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Habemus Linguistics II

A internet tem sido a ferramenta responsável por trazer à superfície tudo que acontece de novo no mundo contemporâneo. As notícias pipocam instantaneamente e só fica alheio quem realmente opta por ficar desse jeito ou quem não brinca na rede. Por isso temos a sensação de que a internet é a culpada por estragar a língua. Ela é o veículo que nos faz perceber como a língua é mutante e como essa mutação é rápida, as novidades sempre chegam rápidas também.

Vamos fazer o seguinte trabalho de imaginação (bem fértil, por sinal): imaginem que milhares de décadas atrás já existia internet. Nossos ancestrais conseguiam avisar todos os reinos e tribos quando iria ter um ataque de animais selvagens, quando chegasse a época de colheita ou quando alguém tivesse desenvolvido uma maneira de escrita que atendesse a todos. Com certeza iriam culpar a tal da internet também por estragar qualquer que fosse o tipo de comunicação usado na época. Ao que estudos indicam, as escritas mais antigas eram pictoriais, ou seja, eram desenhos que representavam coisas e ações. Eram como se fossem os emojis que todos usamos hoje em dia. Será que os homens das cavernas também reclamaram do surgimento dessa língua pictografada dizendo “esses desenhos nas pedras estão arruinando os grunhidos que usamos para nos comunicarmos, uga buga”? Acho que não. Os emojis também não podem ser considerados inimigos da língua, eles devem ser utilizados como forte aliados inclusive no ensino de inglês, pois serviriam de ponte de transferência de significado, conectando a representatividade que o emoji passa com a língua inglesa.

Já ouviram falar de semas? São traços exclusivos de um léxico que determinam o seu significado. Difícil? Um pouquinho né. Pensem na palavra smartphone. Se eu pedisse pra você descrever pra mim essa palavra, você usaria um conjunto de características que juntas dão significado à palavra. Pois isso é um sema. Todas as palavras, expressões idiomáticas e sentenças carregam significado e têm poder atuante quando falados e os emojis não são diferentes. Eles têm ainda uma vantagem: são altamente visuais, ou seja, não dependem de uma imagem virtual da capacidade cognitiva para compreenderem o significado. Vocês se lembram do primeiro artigo dessa série? Pois falamos como a internet tem ajudado a informar as mudanças linguísticas e também como ela têm influenciado nessas mudanças. As redes sociais e os serviços de mensagem instantânea requerem objetividade na comunicação pois oferecem espaço reduzido para se escrever. No raciocínio de nossos alunos, não vale a pena usar espaço de caracteres para se escrever I love you, da maneira canônica e a fonética tomou partido e então passamos a encontrar I luv ya, luv ya e também luv u. 

Agora temos os emojis para dizer aquilo tudo. Um coraçãozinho ou uma carinha apaixonada já tem valor semântico igual ao de uma frase e precisamos saber utilizar esse recurso para nos auxiliar no ensino de língua inglesa afinal de contas, muitas vezes, principalmente quando ensinamos novos vocábulos, os alunos sabem a definição, utilizam-se dos semas para transmitir a mensagem, mas não conhecem a palavra designada. Para apresentar novas palavras também podemos utilizar os emojis e a carga semântica que eles representam numa atividade que simula o envio de uma mensagem de Whatsapp, por exemplo. Além de facilitar a compreensão de significado, emojis estão integralmente inseridos no contexto dos nossos alunos. Segundo a professora Wyvyan Evans, Bangor University, 40% dos britânicos enviam mensagens inteiramente de emojis. Parece que aquela máxima “uma imagem vale mais do que mil palavras” está mais em alta do que nunca e de fato tem lógica. Na internet ou por mensagens de celular fica muito difícil de se transmitir emoções, entonação, etc, e isso também faz parte da línguagem. Mostrar aos alunos como fazer isso num mundo em que eles são parte integrante vai motivá-los e engajá-los e quando fizermos a transição para uma escrita menos informal, eles se sentirão mais confortáveis.

