Posts

A Linguística (De Fato) Aplicada

O final dos anos 90 e começo da primeira década dos anos dois mil foram períodos muito interessantes. A internet chegou ao Brasil, as redes sociais davam seus primeiros passos, o “bug do milênio” não passou de um medo virtual e o apocalipse virou uma falácia. Além disso, presenciamos um boom de escolas de inglês que foi impressionante. As franquias praticamente brotavam em cada esquina quando o país se viu inserido no mundo graças, também, a internet. Mas qual terá sido  a fórmula mágica que as escolas de idiomas descobriram para tornar o ensino de língua estrangeira tão interessante?

A resposta pode ser mais simples do que imaginamos, só que todo o processo por trás disso é complexo e requer tempo. As escolas de idiomas fazem, cada um à sua maneira, seus alunos falarem. Esse é um dos fatores linguísticos responsáveis pelo crescimento contínuo de centros de idiomas e suas receitas “infalíveis” para se atingir a tão cobiçada fluência. Deixando de lado a eficácia das metodologias, vamos colocar todo foco sobre a grande sacada que foi desnormatizar o ensino de línguas.

Eu sei que já mencionei o trabalho de Tomasello aqui por diversas vezes, mas é que de fato seu estudo sobre desenvolvimento da língua é uma quebra de paradigma nesse tema, pois antes tínhamos somente a ideia de que a fala acontece através de um template linguístico em plano cartesiano. No eixo X, a sintaxe da língua e no eixo Y os léxicos. A partir desse modelo, Chomsky e Pinker (e mais um monte de linguístas gerativistas) publicaram brilhantemente vários estudos mostrando que esse plano cartesiano funcionava para todo mundo pois isso seria parte de uma função lógica do nosso cérebro, isto é, segundo os gerativistas nós encaixamos palavras em seus determinados lugares conforme as ouvimos. Isso seria perfeito em exemplos como (1) e (2).

(1) I run 10 miles everyday.

(2) Yo no tengo un perro.

(3) Parei de pensar e comecei a sentir.

O grande porém desse estudo que coloca o desenvolvimento da fala como algo inato é a desqualificação de um eixo do plano, o eixo Z. Esse eixo representa a intencionalidade na fala e interacionistas apostam quase todas suas fichas no cunho social para a aquisição. Esse viés social declara que nossa língua se desenvolve conforme somos expostos e vamos copiando falantes adultos tanto na parte fonética quanto na ordem e seleção léxica. Por se tratar de um estudo sob fundamentaçoes sociais, a intenção entra em jogo e consegue explicar o significado de (3), sendo que sob o olhar gerativista, pode-se pressupor que a pessoa não sentia enquanto pensava ou até mesmo que ela de fato não vai mais pensar. Pensar que a língua é um fator exposicional, como uma herança cultural mesmo (como disse Wittgenstein), coloca por terra a pobreza de estímulo que chomskinianos apresentam haja vista que a intenção de (3) é explicitamente passada para as gerações.

Eis que então alguém parou e pensou “ei! sim, nós temos cérebro e a fala contém muito de sua parte lógica que nos obriga a usar nossa cognição, mas também precisamos de interações sociais para adquirirmos a intencionalidade”. Essa é praticamente a fundação do estudo que iniciou o Usage-based Learning. A fundamentação teórica (ultra mega hiper resumida) é que nossa fala se desenvolve conforme somos expostos, pensamos e falamos. Segundo Tomasello, nossa fala tem início de maneira singular, ou seja, através de um item e conforme vamos sendo expostos, vamos raciocinando e entendendo o que colocar, onde colocar e o que queremos expressar.

(4) Gone.

(5) It’s gone.

(6) Horsey gone.

(7) The horse is gone.

Todas as instâncias vistas de (4) até (7) mostram evolução da fala conforme exposição e reforço de um falante adulto. Portanto, o que precisamos fazer com nossos alunos dentro de nossas salas de aula é incentivar a fala. E que fique bem claro que repetição, pedir pra que alunos leiam em voz alta ou simplemente pedir pra que eles criem uma frase não é encorajamento de fala. Primeiro que repetição pode ser mecanizada, não necessariamente há utilização de cognição (funções superiores), segundo que ler em voz alta também pode ser mecanizado, ou seja, o aluno pode simplesmente ler o que estiver escrito e não entender o conteúdo. Por fim, pedir para que nossos alunos inventem uma frase, usando a famosa “give me a sentence with” embora sacie a parte cognitiva do processo aquisitivo da língua, não releva o fator comunicativo (social) que, conforme foi dito anteriormente, carrega o eixo Z da intencionalidade.

