem perder a qualidade, sabendo dar a devida atenção, no caso de matérias escolares, para cada aula que nossos alunos têm ao longo do dia. De um jeito mais lúdico, é como se as pessoas multilíngues tivessem um interruptor para cada conhecimento e dessem um on/off quando necessário. Outro benefício cognitivo que o multilinguísmo oferece aos alunos é o processamento de metalinguagem. Todo professor faz uso de um discurso metalinguístico para passar a matéria aos alunos, ou seja, o professor de Biologia usa a língua para ensinar os termos (a língua) da biologia e os alunos multilíngues tem uma vantagem pois usam a mesma estratégia para se comunicarem nos idiomas que sabem.

A questão social também tem interferência quando nossos brasileirinhos que estudam na rede pública de ensino aprendem outros idiomas. Nossos colegas que trabalham com educação têm se movimentado para pedir uma internet mais digna (se é que existe uma velocidade digna no Brasil) vão encontrar obstáculos quando os alunos começarem a pesquisar informações e novidades que estarão em inglês (assumindo inglês como língua global). A língua estrangeira vai ser a responsável final para que nossos alunos tenham acesso a novos horizontes, novas formas de pensar e expandam suas fronteiras. Com certeza nossas alunas já ouviram falar no Barack Obama, Presidente dos Estados Unidos, mas será que elas já ouviram falar na candidata a sua sucessora, a Hilary Clinton? Imaginem o efeito que o conhecimento das ideias de uma mulher gabaritada para ser a mais alta representante de uma potência mundial pode ter em nossas brasileirinhas de uma comunidade menos favorecida economicamente. Em uma entrevista que concedi à Educaderia, disse que não sou neurologista para saber se o conhecimento de outros idiomas mudam a forma de pensar de uma pessoa, mas posso afirmar, como línguísta, que a língua estrangeira expõe pessoas a diferentes perspectivas e isso sim interfere no pensamento. Talvez nossos brasileirinhos não tenham, de imediato, a chance de conhecer outros países, mas se eles conseguirem ter acesso a informação através de sua competência linguística já aumenta sua bagagem cultural e se esse estímulo ocorrer por causa das aulas de língua estrangeira, o caminho para a autonomia será facilitado, porque eles terão mais uma ferramenta para trabalharem sozinhos: a língua.

Portanto, fica aqui minha sugestão que espero atingir não somente meus colegas teachers e linguístas, mas também todos os professores de outras matérias, coordenadores, diretores, profissionais da educação, pais, familiares e todos que querem ver a formação de uma geração futura acontecer para, quem sabe, daqui 10 ou 15 anos esses brasileirinhos mudarem muita coisa em nosso país. Por isso, gostaria que vocês lesse e compartilhassem este humilde artigo e utilizassem a marcação #InglesNoEnsinoPublico para fazermos com que nossos alunos da rede pública de ensino tenham, por lei, ensino de língua estrangeira desde o início do Ensino Fundamental. Juntos a gente consegue fazer com que essa importante mudança aconteça

We’re Not Robots

Me lembro que anos atrás uma propaganda de algum centro de idiomas brincava com outra rede sobre o fato de os alunos ficarem repetindo coisas feito papagaios, mecanizados. De fato, essa metodologia neurolinguísta tem suas vantagens, mas o processo de aquisição de linguagem precisa de mais. Nós aprendemos e desenvolvemos nossa fala através de repetição, imitação do que adultos falam sem necessariamente sabermos se é possível estender aquele padrão para outros exemplos da língua. Crianças fazem isso até seus 5 anos de idade em média e jovens adultos que aprendem uma língua estrangeira também apresentam o mesmo comportamento. Mas nós não somos robôs.

