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Aulas Bem Estruturadas Te Dão Asas

Eu já comentei em outros artigos sobre a importância de se aderir a estrutura dos 3Ps na realização do lesson plan, mas nunca fui mais ao fundo nesse assunto porque senão isto não seria um simples artigo de 450, 500 palavras, mas sim um livro. No entanto, é possível detalhar essa estruturação com o sistema locutor / inerlocutor de Lecercle e como isso promove a autonomia de nossos alunos – afinal a moda outono / inverno de 2015 é a autonomia.

A estrutura de comunicação de Lecercle (1999) prevê que um locutor utilize sua cognição para organizar sua fala e produzi-la. Toda essa informação linguística – combinação fonética, estrutura sintática, escolha lexical, intenção, etc – chegam até o interlocutor que tem a função de decodificar o que está sendo falado, entender a informação e formar sua réplica assim que chega sua vez de falar. Todo esse sistema transforma o listening em uma habilidade ativa e podemos fazer o mesmo com os alunos em sala da aula (por isso sou insistente em dizer que os professores façam seu plano de aula e não se debrucem em materiais didáticos). Fazer com que os alunos escutem e produzam oferece oportunidade para que eles utilizem suas funções superiores (cognição) para entender o que está sendo falado com eles e produzam, e essa produção é o passo principal para, cada vez mais, fazer com que os alunos tenham liberdade para trabalhar.

A grande sacada para fazermos com que nossos alunos tenham mais e mais autonomia, e autonomia aqui me refiro à utilização da língua inglesa para desempenharem tarefas, é estruturar bem a aula. O Brasil está engatinhando na implementação da cultura student-centered, mas podemos começar a promover essa ideia e a estruturação das aulas em Presentation, Practice e Performance deixa natural a atribuição da liberdade para os alunos realizarem suas tarefas que serão desenvolvidas para atender suas necessidades. Para não deixar este texto muito longo e correr o risco de fazer você dormir ou perder o interesse e ligar a TV – eu, pelo menos, morro de sono quando textos que não são acadêmicos são longos – vou colocar o holofote sobre o último P, a Performance. Essa fase é o momento em que nós professores nos preocupamos em fazer os alunos trabalhar livremente. Debates, role plays, games, etc, são algumas das tarefas que promovem autonomia dos alunos pois, após uma fase de prática, podemos oferecer desafio aos alunos com tarefas em qua a comunicação em inglês seja primordial para que a atividade tenha êxito. Nosso papel nesse momento é prestar atenção no rendimento dos alunos (importante ressaltar que a divisão em grupos, trios ou pares facilita) sem interferência. Afinal de contas, buscamos autonomia e deixar que os alunos falem, ouçam, entendam e resolvam o problema proposto é o objetivo. Se interferirmos, quebramos o propósito.

Claro que abordamos somente um pedaço do lesson plan e muitas outras coisas podem ser feitas nos dois primeiros Ps da aula. No entanto, o que importa é criarmos atividades que sejam relevantes e promovam a autonomia dos alunos na utilização da língua inglesa. Isso só vai ocorrer se tivermos um roteiro pronto, se nós professores sairmos do status quo e tentarmos nos dedicar a fazer os planos de aula, certamente as atividades serão mais frequentemente positivas, pois ninguém conhece melhor o alunos do que o próprio professor.

 

Não, O Português Não Atrapalha

Quando eu era mais moleque, estava na escola ainda, uma professora de inglês que tinha disse uma coisa que realente me marcou pra vida. Surpreendentemente (ou não), não foi nada relacionado à matéria. Ela disse “vocês não podem pensar em português se quiserem aprender inglês”. Muito provavelmente ela disse mais coisas que eu não me lembro, mas o core da “super dica” – ou teria sido bronca – foi esse. Isso ocorreu em meados dos anos 90, o inglês ainda não era matéria oficial do currículo escolar, os professores não tinham fácil acesso às informações e, talvez por isso, ela tenha ignorado o fato de a língua materna poder ser, sim, um aliado na aquisição da língua estrangeira (L2).

Sempre disse aos meus alunos que o teacher que pede para não usar a língua materna para aprender inglês merece ficar de castigo no canto da sala. Para nós, o português pode ser o plano de fundo para sobreposição da L2, ou seja, os alunos devem e vão comparar as línguas e irão notar as similaridades entre nosso bom e velho português e o bom e novo inglês. A estrutura sintática da língua portuguesa, de maneira geral, respeita a regra SVO – susbstantivo, verbo, objeto. O inglês também respeita esse sistema (de maneira geral, claro) e essa similaridade ajuda muito o processo de aquisição da linguagem. Pois, vamos analisar (1) e (2) para entendermos como nosso background em português pode ajudar na decodificação do inglês.