Portanto, precisamos nos planejar com o maior cuidado possível para que a gente consiga promover a fala em sala de aula. Por vezes, os materiais didáticos não oferecem esses tipos de atividades. Sem problemas! Nós mesmos podemos criar exercícios para que enfim o ensino de língua estrangeira no Brasil saia da atual posição pífia e enfim nossas crianças se sintam parte do mundo. Se as escolas de idiomas conseguiram oferecer trabalhos semelhantes, a escolas regulares com certeza conseguem aprimorar.

Cê Tem Bruneva? Ou Cê Tem Bruchove?

“Mas quando alguém te disser que está errado ou errada, que não vai S na cebola e não vai S em feliz, que o X pode ter som Z e o CH pode ter som de X”. Essa letra da música do grupo O Teatro Mágico, sem querer querendo, tem uma importância linguística interessantíssima. Pois vamos aos fatos: embora a língua portuguesa seja um idioma predominantemente ortográfico, isto é, quando falamos, o fazemos conforme escrevemos as palavras, quando conversamos as palavras acabam tomando uma outra forma fonética e, às vezes, ortográfica. Sabe aquela dúvida quando vamos escrever a palavra “exceção”? Pois essa dificuldade é similar quando nossos alunos travam na hora das atividades de listening.

O início da minha nada fácil carreira (o riso é livre), tive o privilégio de trabalhar numa escola de idiomas bem famosa e o primeiro verbo que os alunos aprendiam, logo na primeira aula, era eat em sua forma infinitiva. Quando os alunos tinham contato com o modelo do áudio, eles ouviam [tüwit] (to eat), uma pronúncia diferente da canônica que seria /tü/ /it/. O resultado: quando os alunos precisavam conjugar o verbo numa frase comum, o que tínhamos era “my daughter [wits] cornflakes for breakfast“. Isso mostra que quando oralizada, a língua inglesa também sofre mutações fonéticas que favorecem a fluência, como pode ser notado na adição do fonema /w/ no verbo eat na forma infinitiva que acompanha to. E de fato quando falamos, a fluência natural da frase oferece a adição de um fonema quando há encontro de sons vocálicos na língua inglesa, e digo sons porque o inglês é uma língua sonora, diferente do português. Essa característica da língua inglesa é um dos obstáculos para nossos alunos quando tem atividades de listening, pois os students vêem a palavra escrita, ouvem os professores produzirem /it/ incansavelmente e no áudio aparece /wit/. É claro que o cérebro deles vai dar um nó.

Por isso, é muito importante, primeiramente, sairmos do nosso status quo e enfim entendermos que pronúncia se trata de algo além do conjunto de fonemas que encontramos nos dicionários para descobrirmos a pronúncia das palavras quando soltas. Por que precisamos sair dessa armadilha? Porque palavras mudam de figura quando no meio de frases durante uma conversa, por exemplo. Aqui no Brasil, os mineiros são conhecidos por fazerem essa elisão de sons como podemos notar em (1) e (2).

(1) [‘popōō’po] na cafeteira?

(2) Quantos [‘kidʒi’kaːrni] você quer?

(3) [‘wadʒju’du] that?

No entanto, não somente os mineiros são capazes de tal proeza linguística, mas os falantes de maneira geral fazem uso desse “fenômeno” que favorece a fluência da oralidade. A diferença é que como se trata de nossa língua materna, não temos costume (infelizmente) de analisar essas junções de sons nas aulas de português e quando nos deparamos com essa situação na língua inglesa (ou qualquer outra estrangeira), temos o hábito de achar que a língua em questão é um bicho de sete cabeças. Mas não é. Pois bem, o simples fato de nossos alunos perceberem que em (3) existe um conjunto de sons que antecipa a palavra that e que a entonação se trata de uma pergunta é um grande passo. Isso é o início de uma análise top-down, ou seja, é uma percepção que nossos alunos trazem por eles mesmos. Great job, guys, mas não é o suficiente.

Segundo o professor Mark Bartram é preciso saber mais do que interpretar o que algo foi dito ou escrito. No caso da leitura, o trabalho fica um pouco mais fácil, mas no caso da oralidade… aí a coisa fica séria! Portanto precisamos separar um tempinho em nossas aulas para brincar com os sons da língua inglesa para que nossos students notem que o primeiro /d/ encontrado em (3) se trata de uma elisão da palavra did – embora eu classificaria como um quase extermínio da palavra – que se funde com a palavra you. A menos que esse tipo de trabalho bottom-up, ou seja, que uma análise que a fala ou o texto promove aos alunos, tenha sido realizado anteriormente, de fato encontraremos students travados nessa parte da atividade de listening.

Portanto, meu amigo professor, quando estiver preparando seu lesson plan, quer seja pra alunos avançados ou os pequeninos, reserve um espacinho para discutir as nuances sonoras que a língua inglesa oferece. Quanto antes fizermos esse trabalho, menor será a chance de termos alunos chegando ao colegial com dificuldades extremas nas atividades de listening, sem contar que a fala também irá melhorar.

