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Para Quem São Os Eventos Educacionais?

Tempo. Uns dizem que é dinheiro, outros acreditam que com o passar dos anos ele corre mais depressa, para professores de língua inglesa, tempo é praticamente inexistente. Muitas vezes eles se dividem em 2, até 3 escolas, inúmeras turmas, vários alunos, planejamento de aula, avaliações e feedback, reuniões com pais e internas, enfim, dificilmente sobra tempo para que façam cursos e compareçam a congressos. E os congressos hoje em dia têm acontecido em dias e horários duvidosos.

Cada vez mais os congressos educacionais têm se tornado eventos que deixariam Tony Stark chorando de inveja. Os locais são grandiosos, os stands cada vez mais bonitos, os palestrantes convidados cada vez mais famosos, tudo muito atrativo como se fosse um shopping em que o produto principal é a educação. Um evento desse porte desperta interesse de qualquer pessoa, de professores de línguas então, faz os olhos brilharem como os de uma criança em uma loja de doces, só que tem um pequeno problema: eles não podem comparecer. Vamos usar o Bett Educar como exemplo porque é o maior evento educacional do Brasil. Uma semana inteira de congresso com stands e palestras que acontecem durante dia de semana, momento em que os professores estão em sala dando aulas, ou seja, as pessoas para as quais o evento deveria ser destinado não poderão aproveitar. E então alguém pode contra argumentar “eles podem selecionar uma palestra que interesse e comparecer somente naquele dia”. Esse, e a grande maioria dos eventos, não visam atingir professores locais somente. Já que o intuito é envolver educadores do Brasil, talvez não seja possível para nossos professores de língua inglesa que trabalham no estado do Rio Grande do Sul selecionarem uma palestra, que vai acontecer numa quarta às 14h30, e voltarem a tempo de dar as duas últimas aulas do dia porque não existe logística que permita que isso de fato aconteça.

Os professores de inglês do estado de São Paulo também não contam com uma logística melhor para conseguirem participar de congressos educacionais e aumentarem a qualidade do ensino, aplicar novas ideias, impactar as aulas de verdade. Um professor da cidade de São Carlos (interior do estado) que pretenda assistir a uma palestra que comece às 10h da manhã precisaria cancelar suas aulas nesse período. Aí que temos  o primeiro obstáculo, pois somente um professor de inglês que dê aulas somente para uma turma em uma escola conseguiria esse tempo com facilidade, ou seja, professores que tenham mais que uma turma e que trabalhem duas ou mais escolas já enfrentariam dificuldades. Porém, vamos supor que esse educador tenha mexido uns pauzinhos e abriu horário a manhã inteira. Vai acordar em torno das 5h da manhã para chegar em São Paulo por volta das 8h00, isto é, o percurso entre São Carlos e São Paulo durou 3 horas e ainda tem 1 hora até que os portões do evento sejam abertos. Ao final do evento, essa mesma pessoa teria que sair sem aproveitar os stands e voltar direto pra cidade natal, sem comer e então talvez tenha tempo de dar aulas no período da tarde.

Num outro extremo do problema que envolve uma participação maior de professores de língua inglesa em eventos educacionais – agora os eventos em geral também envolvem os teachers porque a conversa sobre a BNCC e bilinguísmo estão em voga – estão os valores para esses congressos. Recentemente foi divulgado o preço para um congresso específico sobre bilinguísmo com valor em torno de R$800,00, podendo ultrapassar os mil reais. Essa quantia extrapola as condições financeiras de professores de inglês e contribui para que as pessoas presentes no evento sejam profissionais com uma renda condizente e esse é um outro problema. Os congressos estão cada vez mais interessantes só que cada vez menos caracterizados para quem mais precisa: os professores. Se prestarmos atenção, iremos perceber muitos empresários, muitos coordenadores, diretores, mantenedores, secretários de educação, vendedores, marqueteiros e professores… alguns. Será mesmo que esses eventos cada vez maiores e com temas impactantes estão focados, de fato, nos profissionais que vão se beneficiar com toda essa informação? E os universitários, que são o futuro da profissão? Como eles podem arcar com esse gasto para poderem entrar em sala de aula com uma formação muito mais completa e mais preparados para o que realmente acontece em uma escola?

Claro que sabemos que é praticamente impossível fazer com que a grande maioria dos professores do país participem ativamente de todos os dias de um congresso, mas seria de bom tom reavaliar a estrutura dos eventos em geral para garantir a participação maior de educadores. Talvez mudar os dias desses eventos para finais de semana e realizá-los em dois seguidos, repensar os valores para que sejam mais acessíveis e realistas com a atual situação econômica dos educadores e dos universitários e, por favor, pensem muito nos alunos do ensino superior porque eles são futuros professores. Geração após geração, a qualidade precisa ser cada vez maior, com mais conteúdo, mais bem informados, sem gaps na formação.

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