Portanto, está evidente que a tecnologia e a internet está enraizada na sociedade e em nossas gerações de alunos que estão e nas que estarão dentro de nossas salas de aula. Nós professores temos que ficar cada vez mais interados nos avanços tecnológicos e nos modismos que encontramos online porque esse modismo só vai ganhar corpo por causa dos feedbacks positivos da molecada e isso vai, como Bakhtin diz, moldar a produção linguística deles, pois a internet faz parte do ambiente dos nossos alunos. Por isso, vamos entender de uma vez por todas que a língua não é estática e que a internet está enriquecendo e nos trazendo essa riqueza de bandeja.

Habemus Linguistics I

Desde os primórdios até hoje em dia… alunos querem aprender gírias. Eu confesso não entender o motivo pelo qual eles despertam essa curiosidade que passa de geração para geração de alunos. Apesar disso, o que importa é que eles querem saber, gírias fazem parte da língua e não, elas definitivamente não estragam a língua qualquer que seja ela. Também nego o argumento que a internet tem destruído a língua – afinal ela é considerada a responsável direta pela metamorfose acelerada da língua, criando, então, cada vez mais gírias. E o que nós, teachers, temos a ver com isso tudo? Muito.

Em nosso recente artigo “Tirando o Inglês da Gaveta”, falamos sobre a possibilidade de brincarmos com a língua e mesmo assim continuarmos proficientes. Bem, por mais que você seja contra essa perspectiva, acho interessante que você se acostume a relevar algumas produções orais dos students que antes eram vistas como “erradas”. Já comentamos sobre o novo uso da palavra because cobrindo função de preposição, mas o que estamos presenciando todos os dias é um ataque em massa de criatividade linguística que nós teachers precisamos, mais do que nunca, estar atentos para sabermos se a produção de um aluno não se trata de uma nova gíria e, caso realmente seja, se o contexto em que a gíria foi falada de fato está de acordo. Essa é a função que os professores têm: mostrar aos nossos alunos que a lingua tem uma infinidade de possibilidades, mas que existem situações em que se é necessário utilizar determinadas formas. É como sempre falo “se formos a um churrasco, usamos bermuda e chinelo, mas em uma reunião de negócios, precisamos de trajes mais formais”. Esse é o espírito quando ouvirmos nosso alunos falarem (1) e (2), posicionarmos o momento mais apropriado para tal.

(1)That film is amaze.

(2)Totes.

Notem que eu não utilizei o símbolo de “não-semântico”, pois existem muitos exemplos de produções desse tipo, portanto considero que essas gírias já fazem parte do cotidiano linguístico de uma comunidade. O caso apresentado em (1) não foi considerado agramatical também pelo mesmo motivo anteriormente citado. Mais ainda, embora amaze seja uma abreviação de amazing, exercendo função sintática de adjetivo, podemos levar em consideração que essa seja uma palavra nova, eliminando qualquer tipo de confusão com o verbo amaze que, então, tornaria a frase agramatical.

Ok. Aí você pode me perguntar: mas o que isso tem de novidade pra mim? A grande novidade é a origem disso tudo, a internet. Essa criação maravilhosa do homem que conecta tudo a tudo e a todos tem nos mostrado, escancarado como a língua é um organismo mutante. O Twitter, por exemplo, é um grande causador de mudança linguística. Quem gosta de tuitar com frequência sabe que o número de caracteres disponível é altamente limitado o que força nossos alunos a se expressarem de maneira mais objetiva e reduzida, gerando uma metamorfose na língua que deixaria Raul Seixas com uma bela dor de cotovelo. Por isso que temos os famoso OMG, LOL e isso de maneira nenhuma deve ser encarado como uma derrota da língua, mas sim como um fator de enriquecimento dela. Imaginem quão criativos nossos alunos têm que ser para transmitir uma mensagem num curto espaço. Com esse cenário, óbvio que iremos ter abreviações como IDK, uso de reduções como gonna, gotta, wanna, shoulda, woulda e, por que não, mudanças sintáticas que acabam se confundindo com gírias que fazem parte de algumas comunidades de fala. E sim… nossos alunos vão querer “falar errado” simplesmente porque é muito “da hora”. Bucholtz já escreveu sobre isso brilhantemente.