Having Our English Outside The box

In over a decade teaching English, I have lost count of the many times people (students, teachers, principals, TV ads, etc) told that someone speaks good or bad English. By the time I started my (super duper) career as an English teacher, becoming a linguist was not even an option,  but every time I heard something like that it did not sound good. It was as if language had to be performed in a specific manner otherwise the speaker would be burned like a witch. I do not think this is the way.

Thinking about phonetic symbols we will certainly find a an average line for pronunciation. What would this line turn out to be? Those utterances that cause no confusion, so whether you are from the countryside or the capital, Texas or San Francisco, your pronunciation will not lead you to a minimal pair situation, i.e. those small phoneme chunks that once misplaced will generate different words. In addition to minimal pairs, we can think about accent issue, a very regional linguistic feature. For countless times I also heard people (mis)judging another person’s linguistic competence due to the accent being that maybe that funny sound coming from someone’s mouth is the result of an exposure to an English that comes from northern England, Scotland, ?India, South Africa and maybe that person did not know that. Thus, saying a person speaks “good” English under a fully phonetic perspective may cause some breakdown.

Syntax, oh my beloved syntax! Those who have a linguistic educational background just like this poor writer for sure had dark days doodling syntactic trees to analyze phrases. Believing that a person is a good or bad English speaker leaning upon the syntactic elements noted in a person’s speech is understandable yet arguable. If one of our students uttered something like (1), we would certainly say that he or she is a terrible English speaker and we would even say that the student is not proficient if we compare it with (2) – nonsense!

(1) *You’s cool, man.

(2) You’re cool, man.

Of course our role as teachers is to show our students the language’s canonical manner as can be seen in (2), but labeling (1) as awful and non-proficient English is agreeing with a generative perspective of language, which in fact, even if unconsciously, is part of the behavior some of my peers have. Language does not develop as if there were labelled boxes where we can only put things that are specified in the label. As a matter of fact we can play with the boxes and their content, actually this will happen so that our students know how to explore every characteristic of the language and then they will become a highly skilled speaker once he or she will have become able to to communicate in any sort of context. If we acknowledge that there are some speech community where (1), ‘he don’t work’ among others are accepted, we will not be embarrassed by our students when we hastly correct them – with some kind of arrogant air – because they will certainly say that they had heard that type of utterance from a native speaker which, by our students’ logic, native speakers have more credibility than us. A current phenomenon that portrays metamorphosis in the language is the teen-famous ‘I can’t even‘, where ‘even’ plays a verb. This is not in the correct box, but it is certainly not considered non-proficient.

We teachers have to broaden the matter of language acquisition (Rajagopalan, 1996), because if we keep framing our students’ utterances we will never evolve in the concerns of language in general and we will remain with the biased behavior projecting language as a steady organism that does not carry any proposition, ideas, thoughts and this unfortunately has set the tone of the discussions involving native language teaching in Brazil. We need to try to understand what our students’ point is and then show them the many ways they can achieve their goal in varied contexts. What about you, teacher? How do you have your English outside the box?

Vídeo Game + PBL + Aulas De Inglês = Diversão

As férias acabaram… Ouço a marcha fúnebre ecoar o céu cinzento do dia chuvoso que essa notícia carrega ao atingir cada um de meus colegas professores. Mas isso de maneira alguma precisa significar que a diversão acabou! Como disse um amigo meu em seu TCC: let the games begin.

Gameficação é uma das palavras do momento. Enfim educadores perceberam que transformar algumas aulas em jogos pode ser uma maneira divertida e ao mesmo eficaz para o aprendizado de nossos alunos, haja vista que a molecada adora um joguinho. Se for eletrônico então, com certeza os alunos vão se esquecer de tudo ao redor e a concentração estará 120% no videogame – falo por experiência própria, pois eu ouço reclamações similares da patroa quando jogo meu PS3. Usar videogames pode ser uma ótima experiência também para nossas aulas de inglês para podermos trabalhar a abordagem de project-based learning (PBL). Além de fazer os alunos trabalharem em longo prazo, com toda certeza eles ficarão motivados e empolgados para realizar a tarefa proposta.

