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A Força Literária Das Mulheres

Muito tempo atrás, no início do século (21, claro), minha turma do colegial era composta por alunos “santos”, “calmos”, praticamente lordes britânicos. Só que não! A gente só inventava coisa errada, brincávamos e tirávamos sarro de todo mundo e uma das brincadeiras tinha a ver com um amigo nosso que era cabeludão e barbudão. Era a época da novela da Rede Globo “O Cravo e a Rosa” e a brincadeira que fazíamos com nosso amigo era que ele se parecia com o Petruchio, um dos protagonistas da dramaturgia. Mal sabia que aquela trollagem tinha raízes mais profundas e que, de fato, o Petruchio só é Petruchio por causa da outra protagonista, a Catarina (Katherine).

A novela em questão é uma releitura da obra de arte que Shakespeare escreveu mais de 500 anos atrás. O que faz de Shakespeare ser um gênio, e gênios são atemporais, é a capacidade e a sensibilidade que ele teve ao escrever uma comédia com a personagem Feminina tão forte e inteligente quanto o personagem masculino numa época em que igualdade de gênero não era sequer embrionário. Tudo começa pelo título: “Taming Of The Shrew” (O Adestramento do Esperto, numa tradução livre). A primeira impressão é de que se trata de uma obra machista, pois sugere que Petruchio coloque rédeas em sua noiva, com conceito completamente errado; onde já se viu um homem “adestrar” uma mulher somente por ela ter opinião formada, ser inteligente e, muitas vezes, confrontar homens. No desenrolar da leitura, percebe-se que a genialidade de Shakespeare é tão incomparável uma vez que Petruchio acaba mudando suas atitudes e Katherine também, em alguns momentos, faz concessões. Olha a força que a Katherine tem! Shakespeare foi tão cirúrgico (como sempre) ao desenvolver sua comédia que é praticamente impossível dizer quem é o Esperto e quem é o Adestrador, o que deixa mais poderosa a figura da protagonista feminina haja vista que seria impensável uma mulher enfrentar o machismo vigente daquele momento e encabeçar decisões a ponto de se remodelar o comportamento de um homem.

Para alunos, de maneira geral, ler já é chato. Ler uma obra de 60 anos atrás é muito chato. Ler algo escrito 600 anos atrás é garantia de um sono pesado, babas e roncos. Como todas as atividades que constam no lesson plan, utilizar Shakespeare, mais do que nunca, precisa ter relevância com o contexto atual de nossos students. Nossas aulas de língua inglesa poderiam até utilizar a novela da Rede Globo em conjunto com o texto, mas a novela também já ficou bem velhinha para os alunos além de estar em língua portuguesa. Trabalho em dobro. Mas como diria o maior super herói do mundo, o Chapolin Colorado: não priemos cânico. Podemos começar a ler com nossos alunos – penso em turmas do EF2 que já têm mais maturidade para discutir temas importantes – um trecho pré selecionado da obra shakespeariana e promover uma discussão da leitura no idioma alvo. Na discussão, entre outras possibilidades, pode-se fazer uma comparação dos direitos das mulheres na época e quanto elas conquistaram até o presente momento. Para trazer o tema para algo mais atrativo, o filme “10 Coisas Que Odeio Em Você” dialoga com a comédia de Shakespeare e pode ser utilizado como um task de compreensão em sala de aula e, posteriormente, promover o mesmo ou outro debate como uma segunda tarefa. Para fechar, podemos pedir que os alunos selecionem comportamentos inadequados do Petruchio e comportamentos de vanguarda da Katherine e então eles iriam recriar os momentos de “Taming Of The Shrew”, como se fosse nos dias atuais, através de um role play.

Falar da importância feminina dentro da literatura inglesa requer, por baixo, uns 490 anos para talvez conseguir cobrir tudo com detalhes. Abordar a importância das mulheres na história da humanidade então é um continuum que exigiria mais de mil anos para contar. O fato é que elas merecem seu espaço em nossas aulas de inglês não somente nesse dia em que elas são comemoradas, mas sempre que houver possibilidade porque se Shakespeare falou que elas são fortes, quem somos para ir contra o gênio.

Cê Tem Bruneva? Ou Cê Tem Bruchove?

“Mas quando alguém te disser que está errado ou errada, que não vai S na cebola e não vai S em feliz, que o X pode ter som Z e o CH pode ter som de X”. Essa letra da música do grupo O Teatro Mágico, sem querer querendo, tem uma importância linguística interessantíssima. Pois vamos aos fatos: embora a língua portuguesa seja um idioma predominantemente ortográfico, isto é, quando falamos, o fazemos conforme escrevemos as palavras, quando conversamos as palavras acabam tomando uma outra forma fonética e, às vezes, ortográfica. Sabe aquela dúvida quando vamos escrever a palavra “exceção”? Pois essa dificuldade é similar quando nossos alunos travam na hora das atividades de listening.