Contudo, my fellow teachers, nós temos a obrigação (porque somos profissionais) de estarmos sempre em contato com o mundo virtual, pois ele se materializa no mundo real e faz com que nossos alunos criem palavras, abreviem sua fala, brinquem com a língua. Por isso, repito, a internet não está arruinando a fala de nossos alunos, ela só está passando por mudanças, normal na fase de adolescência, e com ela vemos um novo tipo de linguagem, pictorial às vezes, que facilitam a comunicação.

Tirando O Inglês Da Gaveta.

Em mais de uma década dando aulas de língua inglesa, já perdi as contas de quantas vezes ouvi pessoas (alunos, professores, coordenadores, propagandas, etc) falarem que fulano fala inglês bem ou mal. Quando comecei minha (super) carreira de professor eu não pensava sequer em me tornar um linguísta, mas sempre que ouvia algo daquele tipo, alguma coisa não me soava bem. Era como se a língua tivesse que ser realizada daquela maneira, caso contrário a pessoa seria queimada como faziam com as bruxas. Acho que não é bem assim.

Se pensarmos em termos fonéticos, claro que vamos encontrar uma linha média de pronúncia. O que viria ser essa linha média? Aquelas produções fonéticas que não causam confusão, ou seja, por mais que você seja de Piracicaba ou do Rio de Janeiro, de São Francisco ou do Texas, sua pronúncia não te levará a cair em um problema de par mínimo, isto é, aqueles pedacinhos do fonema que se forem trocados, vão formar palavras diferentes. Além de pares mínimos, podemos pensar no tema sotaque, característica extremamente regional. Inúmeras foram as vezes que ouvi alguém julgar a competência linguística em língua inglesa de uma outra pessoa por causa da pronúncia sendo que, algumas vezes, aquela produção fonética poderia ser resultado de uma exposição a um tipo de inglês desconhecido como o do norte da Inglaterra, o Escocês, Indiano, Sul Africano, etc. Contudo, dizer que uma pessoa “fala bem inglês” sob uma ótica pura e exclusivamente fonética pode dar piripaque.

Sintaxe… ah a sintaxe! Quem fez letras, como este que vos escreve, com certeza teve dias tenebrosos fazendo as árvores sintagmáticas para se analisar as estruturas frásicas. Acreditar que uma pessoa fala bem ou mal inglês em função da estrutura sintática que se é produzida é entendível, porém discutível. Se um aluno nosso produzir algo como podemos ver em (1), certamente diríamos que o aluno fala um péssimo inglês e chegaríamos a ter a pachorra de dizer que ele não é fluente se comparado com (2).

(1) *You’s cool, man.

(2) You’re cool, man.

Claro que nossa função como professores é mostrar aos nossos alunos a maneira canônica da língua vista em (2), mas julgarmos a produção de (1) como inglês péssimo e por isso não fluente é corroborar com uma visão gerativista de linguagem que, de fato, inconscientemente, atinge grande parte dos nossos colegas de profissão. Afinal, a língua não se desenrola como se fossem gavetinhas rotuladas dentro das quais só podemos colocar aquilo que está designado nos rótulos. Pode sim. Na verdade, isso vai acontecer e deve acontecer para que nossos alunos saibam explorar as nuances da linguagem e então se tornar um falante altamente competente uma vez que se terá uma pessoa capaz de se comunicar em qualquer tipo de contexto. Se reconhecermos que existem algumas comunidades de fala que apresentam frases como (1), como ‘he don’t work‘, entre outros, não passaremos vergonha ao corrigirmos nossos alunos precipitadamente e, até, de maneira esnobe, pois com certeza eles irão falar que ouviram isso vindo de um falante nativo e, pela lógica do aluno, eles têm maior credibilidade que nós. O fenômeno mais atual da língua inglesa no que tange estruturas sintáticas é o caso do I can’t even tendo even função de verbo. Isso não está na gavetinha correta hein.