O videogame per se não vai necessariamente ensinar inglês aos nossos alunos, a grande sacada de se usar jogos eletrônicos nas aulas de língua inglesa é fazer com que o aluno utilize o conhecimento da língua para que ele o aplique na hora de jogar, como apontado por James Paul Gee (2005). Em nosso curso online – ainda em fase de produção – falamos com detalhe sobre como elaborar atividades em PBL, mas vale ressaltar aqui a importância dos jogos eletrônicos para o aprendizado de nossos alunos. “Nothing happens until a player acts and makes decisions” (Gee, 2005: 34). Esse é o plano de fundo pras atividades que envolvem videogames e, mais precisamente, a aplicação de um PBL com esses jogos inclusive em sala de aula, isto é, fazer com que nossos alunos utilizem seu conhecimento em língua inglesa para tomar decisões, criar e desempenhar funções. Antes de conseguirmos aplicar um PBL, precisamos ter nossa estrutura de plano de aula bem consolidada em que o ambiente de comunicação em língua inglesa já seja normal aos nossos alunos para que a troca de informações e o compartilhamento de conhecimento aconteça. A língua é um tipo de conhecimento que adquirimos e a interação com outros alunos que estejam trabalhando em um projeto similar enriquece o processo de aquisição da língua conforme eles forem trabalhando em sala, que pode ser em dupla, trios ou grupos, depende do que você vai planejar em seu lesson plan.

Talvez você não tenha ouvido falar nesse jogo, mas certamente seus alunos já: Minecraft. Esse jogo tem atraído a atenção e o tempo da molecada e virou um big hit no mundo inteiro, inclusive entre alguns adultos. Minecraft é um jogo que está disponível para PS3, Xbox, smartphones, PCs e consiste em utilizar uma estratégia para se alcançar um objetivo pré determinado. Você precisa ir acumulando blocos diversos para criar um mundo que está dentro de sua imaginação e, de acordo com a estratégia oferecida pelo jogo (survival, creative, spectator, hardcore) você precisa construir coisas que o jogo determina para que você não seja derrotado. Em nossas aulas de inglês, podemos criar um projeto em que os alunos brinquem de Minecraft no modo survival e conforme o jogo vai oferecendo guias para que eles dêem continuidade no projeto, podemos trabalhar da seguinte maneira: explorar o léxico, ou seja, antecipadamente jogamos o jogo para conhecê-lo e anotar possíveis palavras para apresentar aos alunos na sala antes de começar o projeto. Quando eles se depararem com palavras que forem desconhecidas, eles pesquisam a definição e trazem para a sala de aula.

Também podemos trabalhar a fala dos alunos para que eles apresentem o que têm construído e o motivo de assim ter feito. isto é, a partir dessa apresentação, os alunos terão a oportunidade de utilizar palavras que eles já pesquisaram e de contar seus feitos no idioma alvo. Dessa maneira, teremos a motivação necessária que nossos alunos precisam para aprender inglês e o videogame se torna nosso aliado, sem contar que o jogo é bem interessante também. O viés educativo que Minecraft tem é tamanho que foi lançado recentemente o projeto Minecraft for Education com características especiais para serem utilizadas dentro da sala de aula e, por que não, em nossas aulas de inglês. No site, podemos encontrar outras ideias para serem replicadas ou melhoradas ou talvez ideias de aula de outras matérias que podem ser adaptadas às aulas de língua inglesa.

As férias estão acabando, mas a diversão pode e deve continuar. Surpreenda seus students com essa atividade de PBL com tecnologia envolvida já no começo do semestre. Eles vão curtir.

Tirando O Inglês Da Gaveta.

Em mais de uma década dando aulas de língua inglesa, já perdi as contas de quantas vezes ouvi pessoas (alunos, professores, coordenadores, propagandas, etc) falarem que fulano fala inglês bem ou mal. Quando comecei minha (super) carreira de professor eu não pensava sequer em me tornar um linguísta, mas sempre que ouvia algo daquele tipo, alguma coisa não me soava bem. Era como se a língua tivesse que ser realizada daquela maneira, caso contrário a pessoa seria queimada como faziam com as bruxas. Acho que não é bem assim.

Se pensarmos em termos fonéticos, claro que vamos encontrar uma linha média de pronúncia. O que viria ser essa linha média? Aquelas produções fonéticas que não causam confusão, ou seja, por mais que você seja de Piracicaba ou do Rio de Janeiro, de São Francisco ou do Texas, sua pronúncia não te levará a cair em um problema de par mínimo, isto é, aqueles pedacinhos do fonema que se forem trocados, vão formar palavras diferentes. Além de pares mínimos, podemos pensar no tema sotaque, característica extremamente regional. Inúmeras foram as vezes que ouvi alguém julgar a competência linguística em língua inglesa de uma outra pessoa por causa da pronúncia sendo que, algumas vezes, aquela produção fonética poderia ser resultado de uma exposição a um tipo de inglês desconhecido como o do norte da Inglaterra, o Escocês, Indiano, Sul Africano, etc. Contudo, dizer que uma pessoa “fala bem inglês” sob uma ótica pura e exclusivamente fonética pode dar piripaque.