(1) Armando Nogueira wrote an amazing article.

(2) Armando Nogueira escreveu um artigo incrível.

Com exceção dos adjetivos e dos artigos, pode-se notar o sistema SVO tanto em (1) quanto em (2). Esse tipo de informação, não necessariamente passada de maneira descritiva, auxilia o entendimento da nova língua, inglesa, confirmando quão positiva pode ser essa transferência.

A ideia de transferência positiva (positive transfer) influencia, como vimos, a aquisição da língua no que diz respeito ao pragmatismo (Kasper, 1992, Takahashi, 1996). Por isso, em diversas vezes, o português acaba sendo a pedra no sapato de alguns alunos pois nem sempre nossa língua nativa foi aprendida de maneira boa o suficiente para que haja tranferência positiva.

Nesse caso, a língua nativa pode acarretar em uma transferência negativa (negative transfer). Um dos problemas que podem ser notados é a ocorrência de erros (errors), ou seja, quando o aluno definitivamente não tem conhecimento e, por dedução causado pela  língua materna, acaba produzindo e errando. O que pode acontecer é o erro em nível lexical devido às palavras cognatas. Considerando anniversary, alunos podem ter a brilhante ideia: “já que anniversary é igual em português, então posso usar ‘niver’ para me referir à aniversário em inglês”. Definitivamente isso não vai dar certo. Antes de descer paulada na influência do portguês no processo de aquisição, é importante perceber a transferência positiva da palavra em questão. O aluno associar a palavra estrangeira como sendo igual a palavra da língua portuguesa é uma evidência. Porém, usar “niver” em língua inglesa não tem valor, sem significado e nós, professores, podemos usar essa situação como abertura para introdução de algo novo. No caso, a referência informal à “aniversário”, pode ser ensinada a expressão “b-day”, por exemplo.

Seja influenciando positiva ou negativamente, a língua portuguesa deve sim ser parte integrante do processo de aquisição. Não nas aulas, falando português ou fazendo aulas de tradução, mas os professores precisam desenvolver aulas que trabalhem essa transferência, essa sobreposição que é realizada no pensamento dos alunos. De tudo isso só fico triste por minha professora não ter lido os linguístas que estudam pragmática, porque ela jamais teria dito aquilo e teria usado nossa língua como aliada às suas aulas.

Oferecemos Aulas Com Professores Nativos

A mídia é um veículo poderosíssimo de formação de opinião. Ela consegue influenciar escolhas políticas, compras de determinadas marcas, também consegue despertar interesse em assistir filmes, peças de teatro e, mais recentemente, tem feito propagandas em massa sobre a utilização de professores nativos no ensino de língua inglesa. Mas será mesmo que a aquisição de um segundo idioma, o inglês, necessita de professores nativos para que ela ocorra de maneira mais eficaz? Vamos ver se no final deste artigo vocês chegam a uma conlcusão.

Todos somos falantes nativos da língua portuguesa – exceto algumas pessoas que habitam as raríssimas tribos indígenas em que a língua mãe não é o português. Devido a dimensão continental do Brasil, nossa variedade cultural é muito extensa e isso resulta em uma riqueza de variação linguística, muito embora a gente consiga se comunicar em qualquer parte do país. Além da variação regional, encontramos uma variedade linguística muito grande dentro de cada cidade: as famosas Comunidades de Fala. É incrível o que falantes nativos de cada idioma cria com a língua justamente para identificar aqueles que fazem parte da sua comunidade (Bucholtz, 1999), do seu grupo, da sua patotinha, da panelinha. Com certeza dentro das escolas – quem é professor já notou com certeza – existem esses grupinhos e a escolha lexical pode ser um indicador de identidade daquele grupo, por exemplo, o famoso “tipo assim”. Essa expressão idiomática pode ser representante de um grupo de alunos que, para serem destacados dos demais grupos. O estudo que Bucholtz conduziu na escola analizando o comportamento linguístico de identificação de comunidade de fala dos “nerds” e dos  “atletas” é algo peculiar do idioma que somente nativos podem saber.