Nós professores de língua inglesa precisamos dar amplitude à questão aquisição de linguagem (Rajagopalan, 1996), porque se continuarmos a engessar a produção linguística de nossos alunos, jamais iremos evoluir no quesito entendimento de linguagem de maneira geral e continuaremos com esse pressuposto preconceituoso que infelizmente assola as discussões de ensino de língua portuguesa ao não entendermos a língua como um organismo mutante carregado de proposições, ideias, pensamentos. Precisamos procurar entender onde nossos alunos querem chegar e mostrarmos as diversas maneiras de se atingir esse objetivo nos mais sortidos contextos. E você, teacher… deixa seu inglês fora da gaveta?

Aulas Bem Estruturadas Te Dão Asas

Eu já comentei em outros artigos sobre a importância de se aderir a estrutura dos 3Ps na realização do lesson plan, mas nunca fui mais ao fundo nesse assunto porque senão isto não seria um simples artigo de 450, 500 palavras, mas sim um livro. No entanto, é possível detalhar essa estruturação com o sistema locutor / inerlocutor de Lecercle e como isso promove a autonomia de nossos alunos – afinal a moda outono / inverno de 2015 é a autonomia.

A estrutura de comunicação de Lecercle (1999) prevê que um locutor utilize sua cognição para organizar sua fala e produzi-la. Toda essa informação linguística – combinação fonética, estrutura sintática, escolha lexical, intenção, etc – chegam até o interlocutor que tem a função de decodificar o que está sendo falado, entender a informação e formar sua réplica assim que chega sua vez de falar. Todo esse sistema transforma o listening em uma habilidade ativa e podemos fazer o mesmo com os alunos em sala da aula (por isso sou insistente em dizer que os professores façam seu plano de aula e não se debrucem em materiais didáticos). Fazer com que os alunos escutem e produzam oferece oportunidade para que eles utilizem suas funções superiores (cognição) para entender o que está sendo falado com eles e produzam, e essa produção é o passo principal para, cada vez mais, fazer com que os alunos tenham liberdade para trabalhar.

A grande sacada para fazermos com que nossos alunos tenham mais e mais autonomia, e autonomia aqui me refiro à utilização da língua inglesa para desempenharem tarefas, é estruturar bem a aula. O Brasil está engatinhando na implementação da cultura student-centered, mas podemos começar a promover essa ideia e a estruturação das aulas em Presentation, Practice e Performance deixa natural a atribuição da liberdade para os alunos realizarem suas tarefas que serão desenvolvidas para atender suas necessidades. Para não deixar este texto muito longo e correr o risco de fazer você dormir ou perder o interesse e ligar a TV – eu, pelo menos, morro de sono quando textos que não são acadêmicos são longos – vou colocar o holofote sobre o último P, a Performance. Essa fase é o momento em que nós professores nos preocupamos em fazer os alunos trabalhar livremente. Debates, role plays, games, etc, são algumas das tarefas que promovem autonomia dos alunos pois, após uma fase de prática, podemos oferecer desafio aos alunos com tarefas em qua a comunicação em inglês seja primordial para que a atividade tenha êxito. Nosso papel nesse momento é prestar atenção no rendimento dos alunos (importante ressaltar que a divisão em grupos, trios ou pares facilita) sem interferência. Afinal de contas, buscamos autonomia e deixar que os alunos falem, ouçam, entendam e resolvam o problema proposto é o objetivo. Se interferirmos, quebramos o propósito.

Claro que abordamos somente um pedaço do lesson plan e muitas outras coisas podem ser feitas nos dois primeiros Ps da aula. No entanto, o que importa é criarmos atividades que sejam relevantes e promovam a autonomia dos alunos na utilização da língua inglesa. Isso só vai ocorrer se tivermos um roteiro pronto, se nós professores sairmos do status quo e tentarmos nos dedicar a fazer os planos de aula, certamente as atividades serão mais frequentemente positivas, pois ninguém conhece melhor o alunos do que o próprio professor.