O início da minha nada fácil carreira (o riso é livre), tive o privilégio de trabalhar numa escola de idiomas bem famosa e o primeiro verbo que os alunos aprendiam, logo na primeira aula, era eat em sua forma infinitiva. Quando os alunos tinham contato com o modelo do áudio, eles ouviam [tüwit] (to eat), uma pronúncia diferente da canônica que seria /tü/ /it/. O resultado: quando os alunos precisavam conjugar o verbo numa frase comum, o que tínhamos era “my daughter [wits] cornflakes for breakfast“. Isso mostra que quando oralizada, a língua inglesa também sofre mutações fonéticas que favorecem a fluência, como pode ser notado na adição do fonema /w/ no verbo eat na forma infinitiva que acompanha to. E de fato quando falamos, a fluência natural da frase oferece a adição de um fonema quando há encontro de sons vocálicos na língua inglesa, e digo sons porque o inglês é uma língua sonora, diferente do português. Essa característica da língua inglesa é um dos obstáculos para nossos alunos quando tem atividades de listening, pois os students vêem a palavra escrita, ouvem os professores produzirem /it/ incansavelmente e no áudio aparece /wit/. É claro que o cérebro deles vai dar um nó.

Por isso, é muito importante, primeiramente, sairmos do nosso status quo e enfim entendermos que pronúncia se trata de algo além do conjunto de fonemas que encontramos nos dicionários para descobrirmos a pronúncia das palavras quando soltas. Por que precisamos sair dessa armadilha? Porque palavras mudam de figura quando no meio de frases durante uma conversa, por exemplo. Aqui no Brasil, os mineiros são conhecidos por fazerem essa elisão de sons como podemos notar em (1) e (2).

(1) [‘popōō’po] na cafeteira?

(2) Quantos [‘kidʒi’kaːrni] você quer?

(3) [‘wadʒju’du] that?

No entanto, não somente os mineiros são capazes de tal proeza linguística, mas os falantes de maneira geral fazem uso desse “fenômeno” que favorece a fluência da oralidade. A diferença é que como se trata de nossa língua materna, não temos costume (infelizmente) de analisar essas junções de sons nas aulas de português e quando nos deparamos com essa situação na língua inglesa (ou qualquer outra estrangeira), temos o hábito de achar que a língua em questão é um bicho de sete cabeças. Mas não é. Pois bem, o simples fato de nossos alunos perceberem que em (3) existe um conjunto de sons que antecipa a palavra that e que a entonação se trata de uma pergunta é um grande passo. Isso é o início de uma análise top-down, ou seja, é uma percepção que nossos alunos trazem por eles mesmos. Great job, guys, mas não é o suficiente.

Segundo o professor Mark Bartram é preciso saber mais do que interpretar o que algo foi dito ou escrito. No caso da leitura, o trabalho fica um pouco mais fácil, mas no caso da oralidade… aí a coisa fica séria! Portanto precisamos separar um tempinho em nossas aulas para brincar com os sons da língua inglesa para que nossos students notem que o primeiro /d/ encontrado em (3) se trata de uma elisão da palavra did – embora eu classificaria como um quase extermínio da palavra – que se funde com a palavra you. A menos que esse tipo de trabalho bottom-up, ou seja, que uma análise que a fala ou o texto promove aos alunos, tenha sido realizado anteriormente, de fato encontraremos students travados nessa parte da atividade de listening.

Portanto, meu amigo professor, quando estiver preparando seu lesson plan, quer seja pra alunos avançados ou os pequeninos, reserve um espacinho para discutir as nuances sonoras que a língua inglesa oferece. Quanto antes fizermos esse trabalho, menor será a chance de termos alunos chegando ao colegial com dificuldades extremas nas atividades de listening, sem contar que a fala também irá melhorar.

O Maravilhoso E Complexo Mundo Da Linguagem

Já ouvi muitos coordenadores, diretores e outros professores reclamarem de barulho dos alunos em sala de aula. Quando eu estava na escola como aluno, sempre que tinha algum barulho, eu estava no meio envolvido com a situação (espero que meus ex-alunos não leiam isso). Estamos falando de uma combinação do tipo fogo e gasolina: crianças e fala, isto é, precisamos incentivar nossos students a falar e eles vão gostar disso. Por que? Porque a língua, segundo Schumann, tem características de Sistema Complexo Adaptativo (CAS em inglês).