Sintaxe… ah a sintaxe! Quem fez letras, como este que vos escreve, com certeza teve dias tenebrosos fazendo as árvores sintagmáticas para se analisar as estruturas frásicas. Acreditar que uma pessoa fala bem ou mal inglês em função da estrutura sintática que se é produzida é entendível, porém discutível. Se um aluno nosso produzir algo como podemos ver em (1), certamente diríamos que o aluno fala um péssimo inglês e chegaríamos a ter a pachorra de dizer que ele não é fluente se comparado com (2).

(1) *You’s cool, man.

(2) You’re cool, man.

Claro que nossa função como professores é mostrar aos nossos alunos a maneira canônica da língua vista em (2), mas julgarmos a produção de (1) como inglês péssimo e por isso não fluente é corroborar com uma visão gerativista de linguagem que, de fato, inconscientemente, atinge grande parte dos nossos colegas de profissão. Afinal, a língua não se desenrola como se fossem gavetinhas rotuladas dentro das quais só podemos colocar aquilo que está designado nos rótulos. Pode sim. Na verdade, isso vai acontecer e deve acontecer para que nossos alunos saibam explorar as nuances da linguagem e então se tornar um falante altamente competente uma vez que se terá uma pessoa capaz de se comunicar em qualquer tipo de contexto. Se reconhecermos que existem algumas comunidades de fala que apresentam frases como (1), como ‘he don’t work‘, entre outros, não passaremos vergonha ao corrigirmos nossos alunos precipitadamente e, até, de maneira esnobe, pois com certeza eles irão falar que ouviram isso vindo de um falante nativo e, pela lógica do aluno, eles têm maior credibilidade que nós. O fenômeno mais atual da língua inglesa no que tange estruturas sintáticas é o caso do I can’t even tendo even função de verbo. Isso não está na gavetinha correta hein.

Nós professores de língua inglesa precisamos dar amplitude à questão aquisição de linguagem (Rajagopalan, 1996), porque se continuarmos a engessar a produção linguística de nossos alunos, jamais iremos evoluir no quesito entendimento de linguagem de maneira geral e continuaremos com esse pressuposto preconceituoso que infelizmente assola as discussões de ensino de língua portuguesa ao não entendermos a língua como um organismo mutante carregado de proposições, ideias, pensamentos. Precisamos procurar entender onde nossos alunos querem chegar e mostrarmos as diversas maneiras de se atingir esse objetivo nos mais sortidos contextos. E você, teacher… deixa seu inglês fora da gaveta?

Around The World With English Language

Getting around to world to know it. Knowing that chopsticks are the silverware in Japan, that India has a religious perspective different from ours, knowing that Germany was once divided by a wall, that Brazil (our land) has states with no beaches. All this info play an important role in the acquisition process of a second language and having students without access to that knowledge or maybe not motivating them to acquiring such knowledge contributes to a poor performance from Brazilian students with regard to English as a second language. It’s time to make a change.

You might ask me ‘what’s the relation between learning English and knowing that Finland can go through a 6-month period without a blue sky’? Well, all possible. Starting from the awareness that the world is bigger than the community where our students live, that in certain places they may find different people speaking different languages. Thus, understanding that there places where people refer to something they liked using an expression other than ‘que da hora’ is fully relevant for ESL classes and the upcoming book of Professor Cláudia Zuppini for teachers development has an entire chapter about it. For our students with a better performance in English – or maybe those who have a clearer understanding of the language – language transfer is easier when learning that ‘que da hora’ is equivalent to ‘that’s awesome’ in English as it was mentioned before in our article about the use of native language in ESL classes. bur for the students who are still taking the first steps of the second language acquisition path – our younger students – our job finds obstacles for they don’t have the cultural knowledge yet due to their early age and sometimes the socio-financial situation of our students don’t allow the blooming of such knowledge. Thus, we teachers have double work: ring the students the cultural knowledge and turn it into linguistic knowledge, have them understand that the world is gigantic and that learning English as a second language will make the world just as close as our noisy neighbor.

How to bring together all the places of this planet and have them be close to our students given the difficulties our students have to travel and get to know the Eiffel Tower, for instance? Super easy. All it takes is a cardboard and a cutting-edge technology of virtual reality. Google has been invested in its educational department and it has just released the Expeditions, a virtual reality cardboard that let students “visit” any place in the world. Let’s try to come up with an activity for students of the first grades of elementary. The main goal here is to make students talk (of course that reading and writing are also important), so if we use this device and send our kids out in field trip to NY’s zoo, we are going to work on the acquisition of new vocabs, but in a very contextualized manner and also inserted in the syntactic structure. we can divide the class in two parts – since English classes in Brazil take place once or maybe twice a week and last 50 minutes in the average. In the first class of the week we can use our time to use the first two Ps: Presentation so we present what is new which is in our example here names of animals and sounds they produce. Then, the students can Practice with the assistance of flashcards and guidance from the teacher when they’ll tell the names of the animals they see and also the sound they make, all that in the target language. So far, everything looks simple and trivial. In the Performance phase, during the second class of the week, Google Expeditions comes in. After the presentation phase, have students “visit” NY’s zoo so that they know the animals from all parts of the world and later on present to the class the coolest animals and their sounds. as a follow-up activity, the teacher can compare the sounds animals make in Brazil with the ones in English.