 

Não, O Português Não Atrapalha

Quando eu era mais moleque, estava na escola ainda, uma professora de inglês que tinha disse uma coisa que realente me marcou pra vida. Surpreendentemente (ou não), não foi nada relacionado à matéria. Ela disse “vocês não podem pensar em português se quiserem aprender inglês”. Muito provavelmente ela disse mais coisas que eu não me lembro, mas o core da “super dica” – ou teria sido bronca – foi esse. Isso ocorreu em meados dos anos 90, o inglês ainda não era matéria oficial do currículo escolar, os professores não tinham fácil acesso às informações e, talvez por isso, ela tenha ignorado o fato de a língua materna poder ser, sim, um aliado na aquisição da língua estrangeira (L2).

Sempre disse aos meus alunos que o teacher que pede para não usar a língua materna para aprender inglês merece ficar de castigo no canto da sala. Para nós, o português pode ser o plano de fundo para sobreposição da L2, ou seja, os alunos devem e vão comparar as línguas e irão notar as similaridades entre nosso bom e velho português e o bom e novo inglês. A estrutura sintática da língua portuguesa, de maneira geral, respeita a regra SVO – susbstantivo, verbo, objeto. O inglês também respeita esse sistema (de maneira geral, claro) e essa similaridade ajuda muito o processo de aquisição da linguagem. Pois, vamos analisar (1) e (2) para entendermos como nosso background em português pode ajudar na decodificação do inglês.

(1) Armando Nogueira wrote an amazing article.

(2) Armando Nogueira escreveu um artigo incrível.

Com exceção dos adjetivos e dos artigos, pode-se notar o sistema SVO tanto em (1) quanto em (2). Esse tipo de informação, não necessariamente passada de maneira descritiva, auxilia o entendimento da nova língua, inglesa, confirmando quão positiva pode ser essa transferência.

A ideia de transferência positiva (positive transfer) influencia, como vimos, a aquisição da língua no que diz respeito ao pragmatismo (Kasper, 1992, Takahashi, 1996). Por isso, em diversas vezes, o português acaba sendo a pedra no sapato de alguns alunos pois nem sempre nossa língua nativa foi aprendida de maneira boa o suficiente para que haja tranferência positiva.

Nesse caso, a língua nativa pode acarretar em uma transferência negativa (negative transfer). Um dos problemas que podem ser notados é a ocorrência de erros (errors), ou seja, quando o aluno definitivamente não tem conhecimento e, por dedução causado pela  língua materna, acaba produzindo e errando. O que pode acontecer é o erro em nível lexical devido às palavras cognatas. Considerando anniversary, alunos podem ter a brilhante ideia: “já que anniversary é igual em português, então posso usar ‘niver’ para me referir à aniversário em inglês”. Definitivamente isso não vai dar certo. Antes de descer paulada na influência do portguês no processo de aquisição, é importante perceber a transferência positiva da palavra em questão. O aluno associar a palavra estrangeira como sendo igual a palavra da língua portuguesa é uma evidência. Porém, usar “niver” em língua inglesa não tem valor, sem significado e nós, professores, podemos usar essa situação como abertura para introdução de algo novo. No caso, a referência informal à “aniversário”, pode ser ensinada a expressão “b-day”, por exemplo.

Seja influenciando positiva ou negativamente, a língua portuguesa deve sim ser parte integrante do processo de aquisição. Não nas aulas, falando português ou fazendo aulas de tradução, mas os professores precisam desenvolver aulas que trabalhem essa transferência, essa sobreposição que é realizada no pensamento dos alunos. De tudo isso só fico triste por minha professora não ter lido os linguístas que estudam pragmática, porque ela jamais teria dito aquilo e teria usado nossa língua como aliada às suas aulas.