Assim, utilizar professores nativos no ensino de língua inglesa pode ter benefício quanto a isso. Os alunos que tiverem exposição a esse tipo de língua irão, com certeza, ter acesso às expressões idiomáticas provenientes da comunidade de fala do professor, não somente gírias, mas talvez palavras que sejam mais frequentes naquela comunidade. Mais ainda, o sotaque também vem de brinde. Só nos Estados Unidos existem centenas de variações fonéticas que também podem fazer parte de uma comunidade de fala bem exclusiva. Assim, um professor estrangeiro irá acrescentar ao processo de aquisição de língua estrangeira nada mais do que algumas expressões idiomáticas e sotaques provenientes de sua comunidade de fala, ou seja, um professor brasileiro, eu, você e seus colegas, temos perfeitas condições de ensinar inglês mesmo não sendo falantes nativos de fato. Além disso, temos uma vantagem sobre os professores nativos para balancear a carga sociolinguística que eles trazem: nós estamos inseridos no contexto dos nossos alunos e isso é um ponto importantíssimo na realização de atividades e do lesson plan, que tem maior eficácia se contextualizado.

A troca de cultura, o viés sociolinguístico do ensino de língua inglesa com professores nativos são inquestionáveis. Porém, dizer que a aquisição, de maneira geral, é melhor, mais rápida ou otimizada somente com professores nativos não é um bom argumento. A comunidade de fala existe e oferece um benefício, mas os professores de inglês brasileiros podem muito bem adquirir ou até mesmo serem inseridos nessa comunidade, no entanto entender o contexto social dos alunos brasileiros é mais complicado para os estrangeiros.

Corrigir Ou Não Corrigir? Eis A Questão.

Vocês se lembram ou já viram aquela plantinha que ao ser tocada, no mesmo instante ela se fecha toda? Pois é exatamente isso que acontece quando professores acabam oferecendo feedback aos alunos de qualquer maneira, desleixado. A correção é o momento em que os alunos realmente aprendem e esse aprendizado vai influenciar na avaliação pela qual eles irão passar.

Muitas vezes, professores acreditam que têm a fórmula mágica para correção e passam a ideia de que os alunos precisam ser corrigidos firmemente e que assim a ordem e a disciplina será mantida. Não é bem verdade, a correção tem cunho mais técnico do que comportamental e, no caso de aulas de línguas, a ordem tem um perfil diferenciado: ela é proveniente da bagunça, ou seja, os alunos vão acabar fazendo barulho pois eles têm que falar. Dessa maneira, o feedback oferecido pelo professor precisa ser passado de uma maneira bem suave, de preferência como uma sequência da atividade para que os alunos não sintam que estão sendo repreendidos muito menos castigados. Um follow-up com boa transição vai transmitir aos alunos a informação necessária para a correção dos pontos de deslize sem que os alunos olhem com aquela cara de “professor chato, me corrige a toda hora” e por diversas vezes os alunos nem precisam necessariamente perceber que estão sendo corrigidos.

De acordo com Ellis, Loewen e Erlam (2006), é durante o feedback que os alunos aprendem pois estão com sua atenção quase que total voltada para o professor além de a atividade ter acontecido momentos antes, ou seja, é fácil de os alunos relacionarem a correção àquilo que eles fizeram. Dentre os tipos de feedback “disponíveis no mercado”, o professor tem a correção explícita e implícita. Por mais redundante que seja, a forma explícita deixa evidente aos alunos que estão sendo corrigidos e a implícita não. Em feedback explícito, o aluno tem ciência da correção pois ela é diretamente endereçada ao estudante.

Aluno: Yesterday I go to the mall.

Professor: You need past tense here.

Aluno: Yesterday I went to the mall.

Em aulas com alunos mais novos ou jovens com nível de proficiência iniciante, esse tipo de feedback tende a ter mais eficácia fica evidente o que deveria ter sido realizado pelo aluno.

Já alunos com nível linguístico um pouco mais avançada (que fique claro que não estou falando dos avançados, C1 ou C2, somente), as correções podem ser feitas de maneira mais sútil sem perder a eficácia. Recasts são uma maneira bem delicada de se corrigir os alunos sem que eles tenha a noção de que estão realmente recebendo uma correção pois se encaixam na categoria de feedback implícito.

Aluno: She will going to the concert tonight.

Professor: Oh! She will go to the concert. What concert will she go to?

Aluno: She will go to Foo Fighter’s concert.