Vamos ver se conseguimos entender a ideia de um CAS. Imaginem o seguinte cenário: você acorda todos os dias às 6 e meia da manhã pra ir trabalhar e no caminho, sempre no mesmo horário, você cruza com a mesma pessoa andando de bicicleta. Vocês não se conhecem, não sabem nada um do outro, mas todo santo dia de manhã, vocês se cruzam. Vai chegar um ponto que você vai basear seu horário a partir do momento que você vê o biker, esse será seu padrão de tempo que vai definir se você está ou não atrasado pro serviço. Pois esse padrão que surgiu através dessa “interação” não programada é o que define o conceito de CAS. Ok, Rodolfo, mas o que raios isso tem a ver com as aulas de inglês? Tudo. Se não oferecermos chances para que nossos alunos falem, quer seja de maneira direcionada ou livre, a língua dificilmente irá se desenvolver. Já falamos em outros artigos que a interação é importante para a parte fonética da língua, para os léxicos, quando conversamos sobre a criatividade dos alunos a partir do uso das redes sociais. Mas vamos além. A gramaticalização também depende das interações para que ela ocorra e não sabemos nunca que tipo de padrão sintático uma criança vai produzir primeiro, isso faz com que a língua seja um CAS (Schumann, 2009).

Embora Schumann fale da gramaticalização de um pidgin, assim se transformando em um creole, podemos fazer um paralelo com o processo de aquisição de linguagem, quer seja língua nativa ou estrangeira. “Creolização ocorre abrutamente através de um jargão ou por um pidgin estável sem passar pelo estágio de pidgin estendido ou gradualmente via últimos estágios de um pidgin” (Schumann, 2009: loc. 709). Isso quer dizer que uma brincadeira linguística – por isso insitimos na ideia de laboratório linguístico – pode ser gatilho de uma gramaticalização mesmo se a brincadeira render orações gramaticalmente inadequadas.

(1) * É nóis.

(2) * My dad workeds.

Tanto em (1) como em (2) vemos frases agramaticais, mas que podem ser o estímulo necessário para o desenvolvimento de uma estrutura sintática mais adequada. No caso de (1), é muito comum ouvirmos esse jargão e nossa função como professores é de orientar o momento adequado para uso dele e, por que não, usar essa fala para mostrarmos como que ela se transforma quando utilizada de maneira canônica. Já em (2), percebemos caso de super generalização da regra para terceira pessoa do singular da língua inglesa, isto é, nosso suposto aluno achou que o uso do “s” em final de verbos também deveria ser utilizado para o passado simples. A partir desse cenário temos a opção 1 em que o mundo vai formatar a fala desses alunos e com isso dar corpo na gramaticalização da fala ou a opção 2 que é oferecermos feedback aos alunos sem cortar a criatividade deles mas para que eles saibam outras “versões” da língua. Através desse tipo de interação contínua, espera-se que nossos alunos adaptem sua fala para o modelo que desejamos, por isso podemos dizer que a língua é um CAS.

Portanto, a próxima vez que alguém reclamar do barulho da sala, fale pra essa pessoa que os alunos estão fazendo um trabalho muito complexo e por isso, precisam extravazar para que o resultado seja, no mínimo, melhor do que os que temos presenciado nos últimos anos em relação ao ensino de língua inglesa. Desenvolva seu lesson plan já pensando nos momentos em que os alunos vão falar, deixe-os falar, deixe-os brincar com a língua. Caso contrário, continuaremos no the book is on the table.

Assaye For Alle And Some

Mais um ano, mais tudo de novo. Mais trabalho, mais contas, mais aulas… Não, aulas ainda não. Mas nada nos impede de começarmos o ano regando a sementinha que há um certo tempo plantei com você, meu amigo teacher: a noção de que a língua é um organismo mutante, em constante metamofose. Por isso, precisamos tomar muito cuidado quando vamos corrigir nossos alunos para evitarmos coonstragimentos. Nossos e dos alunos.

Infelizmente, aqui no Brasil temos uma noção de língua muito conservadora. Qualquer tipo de invenção já é tratada como erro, como morte do português, como desrespeito da nova geração com nosso idioma. Mas como somos professores de língua estrangeira, jamais iremos cair nessa armadilha, pois iremos entender a seguinte situação: se nos apegarmos de fato à perfeição da produção da língua inglesa e sua maneira mais canônica possível, teremos que voltar muitos séculos no passado. Caso a gente tenha uma abordagem conservadora com a língua, iremos exigir de nossos alunos frases iguais a que vemos em (1).

(1) And whoso fyndeth hym out of swich blame,
      They wol come up…

O que vemos em (1) é uma citação de Geoffrey Chaucer, do século XIV! E pasmem, a palavra they está usada de maneira diferente. O pronome está se referindo a uma pessoa do singular, no caso hym (him). Será que temos envergadura moral para dizer que Chaucer não sabia inglês? Mas afinal, qual sugestão para situações como essa? Isto é, o que fazer quando os alunos surgirem com produções que saem do usual?