The world is really big and we must try to show it the most we can to our students. Knowledge beyond community stimulates them to communicate, besides giving the students information that there are languages other than that they speak, and with regard to English, it is an international language. Travelling around the world is an impossible task to perform with all our students, but technology has come to our help. Have the students get acquainted with other cultures, it will trigger a global awareness that will definitely enhance the acquisition process of a second language.

Well-Structured Classes Give You Wings

I have already mentioned in previous articles the importance of having a 3P structure for our lesson plan, but I have never dove into this issue because otherwise we would turn a simple 500-word article into a book. However, it is possible to detail this structuring through Lecercle’s speaker/listener system and how it promotes autonomy of our students – because autonomy.

Lecercle’s communication structure (1999) establishes that a speaker utilizes cognition to organize utterances and then produce them. All this linguistic information – phonetic combination, syntactic structure, lexical choices, intention, etc – reach the listener who has the role of decoding what is being spoken, understand the information and formulate his own reply once is his turn to talk. This system turns listening into an active skill and we can do the same with our students in the classroom (that’s why I insist in saying that teacher have to develop their lesson plan and not only lean on textbooks). Making our students listen and speak gives them an opportunity to use their higher functions (cognition) to make out what is being said to them and also it allows them to produce and such production is the main step to have them work freely.

The deal here to make our students have more and more autonomy, which here is the use of English to perform tasks, is to develop our lesson plan very well and carefully. Brazil is still at the baby-step phase with regard to the implementation of student-centered culture, but we English teachers can start promoting it and dividing our classes in sections Presentation, Practice, Performance makes the assignment of this freedom to do their activities more natural and these activities are going to be developed to meet the needs of our students. In order to shorten this article and not make you doze off or lose interest and turn on the TV – I myself do doze off when texts are too long – I’m going to put the highlight on the last P, Performance. This is the phase that we teachers worry about having our students work freely. Debates, role plays, games are some of the tasks that promote students’ autonomy for, in a drilling phase, we can challenge our students with tasks which communication in the target language is essential for the activity to be successful. Our role then is to pay close attention at our students’ performances (remember that the grouping and pairing them up facilitates) without any sort of interference. After all, we seek student autonomy and having them talk, listen, understand and solve problems is our goal. If we put our hands in it, we break the whole purpose of the activity.

We sure talked about only a chunk of our lesson plan and many other things can be done in the other P-sections of our classes. However, what matters is that we create activities that are relevant and promote autonomy by speaking the target language (English in this case). This will only happen if we prepare our classes, if we teachers leave the status quo and try to commit to developing our lesson plans. The activities will certainly be positive more often for nobody knows students better than the teachers.

We’re Not Robots

Me lembro que anos atrás uma propaganda de algum centro de idiomas brincava com outra rede sobre o fato de os alunos ficarem repetindo coisas feito papagaios, mecanizados. De fato, essa metodologia neurolinguísta tem suas vantagens, mas o processo de aquisição de linguagem precisa de mais. Nós aprendemos e desenvolvemos nossa fala através de repetição, imitação do que adultos falam sem necessariamente sabermos se é possível estender aquele padrão para outros exemplos da língua. Crianças fazem isso até seus 5 anos de idade em média e jovens adultos que aprendem uma língua estrangeira também apresentam o mesmo comportamento. Mas nós não somos robôs.

O que acontece com crianças e alunos de inglês como língua estrangeira é que frases formuladas são ensinadas e entendidas, no entanto nossos alunos tendem a querer utilizar o mesmo padrão linguístico para criar outras respostas. Ou seja, os alunos entendem perfeitamente a intenção comunicativa daquela frase fixa, mas eles têm tendência de querer entender as características comunicativas de cada elemento da frase e por isso vão, através de tentativa e erro,  migrando esses elementos para suas produções diversas até que eles recebam um feedback positivo e aprendam a forma mais apropriada, caso haja uma. Vamos ver se conseguimos ilustrar o que nossos alunos fazem e vejam se vocês reconhecem esse tipo de comportamento e se já passaram por algo do tipo.

(1) Thank you.

(2) Don´t mention it.

O que temos em (1) e (2) são pares comunicativos comuns de agradecimento e reconhecimento. Porém, o que nossos alunos, sejam eles crianças e adultos (menos em adultos), vão tentar fazer é entender cada elemento frásico e utilizá-los, de alguma maneira, em outros contextos que talvez não sejam adequados. Por exemplo, pode ocorrer a associação de que mention seja sinônimo de say e então pode causar confusão quando nosso alunos quiserem agradecer como podemos ver em (3) e (4).