Obviamente que com o uso de recasts espera-se que o aluno perceba a forma mais adequada da língua e a reproduza na próximas vezes, mas nem sempre isso ocorre.

Quer seja explícito ou implícito, o professor precisa sempre ficar atento para que o feedeback seja oferecido de maneira sutil para não criar um bloqueio nos alunos. Além disso, correção mal feita não vai causar o efeito esperado, ou seja, aquele momento em que os alunos falam “ah… agora entendi” não vai acontecer. Não existe fórmula mágica pra correção, tudo depende do perfil analisado pelos professores e desenvolvimento de follow-ups para que as plantinhas não se fechem.

De Onde Vem O Coelhinho?

Muito chocolate faz, sim, mal e pode causar mal estar, mas somente nessa semana todos nós iremos dar uma exageradinha no chocolate. Então nada mais justo que deixar a criançada curtir a Páscoa e, de preferência, em inglês. Uma das vantagens de se trabalhar com alunos dos primeiros anos do ensino fundamental é a facilidade na aquisição da língua estrangeira em função da consolidação do período crítico.

Embora o nome passe a impressão de algo ruim, período crítico é, na verdade, o tempo que a criança tem de maturação, ou seja, é o período em que as conexões neurais se solidificam e coincidem com a consolidação linguística. Birdsong (1999) é um dos representantes mais famosos desse estudo do período crítico e desenvolvimento da língua. Portanto, nada mais legal do que juntar o Coelhinho da Páscoa, o inglês, uma mistura de culturas com atividades dinâmicas que favorecem o aprendizado da língua haja vista as condições de maturação que os alunos estão passando. Dessa vez, tomei a liberdade de usar as ideias da Educaderia, empresa do meu colega Fernando Fragoso, que desenvolve materiais didáticos divertidos com ilustrações muito legais para criar a sugestão de aula pra Páscoa. Sempre, claro, pensando no viés comunicativo da aula de línguas.

Pensando em uma turma de ensino fundamental I (EF I), primeiro ano, ainda há tempo para pegar carona na maturação e, por isso, seria muito legal começar a introduzir sentenças inteiras, trabalhar com estruturas sintáticas juntamente com a apresentação de novos vocabulários, muito comuns nas aulas de inglês pra esse ano. O plano de fundo pra essa atividade é a Páscoa e nada mais bacana do que explorar a imagem do bom e velho coelhinho. Para se trabalhar a oralidade com alunos dessa faixa etária, seria uma ótima ideia utilizar sentenças mais simples mesmo porque a língua materna deles também ainda não está totalmente consolidada. Como aquecimento, o professor pode fazer perguntas simples utilizando contraste para se chegar à resposta “coelhinho”. Por exemplo: “is this the pet for Easter” e vai mostrando figuras ou ilustrações de animais que não sejam um coelho. Após várias perguntas e fotos, uma foto do coelhinho é mostrada e a pergunta muda para  “who is it”, esperando-se uma resposta em conjunto (talvez em português) que se trata do coelhinho da Páscoa. Ótima oportunidade para se apresentar o nome dele em inglês, Easter Bunny.

A Educaderia, empresa que desenvolve e-books e jogos educacionais, oferece um game muito interessante que incentiva a oralidade e a utilização de várias palavras novas. Em uma turma grande, o professor pode dividir os alunos em quatro turmas: grupo vermelho, verde, amarelo e verde. Através de rodadas, cada turno, um grupo fala e várias partes do coelhinho vão sendo introduzidas e trabalhadas, por exemplo, tail, paw, ears, tooth (teeth), eyes, fur, carrot, etc. De acordo com a ilustração da Educaderia, em formato de jogo de tabuleiro, existem pontos de interrogação  que o professor pode utilizar para fazer perguntas extras aos grupos tais como “what’s the eye color of the bunny“, “what’s the favorite food of the Bunny“, etc, para estimular também aqueles alunos que por acaso já se encontrarem num nível linguístico mais desenvolvido que o de seus colegas. Essa primeira parte deve deixar os alunos animados e preparados para trabalharem sozinhos.

Para finalizar a aula, o professor pode pedir que os alunos trabalhem individualmente, ou até mesmo em duplas, desenhando suas versões do Coelhinho da Páscoa com cenários que o professor pode pré estabelecer. O professor pode oferecer aos alunos cenários do tipo fazenda, casa, espaço, floresta para que os alunos insiram seus desenhos e abusem da criatividade e utilizem tudo aquilo que aprenderam durante a aula. Certamente, o período de maturação dos alunos vai ser um importante aliado no aprendizado da língua estrangeira e o professor tem a chance de sair do status quo ao oferecer oportunidade de os alunos se comunicarem para falar sobre o grande personagem da Páscoa.