Antes de mais nada precisamos, de uma vez por todas, colocarmos na cabeça que “language is changing constantly: the English of Shakespeare’s day doesn’t sound like our English today, and the English of 500 years from now will have changed even further“, como disse Gretchen McCulloch. Nosso trabalho é oferecer aos nossos alunos ferramentas para que eles as utilizem para desenvolver o idioma, ou seja, o papel que possuímos é de coadjuvante nesse mundo educacional. Entre as ferramentas que oferecemos, está a função de mostrar aos alunos que qualquer tipo de inovação e criatividade linguística é bem-vinda. Em seguida, temos a tarefa de contextualizar a fala dos nossos alunos, precisamos mostrar que existem situações em que a criatividade com a língua não será muito bem aceita. Assim, conseguiremos manter o estímulo à criatividade com a língua estrangeira, incentivaremos a criação do ambiente de “laboratório linguístico” e a resposta de nossos alunos com certeza será a mais positiva a cada turma que passar.

O fato de they ter se tornado a palavra do ano em 2015 fazendo referência a uma pessoa no singular reforça nossa posição descentralizada dentro da sala de aula. Se ficarmos tolindo todo momento de criatividade de nossos alunos com a língua, vai chegar um momento em que eles não vão mais sentir segurança em se comunicar no idioma alvo. Precisamos entender a inovação linguística e encorajar nossos alunos a brincar com o idioma, assim a língua deixa de ser um bicho de sete cabeças.

As Multi Faces da Pronúncia

Após um tempinho sem dar as caras por aqui (espero que alguém tenha sentido falta), volto para falar com meus colegas teachers sobre algo que ainda aqui no nosso amado(?) Brasil está muito simplificado e, de certa maneira, mal compreendido. Teimamos em achar que pronúncia é, acima de tudo, sinal de um bom nível de competência linguística, além de ser totalmente associada com combinação fonética na hora de se (re)produzir uma determinada palavra.

É óbvio que à primeira vista o sotaque é o que percebemos e notamos de mais diferente quando conversamos com pessoas de outros lugares, quer seja dentro de um país ou não. Mas, repito, isso não é necessariamente um fator preponderante para se rotular a fala de uma pessoa, principalmente de nossos alunos que estão aprendendo uma outra língua. Se fizermos uma análise da produção fonética de algumas palavras – lembrando que isso não representa, obrigatoriamente, alto nível de competência linguística – encontraremos variações como em (1), (2) e (3).

(1) Have you found interesting /’deI/ta?

(2) Have you found interesting /’dα/ta?

(3) Have you found interesting /’dæ/ta?

Em todos os exemplos, temos instâncias de variação fonética da mesma palavra encontrada na oralização e, caso não tenhamos cuidado na hora de nos prepararmos para dar as aulas, poderemos cair na armadilha de corrigir ou avaliar mal nossos alunos que por acaso produzirem algo diferente do que nós, professores, sabemos. E você pode me dizer “ah! mas essas variações são aceitas, não estão erradas”. Só que precisamos então dar uma olhadinha na etmologia da palavra, isto é, na sua origem. A palavra em questão vem do latim datum e seu plural, data, acabou sendo universalizado, portanto, pode-se imaginar que a pronúncia original é a encontrada em (2). Portanto, temos aqui o exemplo de como um “erro” acabou se tornando uma variação oficial, pois (1) e (3) são produções fonéticas derivadas da palavra original latina.

Assim sendo, nós teachers temos a obrigação de prestar atenção se aquela pronúncia não é uma variação. Depois, precisamos ver se essa pronúncia da palavra causa algum tipo de mal entendido ou ambiguidade porque às vezes, aquele tipo de pronúncia é resultante do sotaque da língua nativa de nosso aluno e, talvez, ele não queira sufocar essa identidade e isso não vai causar problemas. Mas não é só isso, como diriam aquelas propagandas do 011-1406 dos anos 90 e 2000.

Em uma de minhas visitas em escolas, estava esperando a diretora e passaram por mim uma turminha de alunos provavelmente do Ensino Infantil e a professora. Por se tratar de uma escola bilíngue, a comunicação que pude presenciar foi toda em inglês, foi quando a teacher perguntou a um aluno “Do you want a carrot?” (acredito que tenha sido essa a palavra, mas não me lembro com certeza se foi carrot ou outro legume). Naquele momento até me deu vontade de falar o que a professora havia feito, mas me contive e até hoje ela não faz ideia de que ela tem uma professora que cai nessa armadilha. A entonação de frases também faz parte da pronúncia de uma língua e, portanto, da fluência. As perguntas fechadas (yes-no questions) tem entonação diferente das interrogações em português, pois aqui elas apresentam altos e baixos, se colocarmos em um gráfico, teremos algo parecido com uma curva senoidal. Já em inglês, essas perguntas são decrescentes, ou seja, o final da frase, por mais infantilizada que seja para se comunicar com alunos do EI, a entonação vai caindo e o que pude presenciar naquela escola e em outras que não eram bilíngues, é que o professor é altamente influenciado pela língua nativa – o português – e acaba oferecendo aos alunos um modelo de pergunta que não está associado ao idioma estrangeiro.