Atividades De Sala De Aula De Arrepiar

Por que geralmente crianças e alguns adultos tem medo do escuro? Por receio de que algum monstro ou bichos como aranha, cobras venham morder e eles não estão vendo essas coisas estranhas se aproximarem para correrem e fugirem. Ou seja, o medo vem do desconhecido e partir disso a inferência de que algo irá ou pode pegá-los. No entanto, neste dia das bruxas, não vamos deixar os alunos assustados e preparem um atividade divertida que pode envolver todas as salas de aula de sua escola e ainda deixar seus alunos craques em interpretação textual/oral.

Inferir que algo no escuro irá fazer mal é, basicamente, entender o momento, ou seja, a falta do recurso visual e pensar que se algo de ruim que existe no mundo tiver a oportunidade de chegar perto, isso poderá acontecer e acarretar em algo que pode prejudicar. Todo esse procedimento só é possível se a criança tiver o conhecimento, por exemplo, de que aranhas são animais que podem picar e ter venenos, portanto o conhecimento do mundo é importante pra que haja a formação do pressuposto. Esse tipo de interpretação é muito importante, também, na aquisição de uma língua estrangeira. No caso do inglês americano, os alunos que conseguem desenvolver o entendimento de pressupostos da língua acabam carregando com eles uma bagagem cultural bem forte que facilita o entendimento da língua ensinada. Por exemplo, inferência pode ser um trick quando alunos acreditam que todos os verbos são regulares e os inflexionam com a terminação -ed no passado. Porém pode ser um treat se pensarmos que o aluno assimilou e aprendeu como se utilizar o tempo passado da língua inglesa.

Para se trabalhar essa habilidade de maneira expandida, o professor pode desenvolver uma atividade horripilante em que a interpretação oral, mais facilitada por geralmente trazer recursos como gestos, linguagem corporal, etc, e a textual sejam exploradas. Para se trabalhar alguns adjetivos o professor pode selecionar por exemplo scary, crazy, horrible, freaky, haunted, mysterious, para apresentar pra sala utilizando, como sugestão, alguns personagens da Turma do Penadinho, criado por Maurício de Souza. Para uma turma um pouco mais madura, as revistas em quadrinhos do título Spawn são bem legais pra essa atividade também. Assim que os alunos estiverem bem confortáveis com as novas palavras, separe-os em trios e entregue frases (adaptadas quando necessário) de algumas obras assustadoras. Claro que estou falando de Edgar Alan Poe, gênio do assombrado. Peça que o trio explique, em no máximo 3 linhas, o motivo de aquela frase ser scary, mysterious, etc, “forçando” o uso dos adjetivos, ou seja, nessa proposta trabalha-se a consolidação do entendimento do grupo de palavras adjetivo e também pratica-se a interpretação textual, amplamente requisitada para exames de vestibular e pelo ENEM.

Mas como o ensino de língua é algo a ser externalizado, a performance dos alunos pode ser realizada através de um projeto que envolve todas as turmas da sua escola, professor. Na parte prática dentro da sala, os alunos utilizaram seu conhecimento de mundo para fazer inferências e pressuposições. Nada mais justo que incluir um pouco de cultura estrangeira para ampliar o “GPS” interno dos alunos através do famoso trick or treat em que os alunos se fantasiem e saiam pedindo doces por toda escola. Sugiro duas opções: levar alguns modelos de máscaras relacionadas ao halloween, fazer com que os alunos as usem ou, se a escola tiver um budget legal, a empresa Wintercroft confecciona máscaras bem spooky em 3D. Exatamente, ela utiliza a tecnologia de impressão em 3D e oferece modelos de máscaras por 7,45 dólares que valem muito a pena caso ainda exista um pouco de “candies” no orçamento.  Com os alunos devidamente fantasiados, hora de bater de porta em porta das salas e pedindo doces aos professores, mas para ganhá-los os alunos devem responder a pergunta dos professores “who are you?” utilizando os adjetivos aprendidos.