O Tradicional, o Moderno e o Marketing

Não sou nenhum expert em marketing, nem formação comercial tenho, mas é óbvio que uma empresa busca sempre o lucro e, por esse motivo, investe muito de seu orçamento em propagandas. Porém, é só ligar a TV que facilmente se encontra comerciais falando em “jeito moderno de aprender inglês”. O que podemos esperar dessa afirmação é que a abordagem utilizada pela escola de idiomas esteja alinhada à crescente utilização do estudo linguístico de aquisição de linguagem pelo uso da língua.

Vamos ver se conseguimos dar uma destrinchada no anúncio da TV. No começo do século XX, nos primórdios das aulas de língua estrangeira, o latim era o idioma a ser ensinado. A abordagem utilizada, e a mais antiga, era o da tradução, ou seja, os alunos traduziam textos em latim para sua língua materna e vice versa. Com certeza não vemos mais isso em muitas escolas, quer sejam de idiomas ou regulares. Embora completamente ultrapassada, afinal é impossível medir a profundidade com que a língua foi aprendida através de uma simples tradução de texto, em nível lexical e enriquecimento de vocabulário a tradução é bem valiosa. De acordo com os estudos piagetianos, a língua se desenvolve como uma ferramenta para que a criança obtenha o que deseja. Com a língua estrangeira não é diferente. A língua, no caso o inglês, precisa ser aprendida afim de ser usada como uma ferramenta de comunicação, por isso a abordagem de tradução dos primórdios do século passado é muito obsoleta.

A aquisição de linguagem teve seu turning point quando Chomsky publicou seu material em que consta que todos nós temos uma gramática em nosso cérebro que nos permite decodificar e reproduzir infinitos idiomas. De outro lado, Wittgenstein suporta a importância social da aquisição. Eis que no início dos anos 2000 aparece um estudo que uniu as correntes e sugere que a língua é adquirida através de sua utilização (reprodução) e reforço de pessoas com formação linguística consolidada (adultos) e a maturação cognitiva das crianças são responsáveis pela decodificação (entendimento) da língua (Tomasello, 2003). Bingo! Essa é a grande diferença das escolas de idiomas pras regulares no ensino de inglês, muito embora, por muitas vezes, isso não é feito com qualidade também nas escolas de idiomas. Pegando carona nesse estudo, instituições como TESOL e Cambridge caminham juntas na estrutura do plano de aula dos 3 P’s (presentation, practice, performance), que favorece e corrobora a eficácia do estudo.

Usar a tinta, giz, iPad, smartphones, lápis, caderno, livros, laptops não vão mudar o processo de decodificação da língua inglesa. Eles podem, e tem, outros benefícios, mas acreditar nas propagandas de TV que vendem a ideia de que o fato de se estudar pela internet vai lhe oferecer o que há de mais moderno no aprendizado seja, talvez, confiar no discurso marketeiro.

Minhas Férias

“Minhas férias”, esse é o mais famoso título de redação ou tema de primeiro dia de aula das escolas e também o que mais sofre com piadinhas. O fato é que esse tão controverso tema carrega consigo infinitas possibilidades e, talvez, os professores estejam utilizando esse assunto de um jeito mais tradicional. No entanto, existem algumas maneiras de se trabalhar as férias de um modo que esteja totalmente dentro do contexto dos alunos e do mundo, com apps e um pouco de trabalho na hora de realizar o lesson plan.

É claro que o material didático (MD) oferece recursos visuais interessantes para que o tema férias seja explorado. Ilustrações, fotos, figuras ao dispor do professor, mas… num mundo em que os alunos dão um baile no quesito uso da internet, aplicativos e equipamentos em geral, seria interessante o professor ir além do MD. Um ótimo warm-up seria utilizar, por exemplo, algumas figuras que o MD oferece. Supondo que as figuras sejam de locais famosos, escreva alguns cartões com os nomes dos locais. Por exemplo, se a figura mostra o Pão de Açúcar, escreva no cartão “Rio de Janeiro” e distribua aos alunos. A ideia por trás de toda aula de língua, seja ela nativa ou estrangeira, é fazer os alunos produzirem pois, como já falamos em outro artigo, através do uso da língua que os professores terão dados para ajustar a linguagem da turma. O grande objetivo desse aquecimento é fazer com que os alunos se conheçam, pensando que o ano letivo tenha acabado de se iniciar e alunos novos estão na sala, através da comunicação, ou seja, perguntando “are you_?”, “do you have_?” e se desenrole em “what’s your name?”, etc.