Muitos colegas acabam caindo nessa cilada quando vão falar com os alunos ou quando vão avaliar as produções orais deles. Quer dizer, alguns teachers ficam tão bitolados com sotaques e pronúncia correta de palavras e acabam se esquecendo de que uma boa pronúncia vai além dos fonemas e da produção canônica das palavras que encontramos nos dicionários. Mas a entonação também não é uma estrela que aquece sozinha o planeta Pronúncia, tem também o tipo de discurso, os pitches, mas esses são assuntos pra um outro texto porque este já ficou bem longo.

Workshop: Gírias e a Influência na Comunicação – Semana de Letras PUC Campinas 20-21/10/2015

20/10/2015 – Semana de Letras PUC Campinas – palestra sobre gírias

 

20/10/2015 – Semana de Letras PUC Campinas – palestra sobre gírias

 

20/10/2015 – Semana de Letras PUC Campinas – palestra sobre gírias

 

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21/10/2015 – Semana de Letras PUC Campinas – palestra sobre gírias

 

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21/10/2015 – Semana de Letras PUC Campinas – palestra sobre gírias

 

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21/10/2015 – Semana de Letras PUC Campinas – palestra sobre gírias

O Idioma Disfarçado de Língua Inglesa

Após um período acumulando trabalho, materiais e mais trabalho, cá estou novamente para conversar com meu amigos teachers sobre fenômenos linguísticos que influenciam diretamente na aquisição de linguagem (me senti o padre Quevedo agora falando sobre fenômenos). Nossas escolas, públicas e particulares, têm ensinado inglês como língua estrangeira, escolas de idiomas também têm se degladiado para mostrar quem ensina melhor inglês como segunda língua, mas será mesmo que nossos alunos estão de fato aprendendo inglês ou o que estão produzindo são uma língua diferente disfarçada de inglês?

Talvez esse disfarce seja fruto de algo que já conversamos aqui antes: a influência do idioma nativo no processo aquisitivo da língua estangeira. Não precisam ficar nervosos, eu não vou falar sobre transfers novamente, mas a interferência que, no nosso caso, o português, exerce sobre  a língua estrangeira pode gerar um caso de criação de creole. E o que viria a ser creole, você pode me perguntar. São línguas híbridas criadas a partir de pidgins. E o que seriam os pidgins? São esquemas frásicos, teoricamente sem função sintática, gerados pelo baixíssimo conhecimento de uma língua estrangeira. Mesmo longe e sem ver, consigo perceber o enorme ponto de interrogação estampado na sua testa. Vamos por partes então. Começaremos por entender o que são os pidgins, pois são basicamente a origem de toda nossa conversa. Imagine que você acabou de cair no meio de uma tribo maori, na costa neozelandesa. Deu pra visualizar a situação? Após um tempo, você aprende a dizer coisas simples como “obrigado”, “eu comer”, “por favor”, etc, simplesmente para conseguir manter o mínimo de comunicação possível. Obviamente que nosso pensamento lógico vai nos fazer utilizar a língua que sabemos para tentar inferir (às vezes acertar) como essa funciona essa nova língua maori e, munidos de tentativa e erro mesmo, inserimos partículas linguísticas de nossa língua nativa nesses esquemas frásicos simplificados para tentarmos sobreviver à essa nova aventura nas praias da Nova Zelândia.

Claro que conforme você for interagindo com os maoris, seu alcance linguístico aumenta, aprendendo sons significativos, palavras, aumento dos esquemas frásicos para sentenças completas, significados, em combinação com nossa (para alegria dos gerativistas) inata capacidade de raciocínio. Assim, os pidgins evoluem e se tornam creoles, isto é, uma língua estrangeira recém aprendida que contém buracos sintáticos, influência da língua nativa, mas que se assemelha um pouco mais com uma sentença mais evoluída, como podemos ver em (1) (Schumann, 2009: loc. 473).

(1) And too much children, small children, house money pay.

(2) If like make, more better make time, money no can hapai.