O que acontece com crianças e alunos de inglês como língua estrangeira é que frases formuladas são ensinadas e entendidas, no entanto nossos alunos tendem a querer utilizar o mesmo padrão linguístico para criar outras respostas. Ou seja, os alunos entendem perfeitamente a intenção comunicativa daquela frase fixa, mas eles têm tendência de querer entender as características comunicativas de cada elemento da frase e por isso vão, através de tentativa e erro,  migrando esses elementos para suas produções diversas até que eles recebam um feedback positivo e aprendam a forma mais apropriada, caso haja uma. Vamos ver se conseguimos ilustrar o que nossos alunos fazem e vejam se vocês reconhecem esse tipo de comportamento e se já passaram por algo do tipo.

(1) Thank you.

(2) Don´t mention it.

O que temos em (1) e (2) são pares comunicativos comuns de agradecimento e reconhecimento. Porém, o que nossos alunos, sejam eles crianças e adultos (menos em adultos), vão tentar fazer é entender cada elemento frásico e utilizá-los, de alguma maneira, em outros contextos que talvez não sejam adequados. Por exemplo, pode ocorrer a associação de que mention seja sinônimo de say e então pode causar confusão quando nosso alunos quiserem agradecer como podemos ver em (3) e (4).

(3) Thanks.

(4) #Don’t say it.

Ok. Repetir feito papagaios não é legal só que também não podemos nos esquecer de que o tempo de aula é bem reduzido. Como trabalhar, então, expressões linguísticas fixas tipo thank you, how are you doing, long time no see you, etc? Vamos ver se a gente consegue desenvolver uma prática legal então. Podemos utilizar fotos ou figuras de pessoas famosas variando entre políticos, artistas da TV e cinema, cantores para serem utilizadas no começo da aula no momento do aquecimento (warm up) para que nossos alunos digam quem são, o que fazem e percebam a importância de posição que cada um possui. Com isso, passamos delicadamente a noção de formalidade. Para trablharmos  o par thank you/you’re welcome e suas variáveis, induzimos o aluno a produzir o que ele já sabe para agradecimentos: pressupondo conhecimento para you’re welcome. Então oferecemos uma nova maneira com don’t mention it e passamos para a fase de prática.

Para fazer nosso alunos praticarem, podemos separá-los em duplas e, através de uma pré-produção colando fotos de rostos de pessoas famosas embaixo das carteiras dos alunos, diga para eles colocarem as “máscaras” e peçam coisas uns aos outros. Assim eles vão se divertir e praticar sem parecerem robôs. Caso algum aluno faça confusão, como no caso que mencionei no começo deste texto, estaremos atentos para que os alunos não produzam de maneira mecanizada. Afinal, o único robô que consegue falar a mesma coisa por anos e fazer sucesso é o exterminador do futuro em seus filmes.

Aulas Bem Estruturadas Te Dão Asas

Eu já comentei em outros artigos sobre a importância de se aderir a estrutura dos 3Ps na realização do lesson plan, mas nunca fui mais ao fundo nesse assunto porque senão isto não seria um simples artigo de 450, 500 palavras, mas sim um livro. No entanto, é possível detalhar essa estruturação com o sistema locutor / inerlocutor de Lecercle e como isso promove a autonomia de nossos alunos – afinal a moda outono / inverno de 2015 é a autonomia.

A estrutura de comunicação de Lecercle (1999) prevê que um locutor utilize sua cognição para organizar sua fala e produzi-la. Toda essa informação linguística – combinação fonética, estrutura sintática, escolha lexical, intenção, etc – chegam até o interlocutor que tem a função de decodificar o que está sendo falado, entender a informação e formar sua réplica assim que chega sua vez de falar. Todo esse sistema transforma o listening em uma habilidade ativa e podemos fazer o mesmo com os alunos em sala da aula (por isso sou insistente em dizer que os professores façam seu plano de aula e não se debrucem em materiais didáticos). Fazer com que os alunos escutem e produzam oferece oportunidade para que eles utilizem suas funções superiores (cognição) para entender o que está sendo falado com eles e produzam, e essa produção é o passo principal para, cada vez mais, fazer com que os alunos tenham liberdade para trabalhar.