Toda essa atividade pode ser feita em, no máximo, 5 minutos e o professor ainda ganha tempo na divisão dos pares para a fase de drilling, que é o momento em que se apresenta o novo conteúdo. Pensando nas férias, o simple past tem, praticamente, um viés enraizado, afinal os alunos precisam desse tempo verbal para comunicarem quais foram suas atividades durante o período de descanso. O material didático apresenta, sim, recursos que podem ser utilizados pelo professor para apresentar o tempo passado da língua inglesa. Lembram-se dos 3 Ps? Pois então, o practice acontece através da exploração da ilustração do MD que possa conter um roteiro de viagem e as perguntas podem ser realizadas pelo professor, ou seja, serão usadas as perguntas que o MD propõe mais outras que o professor irá realizar para as duplas, sempre utilizando o idioma alvo, “forçando” os alunos a produzirem. Vale ressaltar que, embora cada dupla receba uma pergunta específica, nada os impede de trocar informações desde que seja feita no idioma alvo e quanto mais os alunos falarem, maior o corpus que o professor poderá criar para trabalhar.

Das habilidades linguísticas, 3 serão exploradas: leitura do roteiro, fala para comunicação aluno/aluno e aluno/professor e audição que é recorrente da comunicação. A tão esperada atividade final, que coloca os alunos em contato com o que aprednderam na aula de forma mais livre (performance) pode ser realizada com algo que os alunos da atualidade mais adoram, apps. Temos duas opções: sincronizar essa atividade com um estudo do meio (geralmente não acontecem no começo do ano letivo) ou utilizar os locais destacados que ficam nos arredores da escola. Sem mais delongas, “Field Trip”! Esse aplicativo desenvolvido pelo Google oferece sugestõs de locais a serem visitados dentro do raio da sua localização e conta com fotos e explicações em inglês sobre a importância do lugar. Caso pelo menos um dos alunos dos pares separados no início tenha um smartphone ou a escola ofereça tablets, é só baixar o app Field Trip e pedir que os alunos escolham seu roteiro de viagem. Assim que eles terminarem de ler e escolher os locais da viagem, eles apresentam pra turma tudo o que aprenderam de interessante com o app.

O processo de aquisição de línguagem se desenvolve pela combinação da interação social e da utilização da cognição para o entendimento da língua que está sendo falada. Adicione à isso um plano de aula bem esquematizado e uma pitada de recurso tecnológico (que já faz parte do nosso cotidiano) e os alunos irão realmente viajar – no bom sentido – quando tiverem que discutir sobre o famoso tema “minhas férias”.

A Valorização do Real

Se eu fosse um economista, com certeza me achariam um louco por falar isso, mas… o real está cada vez mais valorizado. Estou falando de materiais reais para uso em sala de aula, realias, que promovem uma experiência de ensino genuína aos alunos de língua estrangeira. A combinação de um material real e um lesson plan bem estruturado além de motivar os alunos oferecem a exposição ao idioma de forma genuína.

Os materiais reais a serem utilizados em sala trazem muitos benefícios no processo de aquisição de língua estrangeira tal como contato com uma linguagem nativa genuína que os alunos podem encontrar ao visitarem um local em que a língua estrangeira seja a oficial. Mais ainda, exposição a materiais reais ativa o senso crítico linguístico dos alunos ao perceberem a maneira que a língua é usada pelos nativos para transmitirem um determinado tipo de informação e, então, tentarão reproduzir. A motivação também tem incremento quando da utilização dos materiais autênticos uma vez que os alunos vão ter a oportunidade de trabalhar com artigos que podem ser encontrados  facilmente caso eles viajem e, portanto, se sentirão preparados para se comunicarem e negociar com o idioma. Esse sense of achievement é muito importante, principalmente nas aulas, pois se os alunos conseguem finalizar uma tarefa  simulada em sala com um realia, eles estarão confiantes para prosseguir e progredir nas aulas.