O que Schumann (2009) nos mostra é a maneira que um coreano encontrou para se comunicar em inglês, sendo que seu conhecimento linguístico da língua estrangeira é bem limitado, porém conseguiu(?) conectar sua fala e transmitir significado. Já em (2), nota-se utilização de duas palavras de uma terceira língua, make, que significa “morrer” e hapai, que significa “carregar” ambas em havaiano. É o exemplo da fala de um nativo japonês tentando se comunicar em inglês com um havaiano e é possível perceber que a língua inglesa, embora mais evoluída que a havaiana, ainda contém muitas brechas sintáticas e também nota-se a presença de palavras da terceira língua, o que mostra o início de uma aquisição.

Acho que consegui deixar claro o que são pidgins e creoles, mas o que tudo isso tem a ver com as aulas de inglês e com a maneira que nossos alunos têm se comunicado em inglês? Em alguns anos trabalhando como professor de inglês e outros recentes como linguísta percebi que nossos alunos estão se comunicando em um creole disfarçado de inglês. Podemos perceber em (3) a forma standardizada da língua inglesa, aquela maneira que tentamos ensinar aos nossos alunos, mas, na maioria das vezes, a fala de nossos prezados students tem influência bem direta e aparente da língua nativa – o português – como vemos em (4).

(3) Yesterday, a weird scene happened on the street.

(4) Yesterday, happened a weird scene on the street.

Claro que em (4) trata-se de algo distantemente parecido com creole haja vista a complexidade e conexão entre as palavras para formar a frase, mas a inversão entre sujeito e verbo, que não faz parte do inglês standard (a menos que você seja o Mestre Yoda), mostra a influência da nossa língua nativa. Também é muito comum encontrarmos a fala de nossos alunosmais parecida com creole do tipo “if have vague, I sleep in hotel” com sentido de “if there’s a vacancy, I’ll sleep in the hotel”. Isso occorre, segundo John Schumann e outros linguístas, porque a aquisição fica superficial, não existe aprofundamento de exposição afinal a pessoa consegue, de alguma maneira, transmitir a mensagem e acaba não indo além. Muitas aulas de inglês, quer seja de escolas regulares (públicas e particulares) ou escolas de idiomas, acabam contribuindo para que isso aconteça mesmo que seja sem querer. Nós teachers precisamos tomar cuidado pra que nossos alunos saiam da sua zona de conforto e sejam lingusiticamente desafiados a pensar e aprender para não ficarem atrelados à proposta de comunicação para realizarem uma tarefa ou fecharem um negócio simplesmente.

Às vezes, fatores externos nos deixam de mãos atadas na hora de fazermos nossos alunos darem um salto maior no processo de aquisição de linguagem. Porque faz mal pra nossa carreira de professor ter alunos falando como se fosse o Tarzan, “mim, comida, agora”, sem contar que isso nada mais é do que uma língua híbrida, sem profundidade, um disfarce para a aquisição que foi mais manquitola do que o Saci Pererê.

 

Habemus Linguistics I

Since always foreign students want to learn slang. I must say I don’t understand why they have this urge to learn slang that passes from generation to generation of students. Despite that, what matters is they want to learn, slang is part of the language and no, they definitely don’t disrupt the language whatever it is. I also decline the argument that internet has been hindering the language – after all, it is considered the guilty for the accelerated metamorphosis of the language creating, then, more and more slang. Ok, but what does this have to do with us teachers? Everything.

In our recent article Having Our English Outside The Box, we talked about the possibility to play with language and still be proficient. Well, you may not like this perspective, but I recommend you get used to accepting some students’ utterances that were once reckoned as “wrong”. We have already mentioned the ultimate use of ‘because’ playing the role of preposition, but what we have been witnessing every single day is a massive attack of linguistic creativity that we teachers need to be aware so we identify whether an utterance is slang or not and, in case it is one, we have to check if the context it was used is indeed appropriate. This is our role: show our students that language has an infinite number of possibilities, but there are situations in which some linguistic forms are more adequate. It is like I always say “if we are going to a barbecue, shorts and flip-flops are ok, but if we’re going to a business meeting, we gotta suit up”. This has to be our spirit whenever our students produce (1) or (2). We have to position the appropriate moment for their utterance.

(1)That film is amaze.

(2)Totes.

Notice that I did not use the “semantically strange” symbol for there many examples of utterances such as those, therefore I consider these slangs as part of a speech community. The case in (1) was not regarded as ungrammatical also for the same reason previously stated. Furthermore, although ‘amaze’ is a reduction of ‘amazing’, playing the syntactic role of adjective, we can take into consideration that this is a new word, thus eliminating any sort of confusion it may cause with the verb ‘amaze’ which would turn the sentence ungrammatical.