A grande sacada para fazermos com que nossos alunos tenham mais e mais autonomia, e autonomia aqui me refiro à utilização da língua inglesa para desempenharem tarefas, é estruturar bem a aula. O Brasil está engatinhando na implementação da cultura student-centered, mas podemos começar a promover essa ideia e a estruturação das aulas em Presentation, Practice e Performance deixa natural a atribuição da liberdade para os alunos realizarem suas tarefas que serão desenvolvidas para atender suas necessidades. Para não deixar este texto muito longo e correr o risco de fazer você dormir ou perder o interesse e ligar a TV – eu, pelo menos, morro de sono quando textos que não são acadêmicos são longos – vou colocar o holofote sobre o último P, a Performance. Essa fase é o momento em que nós professores nos preocupamos em fazer os alunos trabalhar livremente. Debates, role plays, games, etc, são algumas das tarefas que promovem autonomia dos alunos pois, após uma fase de prática, podemos oferecer desafio aos alunos com tarefas em qua a comunicação em inglês seja primordial para que a atividade tenha êxito. Nosso papel nesse momento é prestar atenção no rendimento dos alunos (importante ressaltar que a divisão em grupos, trios ou pares facilita) sem interferência. Afinal de contas, buscamos autonomia e deixar que os alunos falem, ouçam, entendam e resolvam o problema proposto é o objetivo. Se interferirmos, quebramos o propósito.

Claro que abordamos somente um pedaço do lesson plan e muitas outras coisas podem ser feitas nos dois primeiros Ps da aula. No entanto, o que importa é criarmos atividades que sejam relevantes e promovam a autonomia dos alunos na utilização da língua inglesa. Isso só vai ocorrer se tivermos um roteiro pronto, se nós professores sairmos do status quo e tentarmos nos dedicar a fazer os planos de aula, certamente as atividades serão mais frequentemente positivas, pois ninguém conhece melhor o alunos do que o próprio professor.

 

Oferecemos Aulas Com Professores Nativos

A mídia é um veículo poderosíssimo de formação de opinião. Ela consegue influenciar escolhas políticas, compras de determinadas marcas, também consegue despertar interesse em assistir filmes, peças de teatro e, mais recentemente, tem feito propagandas em massa sobre a utilização de professores nativos no ensino de língua inglesa. Mas será mesmo que a aquisição de um segundo idioma, o inglês, necessita de professores nativos para que ela ocorra de maneira mais eficaz? Vamos ver se no final deste artigo vocês chegam a uma conlcusão.

Todos somos falantes nativos da língua portuguesa – exceto algumas pessoas que habitam as raríssimas tribos indígenas em que a língua mãe não é o português. Devido a dimensão continental do Brasil, nossa variedade cultural é muito extensa e isso resulta em uma riqueza de variação linguística, muito embora a gente consiga se comunicar em qualquer parte do país. Além da variação regional, encontramos uma variedade linguística muito grande dentro de cada cidade: as famosas Comunidades de Fala. É incrível o que falantes nativos de cada idioma cria com a língua justamente para identificar aqueles que fazem parte da sua comunidade (Bucholtz, 1999), do seu grupo, da sua patotinha, da panelinha. Com certeza dentro das escolas – quem é professor já notou com certeza – existem esses grupinhos e a escolha lexical pode ser um indicador de identidade daquele grupo, por exemplo, o famoso “tipo assim”. Essa expressão idiomática pode ser representante de um grupo de alunos que, para serem destacados dos demais grupos. O estudo que Bucholtz conduziu na escola analizando o comportamento linguístico de identificação de comunidade de fala dos “nerds” e dos  “atletas” é algo peculiar do idioma que somente nativos podem saber.