(3) Thanks.

(4) #Don’t say it.

Ok. Repetir feito papagaios não é legal só que também não podemos nos esquecer de que o tempo de aula é bem reduzido. Como trabalhar, então, expressões linguísticas fixas tipo thank you, how are you doing, long time no see you, etc? Vamos ver se a gente consegue desenvolver uma prática legal então. Podemos utilizar fotos ou figuras de pessoas famosas variando entre políticos, artistas da TV e cinema, cantores para serem utilizadas no começo da aula no momento do aquecimento (warm up) para que nossos alunos digam quem são, o que fazem e percebam a importância de posição que cada um possui. Com isso, passamos delicadamente a noção de formalidade. Para trablharmos  o par thank you/you’re welcome e suas variáveis, induzimos o aluno a produzir o que ele já sabe para agradecimentos: pressupondo conhecimento para you’re welcome. Então oferecemos uma nova maneira com don’t mention it e passamos para a fase de prática.

Para fazer nosso alunos praticarem, podemos separá-los em duplas e, através de uma pré-produção colando fotos de rostos de pessoas famosas embaixo das carteiras dos alunos, diga para eles colocarem as “máscaras” e peçam coisas uns aos outros. Assim eles vão se divertir e praticar sem parecerem robôs. Caso algum aluno faça confusão, como no caso que mencionei no começo deste texto, estaremos atentos para que os alunos não produzam de maneira mecanizada. Afinal, o único robô que consegue falar a mesma coisa por anos e fazer sucesso é o exterminador do futuro em seus filmes.

Volta Ao Mundo Com A Língua Inglesa

Conhecer o mundo. Saber que no Japão existem dois pauzinhos para comer, saber que a Índia tem um ponto de vista religioso diferente do nosso, saber que a Alemanha já foi dividida por um muro, saber que no Brasil (sim, nossa casa) existem estados sem praia. Todas essas informações interferem no processo de aquisição de língua estrangeira e termos alunos sem acesso a esse conhecimento ou não motivá-los a buscar adquirir esse conhecimento contribui, negativamente, com o desempenho muito fraco dos alunos brasileiros em língua inglesa. Chegou a hora de mudar isso.

Vocês podem me perguntar “qual a relação entre aprender inglês e saber que a Finlândia pode passar 6 meses sem céu azul”? Toda. Começa pela conscientização de que o mundo é maior que a comunidade em que o aluno vive, de que existem lugares em que as pessoas são diferentes e que falam línguas diferentes. Portanto, saber que em outros lugares, pessoas não falam “que da hora” como referência a algo muito legal tem total relevância com o ensino de inglês e o próximo livro da Professora Cláudia Zuppini para formação de professores vai abordar esse tema. Pros alunos que têm a língua inglesa mais consolidada – ou àqueles que têm um pouco mais da noção da língua – fica mais facilitado o trabalho de se transferir o “da hora” pra “that’s awesome” conforme falamos no artigo sobre uso da língua materna no ensino de inglês. Mas para os alunos que ainda estão iniciando o caminho da aquisição – nossos alunos mais novinhos – nosso trabalho complica, pois eles não possuem tal conhecimento do mundo em função da pouca idade e, às vezes, o fator socio-econômico não permite que esse conhecimento desabroche. Portanto, precisamos fazer dois trabalhos em um: levar aos alunos o conhecimento de mundo e transformá-lo em conhecimento linguístico, fazer com que eles, desde pequenos, saibam que o mundo é gigantesco e que saber a língua inglesa pode tornar nosso planeta tão próximo quanto aquele vizinho barulhento.

Como fazer com que os lugares do mundo fiquem próximos de nossos alunos sendo que é complicadíssimo fazer com que todos eles vejam e conheçam a Torre Eiffel, por exemplo? Fácil! Bastam uma cartolina e uma tecnologia de realidade virtual de ponta. O Google tem investido bastante na sua área educacional e acabou de promover o Expeditions, cardboard de realidade virtual em que os alunos conseguem “visitar” qualquer lugar do mundo. Vamos pensar em uma atividade com nossos alunos do Ensino Fundamental I. O grande objetivo de nossas aulas de inglês é fazer com que os alunos falem (claro que a leitura e a escrita também são muito importantes), então se usarmos essa tecnologia e mandarmos a criançada fazer uma expedição ao zoológico de Nova Iorque, trabalharemos a aquisição de novos vocabulários, mas de maneira bem contextualizada e inseridos na estrutura sintática da língua inglesa. Podemos dividir a aula em duas – uma vez que as aulas de inglês não têm incentivo e sua carga horária é pífia. A primeira aula, podemos usar o tempo para os dois primeiros Ps: presentation, para apresentar o conteúdo que, no caso são os animais e seus sons. Depois os alunos podem praticar com a ajuda de flashcards mostrados pelo professor em que eles dizem os nomes dos animais com os sons que cada um faz, claro, em inglês. Até aí tudo muito simples e até trivial. Pois é na fase de Performance, durante a outra aula da semana, que o Google Expeditions entre em destaque. Após a aula de apresentação de alguns animais e sons que eles produzem, peça aos alunos para “visitarem” o zoológico de Nova Iorque para conhecer os mais diversos animais do mundo e apresentar pra turma os animais mais legais e os sons que eles fazem e como follow-up, o professor pode oferecer nessa atividade é comparar os nomes dos sons dos animais do Brasil com as onomatopeias na língua inglesa.