E afinal o que são materiais autênticos? São todo tipo de produção que podem ser utilizados em sala de aula, desde objetos até um vídeo no YouTube. Ou seja, estamos cercados de materiais reais. Um ingresso de cinema pode virar centro de discussão de uma aula, um recibo de cartão de crédito, materiais esportivos, etc, cabe ao professor pesquisar o material autêntico que se encaixa no seu conteúdo a ser inserido no lesson plan. Essa é a parte trabalhosa de se usar realia, mas é, também, justamente o wow factor que vai diferenciar você dos outros professores. Seus alunos irão olhar você com outros olhos pois o material escolhido (sem nenhum tipo de possíveis caminhos adversos) irá atender e, às vezes, superar as necessidades da turma, sem contar que a internet facilita o acesso aos materiais autênticos e ficam à disposição dos alunos sempre que eles tiverem vontade de ter contato com o material novamente. A internet 2.0, termo utilizado para denominar conteúdos e acessibilidade da web nesta segunda década do século 21, oferece uma infindade de opções de materiais reais que podem ser utillizados em sala de aula e, com uma pitada de tecnologia, a produção dos alunos pode ser melhorada.

Após horas e horas procurando pelo vídeo perfeito, texto perfeito, foto perfeita, áudio perfeito, enfim, material autêntico que se encaixa perfeitamente no conteúdo a ser passado pros alunos, o professor pode utilizar um velho e conhecido recurso para criar uma tarefa bem divertida em que os alunos precisam utilizar o inglês para realizar a atividade: Power Point. A criação de um quiz em que os alunos são dividos em trios ou quartetos usando o Microsoft Power Point oferece aos alunos mixed skills a serem trabalhados uma vez que pode-se ter a combinação de imagens (visual), áudio (audição), textos (leitura) e a fala como habilidade final a ser produzida para responder às perguntas. Como follow-up, blogs são um ótimo recurso para que os alunos trabalhem de forma mais livres e produzam conteúdos em inglês. Lá eles podem postar fotos, vídeos, escrever, compartilhar informações e o professor tem a função de analisar essa produção e oferecer assessoria através de comentários via e-mail mesmo ou então em conversas ao vivo com os alunos em particular.

Os materiais reais estão em toda parte: na tv, jornais, radio; com a internet, a compilação de materiais autênticos que podems ser utilizados nas aulas de inglês ficou mais facilitada, não necessariamente organizada. O professor ainda precisa pesquisar muito para encontrar o artigo certo, mas vai encontrar e com certeza os alunos ficarão mais motivados e, consequentemente engajados para se tornarem multilíngues.

Entendendo Os Perfis Dos Alunos

Enfim férias! Jingle bells pra lá, feliz ano novo pra cá, descanso, praia, alarme do relógio desativado. Essa é a vida de marajá que todos os professores desejam (e merecem). Afinal, são 10 meses de trabalho árduo selecionando livros que apresentam os melhores recursos visuais, discussão sobre abordagens para que os alunos tenham melhor desempenho linguístico em sala, lesson plans, reuniões de pais, cursos, alunos e mais alunos. Só que todo esse trabalho pode ser facilitado se desenvolvido um mapeamento para identificar as idiossincrasias de seus alunos, pois já é de conhecimento de todos nós que cada alunos possui perfis cognitivos e comportamentais distintos.

Faz parte do job description do professor de inglês traçar o perfil de seus alunos para que as atividades a serem colocadas no seu lesson plan consigam atingir as necessidades de todos, não precisamente ao mesmo tempo. Saber se a dificuldade de 20% da turma encontra-se em speaking e quem são os alunos que apresentam essa dificuldade facilita o trablho do professor além de deixar as aulas mais eficazes. Muito da frustração tanto de professores quanto de alunos vem do desse truncamento, ou seja, o professor se frustra com os resultados abaixo do esperado e os alunos porque não conseguem se expressar de forma clara para que o professor perceba onde está o problema.

As atividades desenvolvidas, principalmente no momento de performance, tem por objetivo, mesmo que de maneira implícita, o fator motivador da fala. De acordo com a estrutura cognitiva da fala de Segalowitz, o fator motivador da fala é que impulsiona a prodção oral. Pois então vejamos: um aluno que apresenta dificuldade em listening, quando envolvido em uma conversa, pode ter rendimento abaixo do esperado por não compreender com precisão o locutor, dificultando a continuidade da conversa. Ainda que esteja entendendo o suficiente, pela sua dificuldade em entender, o aluno pode não querer se comunicar com o mesmo empenho. Cabe ao professor identificar esse caso para seus alunos e desenvolver atividades para melhorar essa habilidade.