Assim, utilizar professores nativos no ensino de língua inglesa pode ter benefício quanto a isso. Os alunos que tiverem exposição a esse tipo de língua irão, com certeza, ter acesso às expressões idiomáticas provenientes da comunidade de fala do professor, não somente gírias, mas talvez palavras que sejam mais frequentes naquela comunidade. Mais ainda, o sotaque também vem de brinde. Só nos Estados Unidos existem centenas de variações fonéticas que também podem fazer parte de uma comunidade de fala bem exclusiva. Assim, um professor estrangeiro irá acrescentar ao processo de aquisição de língua estrangeira nada mais do que algumas expressões idiomáticas e sotaques provenientes de sua comunidade de fala, ou seja, um professor brasileiro, eu, você e seus colegas, temos perfeitas condições de ensinar inglês mesmo não sendo falantes nativos de fato. Além disso, temos uma vantagem sobre os professores nativos para balancear a carga sociolinguística que eles trazem: nós estamos inseridos no contexto dos nossos alunos e isso é um ponto importantíssimo na realização de atividades e do lesson plan, que tem maior eficácia se contextualizado.

A troca de cultura, o viés sociolinguístico do ensino de língua inglesa com professores nativos são inquestionáveis. Porém, dizer que a aquisição, de maneira geral, é melhor, mais rápida ou otimizada somente com professores nativos não é um bom argumento. A comunidade de fala existe e oferece um benefício, mas os professores de inglês brasileiros podem muito bem adquirir ou até mesmo serem inseridos nessa comunidade, no entanto entender o contexto social dos alunos brasileiros é mais complicado para os estrangeiros.

O Tradicional, o Moderno e o Marketing

Não sou nenhum expert em marketing, nem formação comercial tenho, mas é óbvio que uma empresa busca sempre o lucro e, por esse motivo, investe muito de seu orçamento em propagandas. Porém, é só ligar a TV que facilmente se encontra comerciais falando em “jeito moderno de aprender inglês”. O que podemos esperar dessa afirmação é que a abordagem utilizada pela escola de idiomas esteja alinhada à crescente utilização do estudo linguístico de aquisição de linguagem pelo uso da língua.

Vamos ver se conseguimos dar uma destrinchada no anúncio da TV. No começo do século XX, nos primórdios das aulas de língua estrangeira, o latim era o idioma a ser ensinado. A abordagem utilizada, e a mais antiga, era o da tradução, ou seja, os alunos traduziam textos em latim para sua língua materna e vice versa. Com certeza não vemos mais isso em muitas escolas, quer sejam de idiomas ou regulares. Embora completamente ultrapassada, afinal é impossível medir a profundidade com que a língua foi aprendida através de uma simples tradução de texto, em nível lexical e enriquecimento de vocabulário a tradução é bem valiosa. De acordo com os estudos piagetianos, a língua se desenvolve como uma ferramenta para que a criança obtenha o que deseja. Com a língua estrangeira não é diferente. A língua, no caso o inglês, precisa ser aprendida afim de ser usada como uma ferramenta de comunicação, por isso a abordagem de tradução dos primórdios do século passado é muito obsoleta.

A aquisição de linguagem teve seu turning point quando Chomsky publicou seu material em que consta que todos nós temos uma gramática em nosso cérebro que nos permite decodificar e reproduzir infinitos idiomas. De outro lado, Wittgenstein suporta a importância social da aquisição. Eis que no início dos anos 2000 aparece um estudo que uniu as correntes e sugere que a língua é adquirida através de sua utilização (reprodução) e reforço de pessoas com formação linguística consolidada (adultos) e a maturação cognitiva das crianças são responsáveis pela decodificação (entendimento) da língua (Tomasello, 2003). Bingo! Essa é a grande diferença das escolas de idiomas pras regulares no ensino de inglês, muito embora, por muitas vezes, isso não é feito com qualidade também nas escolas de idiomas. Pegando carona nesse estudo, instituições como TESOL e Cambridge caminham juntas na estrutura do plano de aula dos 3 P’s (presentation, practice, performance), que favorece e corrobora a eficácia do estudo.