O mundo é grande e precisamos tentar mostrar o máximo que pudermos aos nossos alunos. O conhecimento além comunidade em que eles vivem, além de mostrar que existem outras línguas, estimula os alunos a se comunicarem e, no caso do inglês, além de ser uma das línguas com as quais os alunos podem ter contato, é um idioma internacional. Viajar pelos quatro cantos do mundo é impossível com todos nossos alunos, mas a tecnologia veio para ajudar. Façam seus alunos conhecerem outras culturas, isso vai despertar uma conscientização global neles que vai ajudar no processo de aquisição de língua estrangeira.

Aulas Bem Estruturadas Te Dão Asas

Eu já comentei em outros artigos sobre a importância de se aderir a estrutura dos 3Ps na realização do lesson plan, mas nunca fui mais ao fundo nesse assunto porque senão isto não seria um simples artigo de 450, 500 palavras, mas sim um livro. No entanto, é possível detalhar essa estruturação com o sistema locutor / inerlocutor de Lecercle e como isso promove a autonomia de nossos alunos – afinal a moda outono / inverno de 2015 é a autonomia.

A estrutura de comunicação de Lecercle (1999) prevê que um locutor utilize sua cognição para organizar sua fala e produzi-la. Toda essa informação linguística – combinação fonética, estrutura sintática, escolha lexical, intenção, etc – chegam até o interlocutor que tem a função de decodificar o que está sendo falado, entender a informação e formar sua réplica assim que chega sua vez de falar. Todo esse sistema transforma o listening em uma habilidade ativa e podemos fazer o mesmo com os alunos em sala da aula (por isso sou insistente em dizer que os professores façam seu plano de aula e não se debrucem em materiais didáticos). Fazer com que os alunos escutem e produzam oferece oportunidade para que eles utilizem suas funções superiores (cognição) para entender o que está sendo falado com eles e produzam, e essa produção é o passo principal para, cada vez mais, fazer com que os alunos tenham liberdade para trabalhar.

A grande sacada para fazermos com que nossos alunos tenham mais e mais autonomia, e autonomia aqui me refiro à utilização da língua inglesa para desempenharem tarefas, é estruturar bem a aula. O Brasil está engatinhando na implementação da cultura student-centered, mas podemos começar a promover essa ideia e a estruturação das aulas em Presentation, Practice e Performance deixa natural a atribuição da liberdade para os alunos realizarem suas tarefas que serão desenvolvidas para atender suas necessidades. Para não deixar este texto muito longo e correr o risco de fazer você dormir ou perder o interesse e ligar a TV – eu, pelo menos, morro de sono quando textos que não são acadêmicos são longos – vou colocar o holofote sobre o último P, a Performance. Essa fase é o momento em que nós professores nos preocupamos em fazer os alunos trabalhar livremente. Debates, role plays, games, etc, são algumas das tarefas que promovem autonomia dos alunos pois, após uma fase de prática, podemos oferecer desafio aos alunos com tarefas em qua a comunicação em inglês seja primordial para que a atividade tenha êxito. Nosso papel nesse momento é prestar atenção no rendimento dos alunos (importante ressaltar que a divisão em grupos, trios ou pares facilita) sem interferência. Afinal de contas, buscamos autonomia e deixar que os alunos falem, ouçam, entendam e resolvam o problema proposto é o objetivo. Se interferirmos, quebramos o propósito.

Claro que abordamos somente um pedaço do lesson plan e muitas outras coisas podem ser feitas nos dois primeiros Ps da aula. No entanto, o que importa é criarmos atividades que sejam relevantes e promovam a autonomia dos alunos na utilização da língua inglesa. Isso só vai ocorrer se tivermos um roteiro pronto, se nós professores sairmos do status quo e tentarmos nos dedicar a fazer os planos de aula, certamente as atividades serão mais frequentemente positivas, pois ninguém conhece melhor o alunos do que o próprio professor.