Em nossa oficina sobre heterogeneidade, damos sugestões de atividades para os perfis cognitivos e comportamentais que podem ser encontrados nos alunos dentro da sala de aula. No entanto, sabemos que mapear os perfis dos alunos nem sempre é fácil. O professor precisa estar atento às características de seus alunos e, até conseguir um mapeamento mais consolidado, são necessárias muitas tentativas de atividades. A Geekie, empresa de tecnologia educacional, oferece uma ferramenta ótima para o professor diagnosticar as dificuldades de seus alunos e entender melhor seus perfis. Através do Geekie Lab, o professor que tiver acesso aos dados educacionais poderá desenvolver atividades que visam a melhoria dos pontos mais fracos das habilidades dos alunos além de saber os pontos mais fortes também para estimular o que já está bom.

Quer seja através de workshops ou por meio de ferramentas tecnológicas, o professor precisa encontrar uma maneira de traçar o perfil linguístico dos seus alunos. Os auxílios estão à disposição e cabe aos profissionais da educação promover o uso desses recursos. Mais importante é que os educadores consigam, de fato, diagnosticar a melhor maneira de se extrair o melhor de seus alunos.

Feliz natal e um 2015 muito melhor para todos. Hohohoho!

Animando o iPad

Essa moda de que ser nerd é ser cool nem sempre foi vista com bons olhos. Quando eu era moleque, nunca entendi o motivo de outros colegas tirarem sarro de quem gostava de desenhos animados, histórias em quadrinhos, super herois, etc. Hoje, com as histórias em quadrinhos invadindo o cinema, animações ganhando prêmios  e a valorização dos profissionais que trabalham nessa área, a aceitação e vontade de se fazer esse trabalho é maior. Obviamente que a criançada também vai querer brincar de desenhar e animar.

Robert Gardner quantificou o processo de aprendizado e em sua equação, o fator motivação é dominante uma vez que ele pode zerar todo o processo. Por isso o professor deve contextualizar as aulas e tratar seus alunos como uma pessoa que está inserida no mundo e, portanto tem conhecimentos. Fazer com que o conteúdo seja aprendido através de projetos (Project Based Learning) é uma abordagem moderna que leva em consideração o contexto dos alunos, elevando a motivação para aprender. Por que não fazer com que os alunos aprendam inglês e se divirtam criando animações e storyboards no tablet? Além da motivação de se usar algo pelo qual os alunos se interessam, tem o fator tablet e a atividade estimula o lado criativo dos alunos ao desenharem suas animações. Mais ainda, pensando nos diferentes perfis cognitivos encontrados em sala de aula, utilizar a criação de uma animação para ensino de inglês atinge os alunos visuais (obviamente), os musicais pois o app oferece espaço para os alunos incluírem trilha sonora e também estimula o raciocínio lógico.

O simple present é o tempo verbal mais simples da língua inglesa, ele representa fatos, assunções e rotina. perfeito para os alunos brincarem e aprenderm ao criar uma historinha, uma tirinha. Vamos lá. Depois de ter apresentado e “drillado” o presente simples com seus alunos e reparar que eles estão confortáveis e confiantes pra produzirem, o professor pode separar a turma em duplas e oferecer personagens fictícios para cada dupla criar a animação. Nessa atividade para tablets, os alunos recebem alguns verbos pré selecionados pelo professor para que sejam um guia na hora de realizarem a montagem da animação. O app Animation Desk oferece vários recursos e é em inglês, ou seja, vai enriquecer o vocabulário de uma forma muito divertida. mas e a fala? O Animation Desk oferece recurso de gravação de voz para inserir no storyboard e os alunos podem gravar a fala de cada personagem, ou mesmo narrar os acontecimentos. Conforme os alunos vão desenvolvendo a animação, o professor vai auxiliando na parte lógica e linguística, assessorando-os até o dia da entrega do projeto.

Utilizar recursos tecnológicos nem sempre requer um alto grau de complexidade. O desenvolvimento desse projeto de ensino de simple present pode ser contextualizado com o que os alunos já estão acostumados a usar em suas rotinas: tablets, smartphones, apps. Além disso, há o estímulo de uma possível carreira na animação, como seguiu, por exemplo, Maurício de Souza (ultimamente) e Carlos Saldanha, diretor do grande hit A Era Do Gelo 3.