Usar a tinta, giz, iPad, smartphones, lápis, caderno, livros, laptops não vão mudar o processo de decodificação da língua inglesa. Eles podem, e tem, outros benefícios, mas acreditar nas propagandas de TV que vendem a ideia de que o fato de se estudar pela internet vai lhe oferecer o que há de mais moderno no aprendizado seja, talvez, confiar no discurso marketeiro.

Entendendo Os Perfis Dos Alunos

Enfim férias! Jingle bells pra lá, feliz ano novo pra cá, descanso, praia, alarme do relógio desativado. Essa é a vida de marajá que todos os professores desejam (e merecem). Afinal, são 10 meses de trabalho árduo selecionando livros que apresentam os melhores recursos visuais, discussão sobre abordagens para que os alunos tenham melhor desempenho linguístico em sala, lesson plans, reuniões de pais, cursos, alunos e mais alunos. Só que todo esse trabalho pode ser facilitado se desenvolvido um mapeamento para identificar as idiossincrasias de seus alunos, pois já é de conhecimento de todos nós que cada alunos possui perfis cognitivos e comportamentais distintos.

Faz parte do job description do professor de inglês traçar o perfil de seus alunos para que as atividades a serem colocadas no seu lesson plan consigam atingir as necessidades de todos, não precisamente ao mesmo tempo. Saber se a dificuldade de 20% da turma encontra-se em speaking e quem são os alunos que apresentam essa dificuldade facilita o trablho do professor além de deixar as aulas mais eficazes. Muito da frustração tanto de professores quanto de alunos vem do desse truncamento, ou seja, o professor se frustra com os resultados abaixo do esperado e os alunos porque não conseguem se expressar de forma clara para que o professor perceba onde está o problema.

As atividades desenvolvidas, principalmente no momento de performance, tem por objetivo, mesmo que de maneira implícita, o fator motivador da fala. De acordo com a estrutura cognitiva da fala de Segalowitz, o fator motivador da fala é que impulsiona a prodção oral. Pois então vejamos: um aluno que apresenta dificuldade em listening, quando envolvido em uma conversa, pode ter rendimento abaixo do esperado por não compreender com precisão o locutor, dificultando a continuidade da conversa. Ainda que esteja entendendo o suficiente, pela sua dificuldade em entender, o aluno pode não querer se comunicar com o mesmo empenho. Cabe ao professor identificar esse caso para seus alunos e desenvolver atividades para melhorar essa habilidade.

Em nossa oficina sobre heterogeneidade, damos sugestões de atividades para os perfis cognitivos e comportamentais que podem ser encontrados nos alunos dentro da sala de aula. No entanto, sabemos que mapear os perfis dos alunos nem sempre é fácil. O professor precisa estar atento às características de seus alunos e, até conseguir um mapeamento mais consolidado, são necessárias muitas tentativas de atividades. A Geekie, empresa de tecnologia educacional, oferece uma ferramenta ótima para o professor diagnosticar as dificuldades de seus alunos e entender melhor seus perfis. Através do Geekie Lab, o professor que tiver acesso aos dados educacionais poderá desenvolver atividades que visam a melhoria dos pontos mais fracos das habilidades dos alunos além de saber os pontos mais fortes também para estimular o que já está bom.

Quer seja através de workshops ou por meio de ferramentas tecnológicas, o professor precisa encontrar uma maneira de traçar o perfil linguístico dos seus alunos. Os auxílios estão à disposição e cabe aos profissionais da educação promover o uso desses recursos. Mais importante é que os educadores consigam, de fato, diagnosticar a melhor maneira de se extrair o melhor de seus alunos.

Feliz natal e um 2015 muito melhor para todos. Hohohoho!