Alright. You might ask me then “what’s new about all of this?”. The greatest news here is the origin of this, the internet. This wonderful man made creation that connects everything to everything to everyone has rubbed on our faces how mutant languages are. Take Twitter, for instance. It is one big source of linguistic change. Tweeters know that the message space is highly limited which forces our students to express themselves in a more objective and reduced manner, generating a mutation in the language that would make Professor Charles Xavier jealous. That is why we have the commonly known OMG, LOL and they should never be considered a defeat in language teaching, instead they have to be taken as enriching factor of the language. Imagine how creative our students have to be to convey a message in a short space. With this scenario, we will obviously have abbreviations like IDK, reductions like ‘gonna’, ‘gotta, ‘wanna’, ‘shoulda’, ‘woulda’ and, why not, syntactic changes that end up being mistaken with slangs that are part of some speech communities. And yes, our students will do their best to speak “bad English” just because it is cool. Bucholtz already wrote about it brilliantly.

Thus, my fellow teachers, we have the duty (because we’re pros) to be in touch with the online universe for it materializes in the real world and makes our students coin words, abbreviate their speech, play with the language. Therefore I say it again, the internet has not been disrupting our students’ speech, it has only been going through some changes which is normal in the teenage years and with these changes we see a new type of language, pictorial for times, that facilitates communication.

#InglesNoEnsinoPublico

Em um de seus memoráveis discursos, John Kennedy uma vez disse: “Não pergunte o que seu país pode fazer para você. Pergunte o que você pode fazer pelo seu país.” Bom, vivemos num país em que temos que suprir a falta que os governos Federal, Estadual e Municipal fazem no que tange, no nosso caso, educação de qualidade. Como podemos querer que nosso país tenha um papel importante no cenário mundial sendo que nossas crianças do Ensino Fundamental da rede pública de educação, em muitas cidades, não têm em sua grade curricular ensino de línguas estrangeiras obrigatório, pois de acordo com o MEC, nossas crianças só precisam aprender um outro idioma a partir do Ensino Fundamental II (espero que vocês tenham lido isso com o tom sarcástico que o texto infelizmente não me permite colocar).

Talvez as pessoas responsáveis pela educação dos brasileirinhos estejam se esquecendo da importância que o multilinguismo traz. Prometo não escrever uma novela completa aqui nos artigo de hoje, então vou elencar somente alguns fatos para dar início ao nosso movimento que pede ensino de línguas estrangeiras em todas as séries do ensino público. Vamos imaginar a seguinte situação: você está dirigindo seu carro pela estrada quando avista uma placa de curva acentuada que vai chegar em 300m. Nosso cérebro envia informações para que a gente reduza a velocidade, mude a marcha do carro e continuemos nossa viagem. Quando somos multilíngues, nosso cérebro tem processamento similar de preparação, o chamado Controle. Passamos grande parte do nosso tempo falando nossa língua materna (L1) e momentos antes de se entrar num contexto em que uma língua estrangeira (L2) será utilizada, inibimos L1 para que a produção de L2 ganhe espaço (Baum & Titone: 862, 2014). Portanto, essa capacidade de organização linguística também desencadeia em benefícios organizacionais cognitivos nos alunos que aprendem outros idiomas como, por exemplo, atenção seletiva (Bialystock & Majumder, 1998; Martin-Rhee & Bialystock, 2008). Isto é, nossas crianças terão facilidade em direcionar seu foco em múltiplas tarefas sem perder a qualidade, sabendo dar a devida atenção, no caso de matérias escolares, para cada aula que nossos alunos têm ao longo do dia. De um jeito mais lúdico, é como se as pessoas multilíngues tivessem um interruptor para cada conhecimento e dessem um on/off quando necessário. Outro benefício cognitivo que o multilinguísmo oferece aos alunos é o processamento de metalinguagem. Todo professor faz uso de um discurso metalinguístico para passar a matéria aos alunos, ou seja, o professor de Biologia usa a língua para ensinar os termos (a língua) da biologia e os alunos multilíngues tem uma vantagem pois usam a mesma estratégia para se comunicarem nos idiomas que sabem.

A questão social também tem interferência quando nossos brasileirinhos que estudam na rede pública de ensino aprendem outros idiomas. Nossos colegas que trabalham com educação têm se movimentado para pedir uma internet mais digna (se é que existe uma velocidade digna no Brasil) vão encontrar obstáculos quando os alunos começarem a pesquisar informações e novidades que estarão em inglês (assumindo inglês como língua global). A língua estrangeira vai ser a responsável final para que nossos alunos tenham acesso a novos horizontes, novas formas de pensar e expandam suas fronteiras. Com certeza nossas alunas já ouviram falar no Barack Obama, Presidente dos Estados Unidos, mas será que elas já ouviram falar na candidata a sua sucessora, a Hilary Clinton? Imaginem o efeito que o conhecimento das ideias de uma mulher gabaritada para ser a mais alta representante de uma potência mundial pode ter em nossas brasileirinhas de uma comunidade menos favorecida economicamente. Em uma entrevista que concedi à Educaderia, disse que não sou neurologista para saber se o conhecimento de outros idiomas mudam a forma de pensar de uma pessoa, mas posso afirmar, como línguísta, que a língua estrangeira expõe pessoas a diferentes perspectivas e isso sim interfere no pensamento. Talvez nossos brasileirinhos não tenham, de imediato, a chance de conhecer outros países, mas se eles conseguirem ter acesso a informação através de sua competência linguística já aumenta sua bagagem cultural e se esse estímulo ocorrer por causa das aulas de língua estrangeira, o caminho para a autonomia será facilitado, porque eles terão mais uma ferramenta para trabalharem sozinhos: a língua.

Portanto, fica aqui minha sugestão que espero atingir não somente meus colegas teachers e linguístas, mas também todos os professores de outras matérias, coordenadores, diretores, profissionais da educação, pais, familiares e todos que querem ver a formação de uma geração futura acontecer para, quem sabe, daqui 10 ou 15 anos esses brasileirinhos mudarem muita coisa em nosso país. Por isso, gostaria que vocês lesse e compartilhassem este humilde artigo e utilizassem a marcação #InglesNoEnsinoPublico para fazermos com que nossos alunos da rede pública de ensino tenham, por lei, ensino de língua estrangeira desde o início do Ensino Fundamental. Juntos a gente consegue fazer com que essa importante mudança aconteça

Video Game + PBL + English Class = Fun

Summer is over. I hear the sad trumpets echoe in the cloudy sky of a rainy day that this news carries while reaching every single fellow teacher. But this shouldn’t mean fun is over at all! As a friend of mine wrote in his thesis “let the games begin”.

Gamefication is hype. Teachers have finally realized that making some activities into games can be a fun way and also effective for language learning, for kids are crazy about games. If this game is any sort of video game, they will certainly ignore everything around them and they will focus 120% on the game – I speak for myself because my girlfriend always complains whenever I get a hold of my PS3. Using video games can also be a great experience forthe English classes we design so that we work the Project-based Learning approach (PBL). In addition to having students work ipfor a ling period, they will certainly become more motivated and excited to perform the assigned task.

Video game won’t actually teach English itslef, the great insight here is to use electronic games in English classes to make the student use their linguistic knowledge and apply it when playing, as James Paul Gee stated (2005). In the online course for teacher we offer – still on progress – we talk thoroughly about how to design PBL activities, but it is worth to remember the importance video games have in the learning process of our students. “Nothing happens until a player acts and makes decisions” (Gee, 2005: 34). This is the background for activities that involve video games and more precisely the application of PBL with these games even in the classroom, which means making our students use their language knowledge to take decisions, create and perform tasks. Before applying a PBL we need to have a well-structured lesson plan where the environment for communication in English already exists and is familiar to students so that information exchange and knowledge sharing happen. Language is a type of knowledge that we acquire and interaction with other students that are working on a similar project enrich the process of language acquisition as they pair up or gather in groups to work inside the classroom according to what you established in your lesson plan.

Maybe you haven’t heard of this game before, but your students have…. for sure. Minecraft. This game has been catching everyone’s attention and it has also been hooking up the kids’ time becoming a worldwide big hit even for some adults. Minecraft is a game available for PS3, Xbox, mobile, PCs and it consists of using a strategy to reach a pre-established goal. You have to stock up blocks to create a world that you imagine and according to the game’s play mode (survival, creative, spectator, hardcore) you need to build things that are determined by the game so you don’t lose. In our English classes we can create a project which students play Minecraft in survival mode and as the game offers guidelines so they continue their project, some lexicon can be drilled, i.e. we teachers play the game beforehand to get to know it and note possible words to present to our students in the classroom before we start the project. When they face unknown words, they look them up and bring the definition to the classroom.

There is also room to work out our students’ speech so they present what they have built and the reason to do so. This means, through this presentation students will have the opportunity to use the words they looked up and to tell their accomplishments in the target language. Thus, we will have the needed motivation for our students to learn English as a second language and the video game become our ally, not to mention that the game itself is really cool. The educational bias that Minecraft has is such that an educational version of the game was released a couple of months ago with special features that can be used in the classroom and, why not, in our English classes. We can also find other ideas to be replicated or improved on their website. Maybe even lesson plans for other subjects that can be adapted to our English classes.

Vacation must be over, but the fun must go on. Surprise your students with this PBL activity that involves technology right now for the beginning of the semester. They’ll love it.